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Aramis

Um deserto cultural neste quente janeiro

A Fundação Teatro Guaíra vem anunciando, de todas as formas - releases, na edição da programação de dezembro (agora impressa em papel caríssimo, formato de poster e com patrocinio de uma joalheria), de que "assim como os teatros do mundo inteiro, Guaira também fecha para revisão: Janeiro/84". Muito bem: Informar é obrigaçao de uma instituição que pretende ser cada vez mais democrática. Mas fazer alegações mentirosas não é correto. Não existe nada que prove de que "a exemplo dos grandes teatros mundo inteiro, com medida técnica e de segurança - recomendada pela convenção internacional que rege as grandes casas de diversão", seja verdade. Cada teatro faz na manutenção quando acha mais conveniente, de preferência sem interromper por longo tempo suas atividades. A idéia de paralisar completamente as atividades dos três auditórios da FTG foi uma das mais infelizes da diretoria anterior, que, na verdade, oficializou o que de fato acontecia, desde quando Sale Wolokita deixou a superintendência (1975). Sempre foi discutível se é justo com a população, considerando que apenas uma minoria de previlegiados desfruta de férias cada vez mais onerosas, eliminar-se totalmente a programação em janeiro. A Fundação Cultural de Curitiba também seguiu o (péssimo) exemplo e seus passos estão paralizados. Pode-se alegar falta de público, de interesse dos empresárias de ocupar os auditórios, enfim, muitas desculpas .... Mas não seria o caso dos milhões de cruzeiros torrados na fracassada campanha da Kombi, realizada (ao menos em Curitiba) de forma clandestina, sem qualquer divulgação, por culpa da Associação dos Produtores Teatrais, tem sido concentrada nos meses de janeiro e fevereiro, realmente democratizando os espetáculos montados? A diretoria da FTG, que tanto alarde fez do público que conseguiu levar ao seus uditórios - conseqüência normal de espetáculos a preços reduzidos e do aumento da população - poderia encontrar uma forma de não contribuir ainda mais para o deserto de opções de lazer e atividades artísticas na qual Curitiba se transforma nos dois primeiros meses do ano. A programção dos cinemas é denominada pelo chamados filmes "Dente de Leite", de censura livre e ao público adulto, interessado em preencher com programas inteligentes o seu tempo livre, resta raras oções. Por exemplo, um filme húngaro como "A Doutrinção de Vera", que apesar de ter méritos não chega a ser excelente, transformou-se no melhor programa ganhando uma terceira semana de exibição, tendo como complemento o premiado desenho "MIOW". A propósito: hoje a meia noite amanhã as dez horas, no Groff, reprise de um dos melhores filmes políticos realizados pelo cinema italiano nos últimos anos: "O Caso Mattei", com Gean-Maria Volonté. xxx O ex-deputado Adalberto Darus ficou praticamente sem dormir na noite de segunda-feira, aguardando a chegada, de São Jerônimo da Serra, do seu amigo, Mathias Junior, para juntos viajarem a São Paulo onde foi sepultada a deputada Ivete Vargas. Também o ex-deputado Hamilton Vilela Magalhães, outros dos petebistas fervorosos do Paraná, foi ao enterro da presidente do PTB. Com a morte de Ivete, Adalberto externou um raciocínio lógico: - Acho que agora, nada impedirá a fusão do PTB e PDT, para que tenhamos um terceiro grande partido no Paraná: xxx Claúdio Pinto, assessor de imprensa de Embrafilmes, continua dando exemplo de como se pode municiar bens os veículos com notícias de interesse. Ainda agora, distribui auspicioso release, informando que participando este ano de 64 eventos intenacionais, entre festivais, mostras e reprospectivas em todo os cinco continentes, o cinema brasileiro conquistou 24 premiações no Exterior, além de fechar o ano com um saldo comercial de 1 milhão e 700 mil doláres. Esta trajetória internacional prossegue em janeiro, desde a última segunda-feira, dia 3, com a participação de três filmes nacionais no festival Filmostav 84, em Bombain, Índia: " Sargento Getúlio" de Hermano Penna, "Prá Frente Brasil" de Roberto Fartas (que será reprisado no Groff, a partir do próximo dia 3) e "Eles Não Usam Black Tie", de Leon Hirzman. xxx O jornalista Eddy Antonio Franciose consegue fazer da "indústria" mais que um jornal de interesse exclusiva da entidade que patrocina - a Federação das Indústrias do Estado do Paraná. O número de dezembro, agora circulando, traz como matéria de capa uma análise sobre "os pacotes que abalaram o Brasil", seguido de um resumo empresarial de 1983. Homem de teatro e cultura, Eddy não deixa de abrigar noticiário a respeito em três páginas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
07/01/1984

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