Um encontro com o grande Calado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de junho de 1987
Entre as pessoas que, hoje à noite, estarão na primeira fila do anfiteatro da Universidade Católica, para saborear o "Encontro Marcado" com o jornalista e escritor Antonio Calado, uma presença é a do professor Edson Costa. E, se animar-se a fazer indagações ao autor de "Bar Dom Juan" a respeito de sua obra, Costa poderá colocar interessantes questões: afinal conhece a fundo a sua obra. Edson Costa apresentou como dissertação de doutorado, na Universidade de São Paulo, uma tese sobre o mais famoso romance de Calado - e que agora, com o título de "Quarup - Tronco e Narrativa", será uma das próximas publicações da Editora da Universidade Federal do Paraná.
Assim como Edson Costa, centenas de pessoas que acompanham o jornalismo e a literatura brasileira têm o maior respeito e admiração por Antonio Calado, fluminense de Niterói, 70 anos. Como jornalista, participou de um período áureo da imprensa carioca, redator-chefe do "Correio da Manhã", entre 1954/59 e, nos tormentosos dias de 1964, quando o matutino de Niomar Muniz Sodré, a partir de 1º de abril, foi o ponto de resistência ao golpe militar e que custou, poucos anos depois, o fechamento do jornal, além da perseguição e prisão de grande parte de seus redatores.
Como romancista, a criação de Antonio (Carlos) Calado só tem crescido em qualidade: "Assunção de Salviano" (1954), "A Madona de Cedro" (1957), "Quarup" (1957), "Reflexos do Baile" e "Bar Dom Juan", entre as obras mais recentes. Atualmente, escreve no mais absoluto silêncio, sem revelar nada nem aos seus maiores amigos, um romance com toque autobiográficos, reportando-se ao período em que trabalhou na B.B.C., em Londres (1942/44) - antes de sua temporada na Radiodifusão Francesa (1944/46).
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Calado integra a geração dos grandes repórteres políticos do Brasil, com uma integridade e independência que lhe tem custado pesados sacrifícios. Em 1957, lançava "O Esqueleto da Lagoa Verde", seguido de "Os Industriais da Seca" e "Os Galileus de Pernambuco" (1959).
Há duas semanas, ao lado do jornalista Arakem Távora, coordenador do projeto "Encontro Marcado", promoção da IBM, esteve em Recife, ocasião em que reviu seu amigo Miguel Arraes, sobre quem, há 22 anos, publicou o livro "Tempo de Arrais".
O teatro também tem sido um campo ao qual Calado se dedica eventualmente: se "O Fígado de Prometeu" (1951) permanece inédito, "Pedro Mico" (1956) ganhou dezenas de montagens e, há 4 anos, foi levado ao cinema por Ipojuca Pontes, com Teresa Rachel e Edson Arantes do Nascimento no personagem título. De princípio, Calado não acreditava em Pelé como ator, mas após ver o filme admitiu que "é um razoável intérprete". Apesar da fama de Pelé, até hoje a Embrafilme não lançou o filme que permanece inédito em quase todos os Estados.
"Quarup", há 20 anos é um desafio a muitos cineastas e inclusive Glauber Rocha (1938-1981) chegou a planejar sua transposição ao cinema. Em 1968, Carlos Coimbra, 62 anos, filmou "A Madona de Cedro", com Leonardo Villar e Leila Diniz - rodado em Congonhas do Campo, Minas Gerais, em ritmo policial.
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Pela multiplicidade de sua obra e grandeza de suas oposições políticas e filosóficas, Antonio Calado tem, por certo, muito a dizer hoje, no reinício do projeto "Encontro Marcado" em Curitiba. Antes, às 15 horas, estará na Biblioteca Pública do Paraná, também abordando aspectos de sua obra - então no aspecto mais literário.
Amanhã, "Encontro Marcado" - que tem patrocínio da IBM Brasil - tem uma característica mais política e contemporânea: Fernando Gabeira, que hoje se encontra em Florianópolis, estará falando de suas experiências de guerrilheiro urbano dos anos 60, criador do Partido Verde no Brasil e completando com lembranças de sua campanha ao governo do Rio de Janeiro, no ano passado, pela coligação PT/PV, e que relata em "Diário da Salvação do Mundo" (1987,212 páginas, editora Espaço e Tempo) - que, naturalmente estará autografando no anfiteatro da Universidade Católica.
Pena que o governador Álvaro Dias não tivesse encontrado tempo para almoçar com Gabeira: há uma semana, ele já manifestou "total interesse" em trocar idéias sobre a realidade política brasileira. Álvaro perde assim uma boa oportunidade para conhecer melhor o pensamento do líder nacional do Partido Verde, que está subindo bastante junto aos eleitores jovens.
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