"&", um jogo-texto do gaúcho criativo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de setembro de 1986
Há duas décadas e meia, o francês Alain Robbe-Grillet - que se tornou conhecido no Brasil pelo roteiro de "O Ano Passado em Mariembad" (realizado por seu amigo Alain Resnais), propunha dentro da revolução do Noveau Romain [ Nouveau Roman] um livro com páginas soltas, podendo ser lido sem uma ordem tradicional. Mais tarde, outros autores - inclusive os argentinos Borges e Cortázar - também fizeram outras experiências na mesma linha, propostas que justificam até hoje milhares de páginas interpretativas dos Scholars mais respeitados da literatura mundial.
Agora um gaúcho, de algumas relações paranaenses, Jorge Rein, surpreendeu na recente 9ª Bienal Internacional de Livro, em termos de proposta literária. Um livro (?) intitulado simplesmente "&" e no qual Rein desenvolveu "não um livro, mas é para ler, não um baralho, mas é para jogar, um jogo cujas regras indispensáveis são a emoção e a inteligência" - como diz o editor Ayrton Ortiz.
São páginas soltas numa caixa que funcionam como fichas isoladas podendo-se lê-las em qualquer ordem. Assim "&" oferece uma infinidade de combinações para o leitor descobrir.
Além do texto, fazem parte do jogo belíssimas ilustrações de Anico Herskovits (considerada a principal artista plástica brasileira) no ramo da xilogravura, funcionando tanto individualmente quanto em conjunto.
O autor narra a história de um circo, construindo-a de forma não menos circense. Passamos da retaguarda com uma criação absolutamente original, perto da qual a maioria dos livros parecerá obtusa e arbitrária.
O livro tem uma tiragem limitada de apenas mil exemplares, numerados, sendo que destes 100 exemplares são ilustrados manualmente (e vendidos ao preço de Cz$ 5 mil a unidade). Nos demais 900 exemplares (Cz$ 250,00 cada) as xilogravuras são impressas.
LEGENDA FOTO - Uma das gravuras de Aniko Herskovits no livro-baralho-jogo "&", o mais original lançamento editorial do ano.
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