O Jogo-do-Bicho
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de julho de 1974
Uma obra póstuma do escritor Malba Tahan, com os originais nas mãos do editor Faruk El Khatib, da Grafipar, faz a primeira análise científica de um dos mais populares divertimentos do povo brasileiro: "O Jogo-do-Bicho à Luz da Matemática". Com o admoestador subtítulo de "Uma Vergonha Nacional", o trabalho do professor Julio Cesar de Mello e Souza (1895-1974), que se consagrou escrevendo com o oriental pseudônimo Malba Tahan, é um estudo matemático do jogo diário de milhões de brasileiros, vício dominador e irresistível que nasceu no Rio de Janeiro em 1893 e oito anos depois já estava em toda parte. Com sua clareza didática, Malba Tahan analisa o Jogo do Bicho com precisão matemática "procurando apresentar tudo sob uma forma bastante simples e elementar, com os recursos das quatro operações", esclarecendo e demonstrando, "na base do número", os vários aspectos do jogo inventado pelo Barão de Drummond, João Batista Viana de Drummond, fundador e proprietário do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Tudo começou quando foi cortada a subvenção oficial que o auxiliava na manutenção dos animais e o Barão aceitou a sugestão de um mexicano, Manuel Ismael Zevada, e inaugurou, em princípios de 1893, o jogo do bicho do Zoo carioca. Comprando um ingresso de mil réis, ganhar-se-iam 20 mil réis, se coincidisse o animal desenhado no bilhete ser o mesmo que seria exibido num quadro, determinadas horas depois. O Barão de Drummond fizera pintar 25 animais, a cada tarde um quadro subia, mostrando o bicho vitorioso. Os ingressos que tivessem o animal desenhado davam direito aos 20 mil réis. O jogo agradou e uma multidão ia ao Zoológico exclusivamente para comprar bilhetes e esperar a sorte. Espalhou-se pelo povo, tornando-se um hábito. Anos depois, o Barão não mais possuía o monopólio, proibido o jogo no Zoo, mas centenas de banqueiros vendiam as poules com os números referentes aos 25 bichos dadivosos. Derramou-se o jogo do bicho por todo o território nacional, avassaladoramente, como uma inundação e todas as tentativas policiais de acabar com o mesmo nunca obtiveram resultado total. De forma que após
estudar o assunto profundamente, o autor de "Mil Histórias Sem Fim", que em suas obras sempre relacionou a matemática de uma forma agradável e comunicativa, elaborou um livro interessantíssimo a respeito, que, entregue ao seu amigo Faruk El Khatib, se afigura agora como uma obra póstuma - capaz de se tornar um best-seller nacional.
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