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Aramis

O Jogo-do-Bicho

Uma obra póstuma do escritor Malba Tahan, com os originais nas mãos do editor Faruk El Khatib, da Grafipar, faz a primeira análise científica de um dos mais populares divertimentos do povo brasileiro: "O Jogo-do-Bicho à Luz da Matemática". Com o admoestador subtítulo de "Uma Vergonha Nacional", o trabalho do professor Julio Cesar de Mello e Souza (1895-1974), que se consagrou escrevendo com o oriental pseudônimo Malba Tahan, é um estudo matemático do jogo diário de milhões de brasileiros, vício dominador e irresistível que nasceu no Rio de Janeiro em 1893 e oito anos depois já estava em toda parte. Com sua clareza didática, Malba Tahan analisa o Jogo do Bicho com precisão matemática "procurando apresentar tudo sob uma forma bastante simples e elementar, com os recursos das quatro operações", esclarecendo e demonstrando, "na base do número", os vários aspectos do jogo inventado pelo Barão de Drummond, João Batista Viana de Drummond, fundador e proprietário do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Tudo começou quando foi cortada a subvenção oficial que o auxiliava na manutenção dos animais e o Barão aceitou a sugestão de um mexicano, Manuel Ismael Zevada, e inaugurou, em princípios de 1893, o jogo do bicho do Zoo carioca. Comprando um ingresso de mil réis, ganhar-se-iam 20 mil réis, se coincidisse o animal desenhado no bilhete ser o mesmo que seria exibido num quadro, determinadas horas depois. O Barão de Drummond fizera pintar 25 animais, a cada tarde um quadro subia, mostrando o bicho vitorioso. Os ingressos que tivessem o animal desenhado davam direito aos 20 mil réis. O jogo agradou e uma multidão ia ao Zoológico exclusivamente para comprar bilhetes e esperar a sorte. Espalhou-se pelo povo, tornando-se um hábito. Anos depois, o Barão não mais possuía o monopólio, proibido o jogo no Zoo, mas centenas de banqueiros vendiam as poules com os números referentes aos 25 bichos dadivosos. Derramou-se o jogo do bicho por todo o território nacional, avassaladoramente, como uma inundação e todas as tentativas policiais de acabar com o mesmo nunca obtiveram resultado total. De forma que após estudar o assunto profundamente, o autor de "Mil Histórias Sem Fim", que em suas obras sempre relacionou a matemática de uma forma agradável e comunicativa, elaborou um livro interessantíssimo a respeito, que, entregue ao seu amigo Faruk El Khatib, se afigura agora como uma obra póstuma - capaz de se tornar um best-seller nacional.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
07/07/1974

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