Um Kikito para Severo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de junho de 1988
Como a transmissão pela televisão (Canal 2) em Curitiba foi prejudicada pelos intervalos comerciais que contaram os detalhes da cerimônia de entrega das premiações em Gramado, os muitos amigos e familiares de Fernando Severo, não viram o seu momento de glória: quando Antonio Pitanga abriu os envelopes dos realizadores dos melhores curtas, Severo subiu, naturalmente emocionado, ao palco: recebeu o Kikito de melhor roteiro por "O mundo perdido de Kozak" - que na pronúncia de Pitanga parecia "Kojak" e provocou risos - o que levou Severo corrigir o nome e informar que se tratava de um pioneiro do cinema antropológico no Brasil, morto, esquecido, há 17 anos, em Curitiba.
Foi o momento de destaque para o cinema paranaense - infelizmente sempre inexpressivo em Gramado, ao contrário dos gaúchos que hoje formam o 3o. pólo da produção cinematográfica e deram mais uma prova de talento concorrendo com seis curtas, dois deles na categoria nacional e obtendo premiações para "Vicious" (montagem), e dividindo a maioria dos Kikitos entre "A hora da verdade" (fotografia, Roberto Harkim, dividido com Tony Rabatano por "353") e, especialmente "Barbosa" ganhou ainda o prêmio de montagem (Giba Assis Brasil), enquanto outra produção gaúcha, "A voz da felicidade", Nelson Nadotti, ficou como melhor filme, ator (Pedro Santos) e atriz (Isabel Ribeiro). O paulista Cecilio Neto, tratando com humor e ironia um tema difícil (o suicídio), os prêmios de direção, roteiro e fotografia (Joel Alves Lopes).
Um belo filme sobre o cinema - que merecerá um comentário a parte - "Mais Luz", do paulista Reinaldo Pinheiro, ganhou menção especial do júri, enquanto no júri popular, o premiado foi a verdadeira superprodução, com um elenco all-star, que a carioca Betse de Paula (filha do cineasta e produtor Zelito Mendes, irmã do ator Marcos Palmeira) realizou com Cz$ 6 milhões - satirizando a burocracia a partir de uma pesquisa que uma jovem repórter (Silvia Buarque) tenta realizar numa repartição pública. "Por dúvida das vias", a exemplo do curta anterior da mesma diretoria ("S.O.S Brunett", apresentado em vários festivais em 1987) tem um grande mérito: quando for exibido no circuito comercial agradará as platéias, o que dificilmente acontece com a produção em curta que é programada por força da lei, em complemento aos filmes estrangeiros.
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