Um livro que virou música
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de setembro de 1989
"Flicts" transformou-se em música há nove anos. Na época do lançamento do elepê (Philips, há anos fora do catálogo), Ziraldo, entusiasmado, dizia:
- "Graças ao trabalho de meu amigo e compadre Sérgio Ricardo - modéstia a parte um dos compositores mais inspirados de nossa música brasileira - eu sou o primeiro autor do Brasil a ter um livro assoviável. E esta é a primeira vez que um livro é musicado da primeira à última palavra".
Sérgio Ricardo, por sua vez, dizia:
-"As palavras de Ziraldo já eram musicais. Bastava lapidá-las até o som. Mas em que tom? Se tratava de musicar um livro onde a criança é tratada de igual para igual. De homem pra homem. Sem concessõezinhas vulgares. Por isto optei pelo tom mais próximo a minha vivência para não poupar emoção. E cai no FLICTS favelado-povão-bóia fria-retirante-metalúrgico, estudante-artista-negro-mulher".
Na concepção musical de Sérgio Ricardo, a história da cor mais solitária do mundo e de sua procura em cada praça e jardim, rua e esquina, de alguém para ser companheiro, amigo ou irmão, nasce no choro, engatinha na marcha rancho, cavalga em caatingas violeiras, navega em porões, patéticos, procura em valsa e batuque e cai na revolta do samba.
O disco foi produzido por Sérgio Cabral e as vocalizações foram dos dois grupos vocais mais importantes na época (e que continuam, felizmente, em atividade): o MPB 4 e o Quarteto em Cy (Sérgio participou também de duas faixas, "Frases Curtas" e "A Modinha da Lua"). Esta gravação original é a que será utilizada na montagem do Ballet Guaíra. Só que por uma razão técnica, como complemento de tempo de algumas coreografias, se ouvirão também rápidas interpretações do grupo mineiro Uakti e dos instrumentistas Carlos Paredes, Sylvio Guarda e Jean-Pierre Drovet.
Enviar novo comentário