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Aramis

Um [Sôco] no [estômago] (No mundo de 2.020)

Uma coisa é segura: raro p espectador que após assistir "No Mundo de 2.020" não sente uma sensação como se tivesse levado um sôco no estômago. Pois desta vez a Ficção Científica é quase uma profecia do que pode(rá) acontecer ao mundo, caso os homens lúcidos que clamam nos vários países contra os períodos da poluição e da superpopulação não forem ouvidos e a humanidade não se conscientizar da necessidade e colocar as coisas em ordem, deixar de poluir rios e mares, destruir a vida animal e vegetal e, principalmente, partir para o planejamento familiar. "No Mundo de 2.020" é um filme imensamente rico em suas proposições, abrindo várias frentes para debates e análises - sendo apenas lamentável, que por razões comerciais, ao menos por enquanto, cópias de 16mm não possam ser projetadas em colégios, clubes de serviços e demais entidades onde se discutam problemas relacionados com a poluição e explosão demográfica. Cineasta seguro, com uma respeitável filmografia - de onde vai desde a ficção de Jules Verne ("Vinte Mil Léguas Submarinas", 1954, seu 5º longametragem) até Isac Asimov ("Viagem Fantástica", 1965), filho de um pioneiro dos desenhos animados e criador das aventuras de Popeye - Max Fleischer (1892-1973), o diretor Richar Fleischer, 58 anos, consegue criar em "Soylent Green", um filme que, apesar das restrições que se possam fazer, tem o mesmo nível de indagações/críticas/premonição de duas obras-primas da SF: "1984", de George Orwell (1903-1950), lançado em 1949 e "Admirável Mundo Novo" (Brave New World), que Aldous Huxley (189401963) escreveu em 1932 - embora a novela "Make Room/Make Room" de Harry Harrison, em que Stanley & Greenberg baseou o seu roteiro, não tivesse, talvez, tais pretensões. Assim como outros filmes de SF podem ser citados, os romances de Orwell/Huxley vêm à memória do espectador sensível ao gênero - e lúcido ao imaginar que apesar dos exageros que a ficção permite, nada nos garante que dentro de apenas 46 anos - portanto a ser atingida por duas ou três gerações que agora vêem este filme - os fatos não superem a imaginação, como aconteceu com (quase) todos os livros de Jules Verne(1828-1905). O maior mérito de "No Mundo de 2.020", numa visão pessoal, está no enfoque de dois temas da maior atualidade - basta ler os jornais ou ligar a televisão - como a poluição e explosão demográfica, num filme tenso, tecnicamente bem realizado e conservando um suspense que prende o espectador durante os 110 minutos de projeção - colocando-o na Nova Iorque dos 40 milhões de habitantes - e, como na poesia de Carlos [Drummond] de Andrade, de pessoas sozinhas na América, lutando para não morrer nas ruas, de fome e na qual o amor desapareceu, a mulher transformou-se no "enfeite" dos apartamentos de luxo e mais do que nunca o homem devora o homem - no sentido físico, como o detetive Thot (Charlton Heston, como sempre numa interpretação segura) constata ao final, ao acompanhar clandestinamente o corpo de seu amigo, Sol (Edward G. Robinson - [1983]-1972, em sua última atuação no cinema) na Usina de Lixo, onde há a terrível revelação final. Pelo muito que propõe, pela atualidade terrível de suas imagens - que seja apenas Ficção e não o trágico futuro - "Soylent Green" é um filme de visão obrigatória, longas reflexões e que consegue despertar mesmo o mais indiferente espectador. Com um sôco no estômago. Com toda a força e merecidamente! LEGENDA FOTO: Leight-Taylor e Charlton Heston: a mulher enfeite e o detetive máquina em "Soylent Green".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
10
11/09/1974

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