A mulher, a crônica e a cidade
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de setembro de 1974
Com "Perfil da Cidade" (lançamento hoje, 20 horas, auditório da Reitoria) Curitiba ganha uma cronista: Alzira Costa, 24 anos, estudante de letras do curso noturno da Universidade Católica, datilógrafa durante o dia na Fundepar. No desértico campo de nossa jovem literatura, a presença de Alzira com suas crônicas simples, escritas de uma forma direta e bastante dialogadas, não deixa de ser animador e, independentemente de uma apreciação mais profunda de seus textos, a moça merece o apoio e a atenção, pois com o tempo poderá se tornar uma inspirada cronista, que tanto falta faz a nossa cidade - onde existem muitas (e muitas) mulheres que se dão ao hábito de poetar nas horas vaga, de quando em quando surgem algumas contistas de valor (como Regina Benitez, premiada agora no Concurso Nacional de Contos) mas falta uma cronista do dia a dia, das coisas simples, falando dos homens, dos fatos e das coisas. Como tão bem fazem, na imprensa nacional, Rubem Braga, José Carlos de Oliveira, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade ou, para falar das mulheres - Rachel de Queiroz ou Marisa Raja Gabaglia - duas épocas e dois estilos.
Humana, romântica ou ingênua em suas crônicas, Alzira dá o seu depoimento sobre o que vê, observa e sente. Como primeira obra é a promessa de alguém que deseja dizer algo para muitos - e busca na crônica despojada, simples, a primeira linguagem. Ser compreendida, merece a atenção dos eventuais leitores, é, possivelmente, o objetivo da autora que talvez num trabalho mais regular - no dia a dia de uma colaboração regular e profissional, poderia desenvolver melhor seu projeto. Como na foto da capa de seu livro, do alto do São Francisco, nas centenárias ruínas, a bela moça contempla a cidade. A quem oferece sua primeira mensagem e de quem espera uma resposta.
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