Uma canção para Curitiba
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de março de 1990
- Uma música para Curitiba!
O apelo poderia virar até idéia para uma promoção que viesse a dar uma canção-tema para nossa cidade. Mas canções que dão certo para promover uma cidade tem que nascer espontaneamente - e fazer concursos, encomendar obras ou qualquer outra forma artificial dá resultado negativo. A música é aprovada oficialmente mas não pega. Em compensação, de "Serra da Boa Esperança" que Lamartine Babo (1904-193) compôs em 1937 em homenagem a uma paixão frustrada no Interior de Minas Gerais aos verdadeiros hinos que Frank Sinatra consagrou para New York (New York) ou Chicago ("My Kind of Town"), nasceram espontaneamente. Quando o mesmo Sinatra tentou fazer o mesmo para dar uma canção a Los Angeles - "La. Is My Lady" - acabou toda a força de seu nome, beleza de sua voz e marketing promocional, esta canção (de Quincy Jones-Marilyn & Alan Bergman) gravada em 1984 não pegou.
O paulista Tito Madi (Chaukki Maddi, Pirajui, SP, 1929) esteve em Porto Alegre em 1957 e na volta compôs "Gauchinha Bem Querer" que acabou virando uma espécie de hino oficial do Rio Grande do Sul. Quando alguns amigos pediram para ele fazer uma canção que enaltecesse o Paraná, generosamente atendeu: só que lançada em compactos simples da Odeon, esta gravação nunca foi divulgada. Nem mesmo em Curitiba! Duvido que alguém possua este registro - que não deve ter vendido mais do que 30 cópias.
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Dos poetas musicais que cantaram Curitiba o mais bem sucedido, até hoje, foi o engenheiro Hilton Valente, que na década de 50, quando era o histórico anfitrião do famoso "Rancho da Dolores" - um refúgio musical - gastronômico que uma geração de boêmios (hoje aposentados) freqüentava - criou em momento de inspiração. Em imagens de grande beleza, falando do bonde (que não mais existe). Do Juvevê ao Batel - bairros que, na época, representavam as limitações urbanas da boêmia classe "A" da cidade, a Curitiba enaltecida nos versos de Valente ficou como um símbolo - e há muito deveria ter sido adotada pela cidade que ele tanto ama. Entretanto, inexiste uma única gravação disponível desta música que só os seresteiros com mais de 40 anos lembram-se de cantar quando fazem nostálgicas reuniões.
Internacionalmente, "Le Consul de Curitibá", composição de um francês que viveu na cidade e a dedicou a um diplomata que aqui morava foi um enorme sucesso na França no início dos anos 50, tendo uma história tão interessante que mereceria ser melhor pesquisada.
Dos compositores mais jovens, que se voltaram a Curitiba como tema, Paulinho Vítola antes mesmo de produzir (com Adherbal Fortes de Sá Júnior) o musical "Cidade Sem Portas" (1972), já enaltecia a sua cidade, algumas vezes até em parcerias com Lápis (Palmilor Rodrigues Ferreira, 1943-1978), curitibano das Mercês. Com Marinho (Galera, paulista de Araraquara mas curitibano de coração), Paulinho faria, há 10 anos, o mais belo tributo sonoro a cidade - num roteiro musical-sentimental que mereceu a extensão de dois elepês, álbum com texto de Paulo Leminski e trazendo na foto DA CAPA, os primogênitos dos compositores, no bebedouro do largo da Ordem. Hoje, os garotos são (quase) adultos e possivelmente nenhuma rádio de Curitiba lembrou-se neste 29 de março de executar ao menos uma das belíssimas músicas que ali estão gravadas.
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Eron Viana, paranaense de Palmas, 52 anos, que depois de alguns anos de Curitiba foi viver em Recife, não se esquece desta cidade. No ano passado, em seu primeiro elepê ("Sonho Dourado", etiqueta Acorde) incluiu a faixa "Curitiba sai da Frente", dizendo que
é bela, é bela, muito bela
e ninguém vai dizer que não
Curitiba de tão bela
faz sofrer meu coração
pra enfeitar minha cidade
cruzar-se as marechais
Em Santa Felicidade, Novo
Mundo e São Braz
mas pra se falar de amores
tem até a rua das Flores
Agora, gravando um novo elepê - sessões concluídas há apenas 15 dias, nos estúdios Guidon e Central de Talentos (São Paulo), lançamento ainda a ser definido - Eron Viana volta a homenagear a cidade que tanto ama. Assim em "Saudade de Curitiba", diz:
Curitiba é cidade menina
que apaixona e fascina
com seu sorriso lindo
pois só cresce sorrindo
só cresce sorrindo
O mundo inteiro é benvindo
para vê-lo crescer, crescer e sorrir
quem chega forasteiro
se sente faceiro
e não quer mais sair
Ao chegar nesta bela cidade
senti vontade de ficar
quando estou longe dela
Sinto saudade de voltar
Volto sorrindo
cantando sem parar
LEGENDA FOTO - Paulinho Vítola: cantigas para Curitiba.
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