Uma reunião para discutir a crise
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de julho de 1989
A produção cinematográfica continua praticamente paralisada. Pouquíssimos filmes em rodagem, embora não faltem projetos. Em São Paulo, a Secretaria da Cultura vai liberar US$ 2 milhões para dez novos longas - ainda está na fase da concorrência dos roteiros e projetos, havendo mais de 150 inscritos. Como se vê, uma briga de foice!
São muitas as razões pelas quais caiu em sua produção cinematográfica de mais de 100 filmes/ano para, como no passado, pouco mais de dez. Assim pensando, Roberto Farias, com sua experiência de mais de 30 anos de cinema, vice-presidente executivo do Concine, agiu logicamente: se a produção do cinema no Brasil está cara e o número de filmes cai, a quem interessa isso? Certamente que não aos produtores, cineastas, artistas, técnicos e nem aos prestadores de serviços para a área cinematográfica. Para discutir a questão e encontrar - quem sabe? - soluções, a Embrafilme convidou 42 representantes da indústria cinematográfica e entidades de classe. Em pauta, a análise dos preços dos laboratórios, estúdios, película virgem e aluguel de equipamentos.
Numa economia dolarizada como a brasileira, a situação é mais grave porque o país tem que importar a matéria-prima do cinema. Como os fornecedores são importadores, o preço real é acrescido ainda de uma alíquota de 70%. Esta situação, que preocupa entidades normativas e de classe presentes ao encontro (estavam lá, entre outros, Ruy Solberg, pela Fundação do Cinema Brasileiro; Roberto Farias, pelo Concine; Aníbal Massaini, pelo Sindicato da Indústria Cinematográfica de São Paulo; André Klotezel, pela Apace; Ivan Cardoso, pela Abreci; Marisa Leal pela ABCP; Adnor Pitanga, pelo Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica; José Joffily, pela Associação dos Roteiristas e até o Sebastião França, que era o influente assessor especial da Secretaria da Cultura do Paraná, mas voltou agora para a Embrafilme, da qual é funcionário há muitos anos.
Naturalmente, laboratórios e estúdios de som se fizeram representar: Skylight, Movedoll, Som Livre, Líder Cine Laboratórios, Álamo (que agora tem uma filial em Curitiba, dirigida por Romário Borelli), Kodak e MovieCenter. Seus representantes ouviram do diretor de operações da Embrafilme, Marcos Altberg, um apelo no sentido "da redução e estabilização dos preços dos serviços" (que otimismo!). Após muitas explicações e discussões da flutuação da moeda, os executivos das empresas "concordaram em lutar por uma política comum de preços" - diz o release que Marlene Custódio, assessora de imprensa da Embrafilme, distribuiu no meio da semana.
Otimismo tem que existir, pois pior do que está não pode ficar. Se for possível baixar o preço da produção, incluindo aí a redução da mão-de-obra, aumentará o número de novos filmes. O recado da Embrafilme foi simples:
- "Com mais filmes no mercado, ganham todos os segmentos ligados direta ou indiretamente à indústria cinematográfica".
O caso é se multinacionais como a Kodak - ou mesmo os Sindicatos dos Artistas e Técnicos do Rio de Janeiro e de São Paulo vão querer entender esta situação.
LEGENDA FOTO - Luís Fernando Noel, Farias, Altberg e Ruy Solberg: discutindo a crise da produção do cinema no Brasil.
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