Zé, seus homônimos e o Dr. Hitler
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de julho de 1987
Durante mais de 20 anos o ator e diretor de teatro José Maria Santos, 54 anos, paranaense da Lapa, amargou humilhações. Cada vez que preenchia um cadastro em busca de crédito bancário ou comercial, a resposta era negativa. Os homônimos eram tantos que não tinha jeito do normalmente bem humorado Zé Maria provar que focinho de porco não é tomada em termos de crédito.
- "Chegou um ponto, que havia 37 homônimos só em Curitiba. E pelo menos uma dezena de pilantras com o meu nome". Assim, Zé iniciou a via crucis para dar um diferencial ao seu nome. Mesmo artisticamente mantendo o já conhecido "José Maria Santos", buscou, legalmente, uma forma de ter novo registro, acrescentando os sobrenomes dos avós: Ferreira Maciel. Não foi fácil, diz ele, e só com a orientação de um velho amigo, que havia feito na vida intelectual na Juventude, Assad Amadeu, ótimo poeta e que chegou a desembargador, foi que o registro civil de José Maria Ferreira Maciel Santos ganhou reconhecimento. O processo iniciado em princípios de 1973 só se encerrou no final de 1974.
- "Afinal, se fosse fácil mudar de nome, a malandragem estava sempre trocando de nome, e a situação ainda iria piorar mais" - comenta o ator, que aliás, volta a apresentar o seu divertido espetáculo "Zé Maria Procura Sarney Pra Se Coçar", domingo a noite, no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto.
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Há 12 anos, o etnólogo e folclorista Mauro Soutto Maior, diretor do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, de Recife, publicou um livro originalíssimo: "Nomes Próprios Pouco Comuns". Garimpeiro de curiosidades, Soutto Maior passou anos coletando os mais estapafúrdios nomes que encontrou em registros civis e os reuniu num volume que, aliás, já mereceria uma segunda edição, revista e ampliada, pois o número de nomes próprios que fogem do convencional, longe de diminuir, está aumentando conforme modismos. Uma das curiosidades que um estudo a respeito revelaria seria o fato de como o sucesso de um determinado artista, político ou personagem de novela pode influir na escolha dos nomes. Nos anos 60, quando Mônica Vitti se tornou a musa dos filmes de Michelangelo Antonione, milhares de meninas ganharam este nome. No caso, um belo nome.
Pior mesmo foi o caso de um curitibano que, em 1938, entusiasmado com o que Adolf Hitler estava fazendo na Alemanha, em termos de reerguimento econômico, lascou no seu primogênito o nome de "Hitler de Souza". Hoje, médico conceituado, formado pela Universidade Federal do Paraná, tem que explicar sempre aos amigos de que seu pai nunca foi nazista, e apenas se entusiasmou com a primeira etapa do governo do líder alemão. Mas nem por isto, o Dr. Hitler consegue ter judeus em seu consultório. Estes, fogem dele como o diabo da Cruz.
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