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Aramis

Cantoras brasileiras

Uma das maiores injustiças que se poderia cometer contra uma artista brasileira foi a que fez o ministro Jair Soares, da Previdência Social, ao denunciar com o maior estardalhaço, a falsificação da documentação que trouxe aposentadoria a cantora Carmen costa (Carmelina Madriaga), fluminense de Trajano de Morais, 60 anos completados dia 5 de janeiro último, pelo menos 43 de vida artística. Se a documentação pela qual se habilitou a uma mais do que justificada aposentadoria, apresentou falhas, a culpa foi do despachante a quem Carmen, com sua santa ingenuidade, confiou esta responsabilidade. A aposentadoria que recebeu não ultrapassava à 5 salários e se alguém foi desonesto, foi a própria previdência social, pois desde que completou 35 anos de carreira, já merecia estar aposentada. Quem conhece Carmen Costa, sabe de sua grandeza de pessoa, sua vida difícil, os percalços que tem atravessado. Pobre, sustentando uma filha e dois netos, injustiçada e esquecida, conserva, entretanto, uma extraordinária força de vontade, uma voz forte e afinada como a que tinha nos anos 40, quando começou a aparecer, gravando sambas de Henricão ("Onde Está O Dinheiro", "Dance Mais um Pouquinho"), ou a versão de "Cielito Lindo", que ela própria fez com Henricão (então seu marido), e que com o nome de "Está chegando a hora", é, desde 1942, uma espécie de hino oficial de despedidas. A carreira de Carmen Costa é rica, maravilhosa - viveu longo tempo nos EUA, defendeu no Exterior a nossa MPB, trabalhou nos mais distantes pontos. Só mesmo um ministro sem nenhuma assessoria e sensibilidade poderia usar o exemplo de Carmen Costa como de corrupção. Uma artista pobre, honesta e que se teve sua documentação adulterada foi por culpa de outras pessoas, que, como tantas, a tem explorado ao longo destas décadas. Tal comentário justifica-se não em defesa de Carmen, pois quem a conhece sabe de sua importância musical e pessoal. E, não poderia ser mais oportuna a edição do belo lp produzido por Antoni Simon Khoury, radialista e record-man de grande sensibilidade, com arranjos e regências de Meireles, lançado pela Continental, há poucas semanas, e que dá a Carmen uma chance há muito esperada. Há algum tempo, pela CBS, ela fez um modesto compacto, com uma irônica composição, "Criando Cobra", que não teve a merecida repercussão. Desta vez, com melhores condições de trabalho, pode mostrar toda sua dimensão de cantora, interpretando um repertório dos mais bem escolhidos, que cobre um longo período da MPB: desde "Dama do Cabaré", que Noel Rosa compôs em 1936, pouco antes de morrer até músicas inéditas como "Janete" (Faffy - Sara Benchimol), relembrando "Eu é Que Não Presto" (Lupicinio Rodrigues - Felisberto Martins, 1943). "Boneca de Pano" (Assis Valente, 1950), "Vicio" (Linda Rodrigues José Braga, 55), "Garota do Dancing" (Alberto Ribeiro-Jorge Faraj, 1939). Composições de novos autores, mostram a atualidade de Carmen: "Garoto de Aluguel" (Zé Ramalho, 77), "Valsa do Bordel" (Toquinho/Vinícius, 1969, só há pouco liberada), "Sob Medida" (Chico, 1979), além do clássico "O Mundo é Um Moinho" (Cartola, 199975). De Octávio Burnieri/Aldir Blanc é "Marília e Dirceu". Uma cantora como Carmen Costa merece toda admiração, deve ser ouvido com amor e emoção. Aldir Blanc, no texto de contracapa deste lp que, não tenho dúvidas, em classificar como um dos melhores do ano, diz: "Carmen Costa, pedaço vivo de nossa música (...) em pleno coração da atual safra de competentes cantoras, nasce uma estrela, uma menina de treze anos, cheia de sutileza e vigor interpretativos. Chama-se Carmen e, levada como ela, só nos deu a melhor gravação de "sob Medida" entre outras tantas belas". Se o ministro Jair Soares fosse um pouco musical e ouvisse Carmen Costa por certo se envergonharia da maldade que cometeu contra ela, há algumas semanas, ao apontar sua aposentadoria - mais do que justa - como exemplo de "corrupção contra o INPS". Corrupção são os milhões que se perdem em bobagens e, principalmente, corrupção é um país que não sabe dar a uma cantora como Carmen o valor que ela merece. Durante muito tempo Maria Alcina foi considerada uma espécie de oposto de Ney Matogrosso. Enquanto o ex-Sêcos & Molhados canta em sua voz de contralto, esta mineira que começou humildemente tem sua voz forte, masculinizada. Com "Kid Cavaquinho" (Bosco/Blanc) chegou as paradas. Antes, "Fio Maravilha", de Jorge Bem, que defendeu no FIC, a convite de Solano Ribeiro, a fez ser destacada. Shows em teatros e boites e até no municipal, com o balé Stagium, não foram suficientes para disciplinar sua carreira - irreverente, descontraída, mas sempre corajosa. Agora, produzida por Jorge Gambier e contratada da Copacabana, busca rumos mais seguros a sua carreira e em "Plenitude", apresenta um repertório que mostra sua versatilidade bons arranjos e representa um passo a frente de seus irregulares discos anteriores: "Tua Sedução" (Moraes Moreira/Fausto Nilo), "Tum Tum" (Rita Lee - Roberto de Carvalho), "Não Venha Tarde Demais/ (Otácio Burnier - Ivan Wigg), "Voz da América", até a "Plenitude", que Walter Franco musicou a partir de um poema de Manuel Bandeira, fazem com que se preste atenção nesta cantora rica, viva - e, principalmente, em escalada.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
21
06/04/1980
Caro Amigo, tenho visto em alguns Sites, a relação das Maioes e Melhores CANTORAS BRASILEIRAS e são omitidos os momes de ANGELA MARIA< ELZA SOARES, JOELMA, DALVA DE OLIVEIRA, etc.... é, no mínimo, tendenciosa e parcial. Um abraço

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