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Aramis

A volta de Macalé com um bom astral

1987 começa com bom astral: a querida Nara Leão, após meses de enfermidade, está retornando aos palcos e já pensando em um novo elepê. Flávio Rangel que andou gravemente doente está novamente escrevendo no Caderno B, do "Jornal do Brasil". E Macalé (Jards Anet da Silva, Rio de Janeiro, 3/3/1943), que também passou por uma fase negativa - pessoal e profissionalmente - está dando a volta por cima e retornando com ótimos planos. Não se apenas de fazer um, mas nada menos que quatro discos, para recuperar o tempo perdido. A primeira mostra disto é o mix recém lançado pela Continental, com "Rio Sem Tom" e "Blues Suede Shoes". A primeira é uma composição de Macalé, com citação de três outras - "Garota de Ipanema" e "Samba do Avião" de Tom e mais "O Dengo Que a Nêga Tem" (Dorival Caymmi), dentro de uma letra das mais bem humoradas e no qual Macalé mistura dengue até a citação de Aids. Já em "Blues Suede Shoes", apenas com voz e violão acústico, Macalé liquidifica o tema de Carl Perkins num "sambarroque" dos mais originais. Estas duas amostragens identificam, auditivamente, um novo Macalé, que na capa, rosto bem barbeado, expressão confiante ao lado de uma turística paisagem de Copacabana parece estar contemplando novos tempos. Identificado ao grupo baiano que, nos anos 60, tanto modificou a MPB, inteligente, versátil e anárquico, Macalé tem uma bela folha de serviços prestados a nossa música popular. Sua irreverência em relação a valores tradicionais ainda a posições corajosas nos anos mais duros da revolução lhe custaram perseguições - aos quais se somariam problemas pessoais, o que o fez permanecer por um ano num preocupante auto-exílio. Sem nunca ter sido um campeão de vendas ou grande sucesso, Macalé tem potencial para ocupar um espaço necessário dentro da MPB - ele que sempre soube reverenciar os grandes valores. Portanto, o saudemos com entusiasmo neste seu retorno auspicioso - aguardando os elepês que ele promete fazer neste ano. O aperitivo neste mix já agradou bastante.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
29/03/1987

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