Albânia, sem luxo mas com progresso
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de maio de 1984
Luis Manfredini foi, possivelmente, o primeiro jornalista do Paraná e um dos poucos do Brasil a visitar a Albânia, onde esteve entre Janeiro/ Fevereiro. Prepara um livro a respeito, mas antecipou algumas anotações ssobre este país a mais fechado do mundo comunista para mostrar como é que são as coísas na república popular de Enver Hoxha,da qual a impresa tem raras informações confiáveis. Manfredini, que é o assessor de imprensa da Secretaria da Educação e que passou por várias redações de jornais e revistas, faz uma observação importante: " Para o visitnte estrangeiro é indispensável um certo tempo para que ele descubra o pais real que existe e palpita por detrás de moléstia aparente que transpira nas primeiras visões. De fato não encontrei luxo nem sofisticação na Albânia. Em nenhuma parte. Mas, aos poucos, dia após dia, fui identificando o país que, indiscutivelmente, conseguiu não apenas resolver os problemas básicos da sua população, como tem se mantido inteiramente imune á crise água que hoje martiriza tanto os países capitalistas, como os do bloco soviético. A albânia não possui divida externa. A inflação, desemprego, o analfabetismo são verdadeiramente chagas do passado. O custo de vida, ao contrário do que estamos habituados, a ver, tem descrecido. Em 40 anos do socialismo ( a serem comemorados em novembro deste ano ) os albaneses já tiveram 17 rebaixas de preços. Quando o Jayme Sautchuk ( autor de "O Socialismo na Albânia", 176 páginas, editora Alfa Omega ) já esteve, em 1982, uma máquina de lavar que é de uso massivo custava 1.700 leks ( a moeda nacional = 7,5 leks equivalem a um dolar ) e durante a minha estada seu preço já hávia caído para 1.200 leks. Em 1969, todos os impostos e taxas foram abolidos, medida que a Constituição de 1976 ratificou. Os preços não são fixados no mercado, segundo a oferta e a procura, mas pelo plano econômico do Estado. Como não existe quem se aproprie da "mais valia", os aumentos de produtividade baixam crescentemente os custos de produção e isso é repassado ao consumidor através das constantes rebaixas de preços.
Os salários têm pouca variação. A relação entre o menor e o maior salário é de 1.2,5 ( enquanto que na URSS, por exemplo, a variação chega a ser de 1.30 ). O salário médio fica entre 700 e 800 leks. O aluguel de casa representa apenas de 3% a 4% do salário de um operário médio. O telefone é alugado ( 10 leks/mês) sendo que o usuário só paga as ligações interurbanas. Na verdade o salário representa apenas uma parcela da participação das pessoas na distribuição da renda nacional, já que a educação e os serviços de saúde são gratuitos. Com isso, calcula-se que um operário médio tenha sua renda aumentada em mais ou menos 4.000 leks ao ano, além do salário. E também preciso notar que a maioria das mulheres trabalha e todos os velhos são aposentados. Então a renda familiar necessariamente aumenta.
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O comércio, contrariando a minha própria expectativa, é variado. Não vi filas durante minha estada na Albânia. O racionamento está abolido desde os anos 50. Obviamente, em termos de Markenting não há nem comparação com o nosso comércio. Mas não há necessidade: todo ele é estatal, desde o magazin até o carrinho de pipoca da esquina. Os produtos são de boa qualidade, embora sem sofisticação. Há diversas marcas de cigarros dentrifricios, sabonetes, vinhos, conhaques, e alimentos. As roupas são de corte conservador ( mais nas mulheres que nos homens ) e, para nós, um tanto fora de moda. Atualmente, 70% das exportações albanesas são de produtos elaborados no próprio país. Eles fabricam muitas compotas e conservas ( em vidros )e a industria ligeira e alimenticia responde hoje por 85% dos produtos de amplo consumo. O restante é importado. Não há sistema de crédito: as compras são feitas à vista. No comércio exterior, é tudo na base da troca direta de mercadorias ou "cash". Para se ter uma idéia do nível de vida da população, 93% dos habitantes do pais dispõem de TV. Atualmente a Rádio e TV Tirania, estatal e única no país, já emite em cores".
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