Artigo em 14.11.1975
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de novembro de 1975
Fortaleza (Via Telex) - Orgulhosa de possuir o maior centro de convenções do Nordeste - com auditório de mil lugares, amplos equipamentos para atender qualquer evento de nível internacional - Fortaleza, em termos turísticos, sente-se boicotada e prejudicada pela Bahia. O sr. Eduardo Augusto Campos, diretor de Promoções da Empresa Cearense de Turismo, tem argumentos fortes para confirmar esta guerra em escalada na indústria sem chaminés do Nordeste:
- A Bahia está desesperada com sua falência turística: investiu bilhões numa infra-estrutura de hotéis de categoria internacional, com diárias a Cr$ 600,00, que hoje estão as moscas, já que turistas não podem ter este luxo. Com isso, esta oferecendo sediar convenções e encontros com hospedagem gratuita, o que, evidentemente, nos não podemos aceitar".
Com uma rede hoteleira que oferece mil leitos, considerando as próximas inaugurações dos hotéis Imperial Palace e Esplanada, Fortaleza está concentrando esforços para que passe a sediar congressos e mostras, capazes de garantirem movimento ao seu moderno centro e convenções. Domingo, por exemplo, o Ministério do Interior aqui inicia o Terceiro Seminário Nacional de Irrigação e Drenagem, organizado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Técnicos de todo o Brasil já confirmaram suas presenças - inclusive vindo de Porto Alegre o folclorista Paixão Cortes, fundador do Grupo "Os Guaderios", compositor e pesquisador, mas que é também engenheiro-agronomo do Estado. Do Paraná, também esta sendo aguardado uma representativa participação.
Com orçamento reduzido - pouco mais de Cr$ 6 milhões para 1976, a Emcetur, presidida pelo sr. Lauro Torres de Melo, também representante da SBAT em Fortaleza, tem um calendário de grandes eventos para os próximos meses. Um dos mais importantes e a Exposição de Artesanato Nordestino, que pela segunda vez será realizado de 12 a 21 de março. Só que em 1976, a Exacanor terá um caráter nacional, com a participação de artesanato de todos os Estados. O que levará a Emcetur a estabelecer contatos com os Estados do Sul, não só pra estimular a vinda de artesões, mas também de representações de grupos folclóricos.
- Paralelamente a mostra de artesanato, que queremos aqui realizar a maior mostra de foclore autêntico das diferentes regiões, acompanhadas, talvez de uma semana de estudos e debates, com o folclorista de gabarito nacional, explica Augusto Campos, que dentro de algumas semanas viajará ao Sul, fixando contatos para garantir, pela primeira vez a presença do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina em Fortaleza.
Uma antiga cadeia, construída na metade do século, passado, foi transformada pela Emcetur no centro de turismo de Fortaleza, abrigando hoje 96 lojas de artesanato e produtos típicos da região, administração da empresa, restaurantes, lanchonetes e um teatro de 230 lugares, e que é cedido a todos os grupos interessados. A noite, o Bar Jangadeiro, reúne os melhores cantadores - afinal foi daqui que saíram, intercalados de jovens compositores - ainda há pouco hoje nomes de prestígio nacional, com Fagner, Roger Tati e Belchior, todos já com elepes gravados - alguns vendendo bastante. E outros artistas que esperam sua vez e hora - como Chico da Viola, com um extraordinário executante de cavaquinho, "virtuoso como poucos", na opinião de Ricardo Cravo Albim, que nesta semana se encontra em Fortaleza, ministrando seu curso de música popular para mais de 300 alunos, no Instituto Alberto Nepomuceno. Com uma temática própria e utilizando instrumentos regionais, o Quinteto Agreste, é outro conjunto nordestino, que começa a despontar no meio musical local. Embora ainda não profisisonalizado - e portanto difícil de se conhecer um trabalho mais regular - os seus integrantes mostram força e criatividade, o que poderá transtorná-los, a curto prazo, em novo fenômeno de integração Nordeste - Sul, como ocorreu com os pernambucanos, do Quinteto Violado e da Banda de Pau e Corda, além de uma escala mais elitista, o Armorial que Ariano Suassuna criou junto a Universidade Federal de Pernambuco.
LEGENDA FOTO 1 : Ricardo Cravo Albim
LEGENDA FOTO 2 : Fagner
LEGENDA FOTO 3 : Quinteto Violado
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