Bianchi e Severo na busca dos Candangos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de outubro de 1988
Três cineastas do Paraná estarão competindo no 21º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (de hoje a 1º de novembro), adiado por duas vezes. Dois realizadores nascidos no Paraná, mas radicados em São Paulo e Rio de Janeiro - Sérgio Bianchi (de Ponta Grossa) e Joatan Vilela Berbel (de Londrina), respectivamente, competirão na categoria de longa ("Romance") e curta-metragem em 16mm ("Os Donos da Terra" e "Café Soçaite", de Joatan).
Fernando Severo, catarinense de Caçador, mas há anos radicado em Curitiba - é o nosso mais premiado cineasta neste ano com o seu belo "O Mundo Perdido de Kozak", é candidato forte a conquistar mais alguns troféus Candango.
Com 34 filmes em competição, o Festival de Brasília tem este ano características novas, introduzidas pelo presidente da Fundação Cultural do Distrito Federal e seu coordenador geral, maestro Marlos Nobre. As sessões serão realizadas em conjunto de salas de exibição num Shopping Center que patrocina financeiramente o evento - e nas quais também serão realizados debates, mostras paralelas e reuniões das associações dos documentaristas e pesquisadores do cinema brasileiro.
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Considerado um dos mais inventivos filmes brasileiros nos últimos anos, "Romance", de Sérgio Bianchi, não chegou a concorrer no XV Festival de Cinema Brasileiro de Gramado - mas, ali projetado numa sessão paralela, provocou entusiásticos aplausos. Grande número de críticos defenderam a concessão do Prêmio da Imprensa / Crítica para o filme de Bianchi - que não estava presente, pois preparava-se para viajar a Munique, em cuja mostra (não competitiva) o seu filme representou o Brasil. Agora, "Romance" se afigura como um dos favoritos do Festival de Brasília, concorrendo com cinco outras produções inéditas no círculo comercial.
Os longas que disputarão os Candangos em Brasília são: "Abolição", de Zózimo Bulbul (documentário de longa-metragem sobre a questão negra); "Brascuba", de Orlando Senna e Santiago Alvarez; "Memória Viva", de Octávio Bezerra - documentários; "O Mentiroso", produção gaúcha, direção de Werner Schunermann e "Presença de Marisa", de John Doo - inscrito (e recusado) no Festival de Gramado.
Na categoria dos curta-metragens, em 35mm, estarão concorrendo 12 filmes: "Angelo Roberto", de Emanuel Cavalcanti; "Barbosa", de Ana Luíza Azevedo e Jorge Furtado (produção gaúcha, premiada em Gramado); "Caramujo Flor", de Joel Pizini Filho (mato-grossense que estudou jornalismo em Curitiba, aqui trabalhando em "O Estado do Paraná"); "Com o Andar de Robert Taylor", de Marco Antônio Simas; "A Garota das Telas", de Cao Hamburguer; "O Homem que Sabia Javanês", de Maurício Buffa; "A Hora da Verdade", de Henrique Freitas Lima; "O Inspetor", de Arthur Omar; "Mais Luz", de Reinaldo Pinheiro; "Referência", de Ricardo Bravo; "Três Moedas na Fonte", de Cecílio Neto; e "Meninos de Rua", de Mariane França.
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Já com seis prêmios - obtidos nos festivais de Gramado e RioCine, mais o Tatu de Bronze de melhor documentário curta na XVII Jornada de Cinema da Bahia, "O Mundo Perdido de Kozak", de Fernando Severo, foi aceito na categoria de curtas em 16mm. Considerando o nível deste filme sobre o cinegrafista Vladimir Kozak (1897-1979) são grandes as suas chances de voltar com mais uma premiação nacional - apesar dos 15 outros concorrentes na mesma categoria. Que são os seguintes: "Uma Questão de Terra", de Manfredo Caldas; "Bandeiras Verdes", de Murilo Santos; "Os Donos da Terra" e "Café Soçaite", de Joatan Vilela Berbel; "Manuscrito Achado num Bolso", de Ricardo Carnelossi; "Amor e Morte", de Walquíria Ribeiro; "Mulheres, uma outra História", de Eunice Gutman; "Tangência", de Marco Aurélio Penha e "Colorbar", de Marcelo Mendes - entre trabalhos também em Brasília, "Cajueiro - Um Quilombo da Era Espacial", de Luíse Torok; "Gardenia Azul", de Cecília Saint Pierge; "A Ponte", de Marcos Escobar; "PSW - Uma Crônica Subversiva", "Kiriri - O Povo Calado", de Rubens Rocha.
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A seleção feita para o Festival de Brasília é bem representativa do cinema brasileiro. Se no campo dos longa-metragens, algumas produções aguardadas com expectativa - como "Jorge, um Brasileiro", de Paulo Thiago (do romance de Oswaldo França Júnior); "O Grande Mentecapto" (do romance de Fernando Sabino) e "Fogo e Paixão", da dupla paulista Isay Weinfeld e Márcio Kogan - para citar apenas três exemplos, não foram inscritas, deve-se ao fato de que estas realizações estão sendo reservadas para as mostras internacionais que encerram o ano. "Fogo e Paixão", que teve sua montagem realizada pelo curitibano Mauro Alice, foi um dos dois únicos filmes brasileiros incluídos pelo crítico Leon Cakof na 12ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, iniciada sábado, dia 15, e que com 70 longas e 25 curtas vindos de mais de 20 países, estende-se até o final de outubro. Está prevista também sua pré-estréia na semana "Cinema 89", que José Augusto Iwersen organiza para o final do ano, em Curitiba, no Cine Plaza.
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A quinta edição do Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro - o maior evento cinematográfico da América do Sul - já tem data final acertada: 17 a 26 de novembro. O que ainda não foi resolvido é a questão financeira - problema comum a todos os festivais e que no caso do FestRio, este ano, torna-se particularmente aflitivo, já que a prefeitura do Rio de Janeiro, que normalmente bancava grande parte das despesas, encontra-se na mais crítica situação financeira. Mesmo com cortes em vários eventos paralelos e redução no número de convidados internacionais, o FestRio terá filmes da maior importância - sendo possível inclusive a estréia de "A Última Tentação de Cristo", em sua abertura. A cinematografia homenageada este ano será a chinesa, e o cinema que sediará os filmes em competição será o Roxy, em Copacabana - há que o Festival deixa o distante Hotel Nacional e passa a ter como sede o Othon Palace, em Copacabana.
LEGENDA FOTO - Maria Padilha, uma das intérpretes do corajoso documento-drama "PSW - Uma Crônica Subversiva", sobre o assassinato do deputado catarinense Paulo Stuart Wright, que estará concorrendo no Festival de Cinema de Brasília, no final do mês.
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