Bibi, a fair lady de nosso teatro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de julho de 1990
Quando Bibi Ferreira atuou em "O Fim do Rio", uma das primeiras produções da Pinewood Studios, após a II Guerra Mundial, já era uma veterana nos palcos. Afinal, filha de dois grandes artistas, Procópio Ferreira (Rio de Janeiro, 1889-1979) - nos palcos desde 1916 com "Amigo, Mulher e Marido" (L'Ange de Foyer, de Robert des Flers e Caillavet) e da atriz Aida Isquierdo, o bebê Abigail, aos 24 dias de idade, já fazia uma "pontinha" na montagem de seu pai de "Manhã de Sol", de Oduvaldo Vianna (1892-1972). São portanto, 70 anos de vida artística, embora, em termos oficiais, o "Bibi in Concert" comemore 50 anos profissionais - considerando que em 1940, começava mesmo profissionalmente, naturalmente ao lado do pai, em "La Locandiera", de Goldoni.
E nestes 50 anos, Bibi fez de tudo em termos artísticos: em 1934, aparecia no filme "Cidade Mulher", de Humberto Mauro (em 1949, era o primeiro nome do elenco de "Almas Adversas", de Leo Maten, que tinha entre seus produtores-roteiristas Lúcio Cardoso); fez centenas de peças, revelou-se uma de nossas melhores diretoras e, dona de bela voz (com vários discos gravados) seria a estrela das mais bem sucedidas montagens de musicais broadwianos feitas no Brasil - como "My Fair Lady" e "O Homem de La Mancha", ainda nos anos 60, passando depois a musicais de uma outra linha - como o dramático "Gota D'Água" (de Chico Buarque e seu falecido marido, Paulo Pontes), e "Piaf", sua última grande apresentação, que a trouxe a Curitiba, pela última vez, há 3 anos, no Guaíra.
Incrível vitalidade, continua a dirigir grandes espetáculos - trabalhando atualmente em duas produções - uma remontagem de "Menomalle", de Juca de Oliveira e "Não Explica que Complica".
Em junho último, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, houve a estréia nacional de "Bibi in Concert", um revival com os melhores momentos de sua longa carreira. Produção caríssima - acima de Cr$ 1.500.000,00 - com orquestra de 40 músicos, a temporada não teria seqüência se a corajosa Miriam Dauelsberg, não decidisse levá-la a outras cidades. Confiante na garra de Luís Fernando Bonin, 33 anos, da Tear - Associação de Theatro e Arte, decidiu que um roteiro especial deste superespetáculo deveria ser agilizado a partir de Curitiba. Mesmo sem nenhum centavo de patrocínio - mas contando com a boa vontade de 40 músicos de formação erudita de Curitiba, com regência do maestro Emanuel Martinez, hoje à noite, no Guaíra, acontece a única apresentação deste espetáculo, cujos detalhes da programação há foram bastante divulgados - e que, mesmo repetindo o chavão, só pode obter a classificação de imperdível. Se não fosse pela beleza dos momentos selecionados - um verdadeiro caleidoscópio do melhor que uma das maiores damas do teatro contemporâneo tem feito ao longo de uma das mais dignas carreiras - pela homenagem que merece.
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