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Brasília, segundo Dagoberto

Formado pelo curso de arquitetura da Universidade Federal do Paraná na turma de 1965, o catarinense Dagoberto Koehntopp, 35 anos, é hoje um dos profissionais mais voltados ao estudo de problemas relacionados a ecologia e urbanismo. Diretor de planejamento da Prefeitura de Joinville por 6 anos, Dagoberto agora integra a equipe de assessoramento internacional da Comissão Nacional das Regiões Metropolitanas e Política Urbana, em Brasília, onde também atua outro arquiteto da mesma turma, Cleon Ricardo dos Santos, ex-jornalista de O ESTADO. xxx Vivendo há quase dois anos em Brasília, Dagoberto Koehntopp vem tendo tempo e tranqüilidade para desenvolver alguns estudos e observações dos mais interessantes que, passando para o papel, poderão enriquecer a ainda reduzida bibliografia sobre a "Capital da Esperança", como o escritor francês André Malraux a definiu, há mais de 10 anos. Para Dagoberto, Brasília é antes de tudo, uma cidade que faz com que o indivíduo se encontre consigo mesmo, pelo fato de, oferecendo poucas opções de entretenimento e uma grande rapidez nos deslocamentos, obrigar a todos a ter, mesmo não querendo, disponibilidade para a vida doméstica - fato que não existe muito em outras capitais. Assim, raciocina o arquiteto, os casais passam mais tempo juntos do que se vivessem em metrópoles como Rio, São Paulo ou mesmo outras cidades - capazes de oferecer maior vida social. E esta vivência mais intensa, tem acelerado desajustes e atritos pessoais, uma das causas, aliás citadas por psicólogos, como motivadora do elevado índice de desquites e separações no Distrito Federal. xxx Solteiro, vivendo num amplo apartamento, Dagoberto descobriu também que uma das razões porque pelo menos 40% da população urbana da Capital Federal desenvolveu o hábito de criar cães está no relacionamento social que eles acabam provocando. O próprio Dagoberto, após começar a cuidar de um enorme animal passou a relacionar-se com vários vizinhos, que até então desconhecia, a partir dos primeiros diálogos tendo por tema simplesmente os cuidados que cada um dedica aos animais. "O cão é, em Brasílias, não só o melhor amigo do homem, mas uma maneira de dividir a solidão e fazer amigos", acrescenta. xxx Assustadora em sua solidão aos recém-chegados que não disponham de amigos, ali radicados, Brasília vai, entretanto, fascinando pouco a pouco. E isto, é, no entender de Dagoberto, com toda sua formação de arquiteto voltado ao estudo de problemas urbanos, um dos aspectos mais interessantes de Brasília, que, mesmo com todas as suas contradições sociais e frustrada em alguns aspectos pretendidos quando foi planejada nas pranchetas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, há mais de 20 anos, é uma cidade única, precisando ser compreendida para ser amada. E a formulação de uma teoria neste sentido é hoje a preocupação de Dagoberto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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23/09/1978

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