A briga pelo trono
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de dezembro de 1988
Apesar da Juventude Monárquica do Brasil já estar em campanha pelo Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, num (hipotético) caso da monarquia ser restabelecida no Brasil como sistema de governo, mesmo cabendo ao Congresso a escolha do rei - se for mantida a tradição do monarca pertencer a família imperial, haverá uma grande discussão em torno de nome do legítimo príncipe herdeiro ao trono brasileiro. Pela ordem natural das coisas do império, o príncipe herdeiro é D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, 75 anos, filho mais velho do primogênito da Princesa Izabel e que mora em Petrópolis. Mas o seu primo, D. Pedro Henrique reivindica ser o herdeiro legítimo, porque o pai de D. Pedro Gastão abriu mão de seus direitos para poder se casar com uma jovem checa no início do século. Assim, o direito ao trono passaria para D. Henrique, que é o filho mais velho do segundo filho da Princesa Izabel.
A família imperial está dividida. D. Pedro Gastão mora nas propriedades herdadas da corte em Petrópolis. D. Henrique é fazendeiro na região de Vassouras, também no Estado do Rio de Janeiro. A lei dinástica obriga os príncipes a renunciarem a seus direitos quando se casam com moças plebéias ou sem nenhuma ligação com família imperiais (mesmo assim, já foram registradas ocasiões em que esta regra não foi levada a sério).
Enquanto os dois Pedros mais idosos discutem seus direitos, os jovens monárquicos iniciam o marketing do jovial Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança "digno herdeiro de veneráveis tradições".
Realmente, as chances de D. Pedro Gastão esbarram até em sua idade: quando for realizado o plebiscito ele já terá 80 anos - o que, convenhamos, lhe dá pouquíssimas chances de subir ao trono. D. Pedro Gastão nasceu na Normandia e embora se sinta brasileiro (na II Guerra Mundial ele foi pessoalmente ao Ministério da Guerra se apresentar "para qualquer serviço em que pudesse ajudar") tem tido alguns problemas com a justiça brasileira. Por exemplo, há 30 anos foi processado pelo então consultor-geral do Ministério de Justiça, Arnold Butler, por usar o tratamento "Sua Alteza Imperial, o Príncipe" num anúncio. Isso sem falar que só veio conhecer o Brasil aos oito anos, exilado que ficou por causa da lei do banimento da família imperial brasileira baixada pouco depois da Proclamação da República e só suspensa em 1922.
Atualmente, ele mora num amplo casarão em Petrópolis (que nos tempos imperiais era usado como moradia pelos empregados da corte). Gosta de ouvir Mozart e Chopin e cuidar de suas criações de abelhas e pombos correios.
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O deputado Cunha Bueno quando conseguiu a aprovação da emenda sobre a consulta ao povo brasileiro da volta do Rei ao Brasil, em 2 de junho do ano passado, entre sorrisos, lembrou de um fato interessante.
-"Nos últimos 60 anos apenas um presidente civil, Juscelino Kubistchek terminou o mandato. Nos 98 anos de República o País passou por 12 estados de sítio, 17 atos institucionais, seis dissoluções de governo, 19 rebeliões militares, quatro presidentes depostos, dois longos períodos ditatoriais dentre outros. A República não deu certo.
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Portanto, não é sem razão que Curitiba também ganhou seu "Reizinho". Mesmo sem a aprovação da população.
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