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Aramis

Chamamento Nativista (III)

Altemir Nascimento, 20 anos, um carazinhense que reside há 5 anos em Curitiba, preparando-se para o vestibular de Medicina, defendeu, com garra e vigor, na V Seara da Canção Gaúcha, a semana passada, uma das dez canções que falavam de temas ligados à agricultura. "O Grito do Campo", xote de Clíon Tadeu Madeira Costa, foi calcado no movimento que o jornal "O Interior" promoveu, há um ano levando milhares de produtores rurais e agricultora ao Estádio Beira-Rio, no maior protesto já realizado no Rio Grande do Sul. A música não foi classificada para a finalíssima. Entretanto, Altemir, emocionado, demonstrava grande alegria por ter chegado a concorrer no festival. - "Estava meio distanciado das raízes nativistas - dizia ele - mas agora vou me empenhar para divulgá-las Inclusive em Curitiba, onde tenho feito apresentações ocasionais em alguns bares da Praça da Ordem". xxx Como Altemir Nascimento, todos os intérpretes que defenderam as canções na Seara o fizeram com garra e entusiasmo. Essa é uma das características desse movimento musical, que agrupa, hoje, mais de mil artistas, entre profissionais e amadores, tanto na área da composição, como na da instrumentação e da interpretação vocal. Em vista da diversificação dos [festivais], que se espalham pelo Rio Grande do Sul todo, os compositores de maior bagagem e experiência, premiados anteriormente, reservam, naturalmente, trabalhos para os festivais de grande importância, que são os de Uruguaiana (Califórnia), Santa Rosa (Musicanto), Cruz Alta (Coxilha), Santa Maria (Tertulia) e a Ciranda Musical Teuto-Rio-Grandense (Taquara), esta última com oito edições realizadas desde 1972. Delmar Backes, 38 anos, professor em Taquara, onde organiza o festival nativista, nos debates durante o Chamamento Cultural mostrou os diferentes aspectos que marcam esse evento - de características próprias da região, com colonização basicamente alemã. Tanto é que, a partir do corrente ano, a Ciranda inclui mais uma categoria de premiação: a de música de bailes e festas, para estimular a participação das bandinhas típicas, uma das presenças fortes daquela região (assim como o são de Santa Catarina). A diversificação cultural do Rio Grande do Sul, com várias etnias e costumes próprios, reflete-se também nos festivais de música. Assim, na chamada região da Serra, de colonização italiana, acontecem dois eventos característicos: a Vindima da Canção Popular, na cidade de Flores da Cunha, já na XI edição (um LP com as 12 finalistas da promoção realizada em julho último acaba de sair pela Chantecler) e o Festival da Canção Popular Italiana, na cidade de Nova Prata, que chega já ao nono ano consecutivo. Também na região serrana, a pequena cidade de Veranópolis viu crescer tanto um modesto festival local (que nos dois primeiros anos foi iniciativa de uma empresa privada), que, a partir de agora, a mostra, intitulada "Serra, Campo e Cantiga", passou a ser organizada pela jovem secretária municipal de Turismo e Cultura, professora Teresa Klein, que, em Carazinho, assistindo a Seara, garantia que a próxima edição, em abril de 1986, terá dimensão maior. Embora nos dois primeiros anos tenha sido uma promoção modesta, esse festival, a exemplo de todos os demais que acontecem no Estado, gravou as músicas finalistas. xxx Aos poucos, mesmo os músicos mais conservadores e os compositores urbanos vão se integrando ao movimento nativista. Na V Seara, o prêmio ao melhor instrumentista coube ao veterano flautista Plauto Cruz, 59 anos, 4 lps gravados, reconhecido como um dos grandes chorões do Sul e que desfruta de conceito nacional. Acostumado a homenagens (ainda recentemente publicado um livro sobre sua vida), Plauto era, entretanto, o artista mais emocionado, ao encerramento do festival de Carazinho. Outro músico urbano, o violonista Mário de Barros (46 anos, 2 lps independentes gravados), que sobrevive dividindo-se entre recitais semi-eruditos no Interior e Porto Alegre, com shows em churrascarias, fez parte do júri e, no encerramento, com Plauto e o violinista Zé Gomes (José Bonifácio Kruel Gomes, 50 anos, ex-Os Gauderios, há anos radicado em São Paulo), de um belíssimo show, no qual o programa incluía temas nativistas a um arranjo especial de "Carinhoso".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
16/11/1985

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