Cineastas exigem novo edital para os curtas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de abril de 1988
A Associação dos Documentaristas do Brasil - secção do Paraná reuniu-se durante esta semana para propor a reestruturação do (infeliz) edital do Museu da Imagem e do Som - sem número, sem data, publicado na edição de 29 de março de 1988 do "Diário Oficial do Estado" -, abrindo as inscrições para seleção de projetos de produção de 4 filmes de curta-metragem em 35mm, a cores, durante o ano de 1988.
Além do edital ter sido incompleto (a falta de número e data já o invalida juridicamente), também os termos em que colocou a questão revoltaram os cineastas interessados em terem seus projetos apoiados pelo Estado.
De princípio, sem qualquer discussão mais ampla, o edital pretendeu impor uma camisa-de-força na criatividade dos realizadores ao especificar que "os projetos poderão versar sobre os seguintes temas de livre escolha dos proponentes e/ou sobre os seguintes temas preferenciais indicados por esta secretaria de Estado: "Bento Mossurunga - Vida e Obra de um Maestro", "Artistas Plásticos Paranaenses nas Bienais"; "A Visão do Viajante" (registros de Hans Staden, Sant-Hilaire, Debret, Elliot, etc.) e "Ruptura" (sobre o "Salão dos Prejulgados").
Se dois temas (Bento Mossurunga e Visão dos Viajantes), ainda podem serem aceitos, já que oferecem condições para pesquisas, inclusive iconográficas, em relação aos temas das artes plásticas a proposta é absurda. Até hoje, a presença do Paraná nas bienais tem sido tímida, praticamente sem maiores registros. E o "Salão dos Prejudicados", no entendimento mesmo de estudiosos de nossas artes plásticas, não justifica o investimento de mais de Cz$ 5 milhões (que é o que custa um curta-metragem) para ser feito um filme a respeito. Como argumentou o cineasta Werner Schulman, "para estes dois temas, um bom vídeo de 5 minutos sobre o assunto".
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Há projetos importantes entre os jovens cineastas que vêm evitando - até hoje praticamente sem qualquer auxílio oficial -, o cinema paranaense. Nivaldo Lopes, o "Palito", que há três anos conseguiu realizar o média-metragem "A Guerra do Pente", tem pronto o roteiro para um documentário sobre o compositor Lápis (Palmilor Rodrigues Ferreira, 1943-1978), que não se limitará a sua presença, mas extrapolará para toda uma época da vida musical curitibana. Já Altenir Silva, o "Bolinha", realizador de "O Açougueiro do Norte Contra o Cineasta Voador" (que, finalmente, obteve aprovação do Concine, para ser exibido dentro da reserva de mercado destinado aos curtas), trabalha há tempos num roteiro sobre seresteiros, em projeto que pode resultar num documental trabalho.
Enfim, existem dezenas de temas importantes para serem documentados. É justo que a secretaria da Cultura, ao investir recursos na produção faça sua escala de preferência - mas dentro de um amplo debate e análise daquilo que realmente se justifica.
Felizmente o secretário René Dotti, da Cultura, homem democrático e capaz de reconhecer as justas reivindicações, já se dispôs a revogar o edital e estudar uma nova proposta.
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