Quando Antônio Gil Almeida, presidente da Federação Paranaense de Cineclubes, aproveitou uma das sessões do I Encontro de Cineclubistas da Região Sul, realizado na Cinemateca do Museu Guido Viaro, no último fim de semana, para denunciar, mais uma vez, publicamente, a total falta de apoio ao movimento no Paraná, por parte da Secretaria da Cultura e Esportes (sic) mais de 50 participantes - vindos de várias partes do País - ficaram estarrecidos com o que ouviram. Gil lembrou a indiferença da paquidérmica e incompetente Secretaria da Cultura que, no ano passado, se recusou a colaborar para que os cineclubistas paranaenses participassem de uma reunião nacional, em Ouro Preto - sendo que os dirigentes da entidade, ao percorrerem os acarpetados tapetes daquela inútil (ao menos na administração José Richa), pasta foram tratados grosseiramente. Resultado: além do fato já ter sido denunciado no jornal "Opção Cultural", há alguns meses, vem sendo, com toda razão, levado ao conhecimento nacional, para mostrar ao Brasil, um pouco do descalabro que ocorre no Paraná no setor cultural. Em compensação, Antônio Gil Almeida fez questão de destacar a colaboração que a Cinemateca vem dando ao movimento, homenageando o seu diretor, Francisco Alves dos Santos - e estendendo o agradecimento ao secretário municipal de Cultura, Carlos Frederico Marés de Souza, o qual, presente a reunião, elegantemente, transferiu à sua equipe os elogios recebidos. xxx Produtivo e prático, o encontro dos cineclubistas movimentou a Cinemateca na sexta-feira e sábado. Houve reuniões objetivas e, na manhã de sábado, a participação de José Carlos Avellar, diretor da área cultural da Embrafilme e Gustavo Dahl presidente do Concine, trouxe palavras de ânimo aos cineclubistas - movimento que voltou a crescer no Paraná nestes últimos 3 anos, graças especialmente ao trabalho da Federação, presidida por Antônio Gil Almeida. Sem qualquer participação da Secretaria da Cultura - ao contrário, sofrendo a hostilidade e boicote do órgão estadual que deveria apoiar o movimento - os cineclubes se multiplicaram pelo Paraná e ainda este ano, dois ciclos mostrando o cinema e o vídeo paranaense estão sendo levados a vários municípios. Quem ajudou nesta realização foi a Cinemateca do Museu Guido Viaro e a Embrafilme. xxx As discussões políticas foram bem menores do que se poderia esperar. Apenas dois cineclubistas, de outros Estados, pretendiam fazer colocações hostis em termos da política nacional da área - com vistas as eleições para o Conselho Nacional, a acontecer em julho próximo, em Brasília - e na qual o nome de Antônio Gil Almeida é o mais forte para cargo máximo. Infelizmente, devido a compromissos em Assunção, a jovem Diana Bañuelos, secretária geral da Juventude Revolucionária Febrerista do Paraguai, não pôde participar. Em compensação, dois dirigentes do Cine Clube La Quimera, de Cordoba, Argentina - Gustavo Goldes e a sensual Letícia Taborda, enfrentaram mais de 40 horas de viagens em ônibus para trazerem informações sobre os novos tempos do cineclubismo argentino, exibindo, inclusive, interessantes filmes realizados por crianças naquela cidade. Mais de 80 cineclubistas, representando 21 entidades - da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - mostraram que o movimento está forte e vigoroso. Inclusive em termos críticos, como mostram as charges espalhadas pelas paredes da Cinemateca ou na capa do número 5 de "Opção Cultural", que não perdoam ao presidente Sarney pela proibição de "Je Vous Salue, Marie", de Godard.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 13

Data: 03/06/1986