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Aramis

Da nostalgia à televisão

Um dos planos de Maurício Quadrio, na direção de projetos especiais na Phonogram, era dar continuidade [à] série "Hollywood History", editando após a primeira coleção de dez [álbuns] duplos, com as trilhas sonoras dos clássicos da MGM - e cuja tiragem inicial de 5 mil cópias praticamente já se esgotou - novos [álbuns] com os scores de musicais (ou não) de outros estúdios. Houve porém a sua transferência para a Odeon e com isso o projeto foi, se não abandonado, ao menos adiado. Em compensação, na semana que começava a trabalhar na Odeon, ao visitarmos Quadrio em seu escritório, no RJ, encontramos sobre sua mesa a capa de um álbum com as trilhas sonoras de dois clássicos filmusicais estrelados pela dupla Fred Astaire (Omaha 10/5/1899) e Ginger Rogers (Virgínia Katherina McMath, Montana, 1908): "Picolino" (Top Hat, 35, de March Sandrick) e "Shall We Dance", 1937, também de [Sandrick]. Dois clássicos das filmografias deste trio - Astaire-Rogers Sandrich, as trilhas sonoras destes musicais foram realizadas por nomes da maior importância: "Top Hat", com letras e músicas de Irving Berlin (Temun, Russia, 1888) e direção [musical] de Max Steiner (Maximilian Raoul Steiner, Viena, 1888-Holywood, 1971). Já "Shall We Dance", teve música de George Gershwin (1898-1937) e letras de seu irmão Ira (New York, 1896) e direção musical de Nathaniel Shilkeret (New York, 1895). Portanto, o valor documental de um álbum como este (ODEON/MI, XEMC 803, fevereiro/77) é tão importante quanto a beleza das músicas. A primeira edição, feita em 1974 por Chris Ellis e John Wadley, alcançou imenso êxito, e a Odeon nacional está de parabéns por lançá-la agora, no mercado nacional. Uma das melhores edições do ano! A mesma Odeon, está lançando a trilha sonora original de um espetáculo da Broadway - "The Tea Dance" (Pyramid/PY-9006, junho/77), trabalho de D. C. Larue, autor e co-produtor de um dos álbuns que mais sucesso fez nos EUA no ano passado: "Cathedrais". Visando [especificamente] o público das discotecas. La Rue coloca no mesmo liquidificador insonso desta linha comercial de músicas desde clássicos de Arthur Freed/N.H. Brown ("Broadway Mellody") até, pasmem, o samba-de-enredo "No Reino da Mão de Ouro" (Tolito-Rubens da Mangueira), em sua visão reduzido apenas a estrofe-título "O Ba Ba". É imensa a discografia de musicais da Broadway, raramente editadas no Brasil e o lançamento da trilha deste "The Tea Dance" - que tem como convidado especial Lou Christie - só deve-se [às] perspectivas que os técnicos de marketing da Odeon enxergaram no aproveitamento do som liquefeito de La Rue nas discotheques. Há mais de um ano, a Chantecler, então representando no Brasil a MCA Recores, aqui editou a trilha sonora do filme "Car Wash", então ainda inédito no Brasil. O disco passou desapercebido e só agora, com a sua exibição (com o subtítulo de "... Onde Acontece de Tudo"), o público se ligou na sua quente trilha sonora, de Normal Witfield (por sinal premiada no último Festival de Cannes, onde o filme representou os Estados Unidos) e no qual desfilam intérpretes como o grupo vocal The Point Sisters. E, astutamente, a trilha, está sendo reeditada pela Phonogram (23,22195, junho/77), devendo agora atingir um público bem maior. Dispondo de todo um imenso acervo da Unite Artists/Records, a Copacabana pode fazer excelentes edições: assim, lançou a trilha sonora de "Rocky, Um Lutador" (Cinema I), o premiado filme de John G. Avildsen, que ganhou os Oscars de melhor filme, direção e roteiro (Sylvester Stalone, também o astro principal). A música de Bill Conti, também merecia um Oscar - e a prova é que os nervosos temas estão sendo dos mais executados, inclusive aproveitados em jingles e spots, pelo seu ritmo cinematográfico. Um dos melhores discos do ano. Um seleção dos temas de filmes de várias épocas foi montado pela WEA Discos, no álbum duplo "Oscars da Música", com interpretações não originais mas bastante significativas. Assim, com pianistas como Liberace, orquestras como a The Mustic Moods, e até mesmo, em algumas vezes, interpretações originais, surgem as músicas de filmes como "Love Story", "Dr. Jivago", "Laranja Mecânica", "Houve Uma Vez Um Verão", "Amor de Primavera", "Bonequinha de Luxo", etc., ou de produções ainda inéditas no Brasil, como "Medicine Ball Caravane" (com o tema "Black Juju", interpretado por Alice Cooper), entre outras faixas. Um destaque necessário: a inclusão do tema "One Tie Soldier", do inesquecível filme "Billy Jack", de Frack Laughlin, tão mal lançado no Brasil. A música dos "enlatados" de televisão também começa a merecer edições fonográficas: com a John Gregory Orchestra, temos em "TV'S Greatest Hits" (Fontana/Phonogram, abril/77), os nervosos temas das violentas séries de policiais exibidos na televisão, como "Kojak", "Arquivo Confidencial", "Cannon", "São Francisco Urgente", "Columbo", "S.W.A.T.", entre outros. Já os enlatados bangue-bangue também tem suas baladas-temas reunidas no "Tv Western Themes", em interpretação do excelente guitarrista Al Caiola (Sunset/Copacabana, SSLP 40722, junho/77): "Bonanza", "Maverick", "Laranje", "High Chaparral", "Bat Masterson", "Shenandoah" etc. Mas em matéria de trilhas sonoras o que mais vende, sem [dúvida] são as de telenovelas. E neste campo a Som Livre [tranqüilamente], domina o campo. Ainda agora colocou os temas internacionais de "Locomotivas" (Sigla, 404.7087), reunindo vocalistas e grupos já guindados [às] paradas graças a essa superpromoção (Candi Staton, Grace Jones, Steve MacLean, Penny McLean, etc) e os temas nacionais de Dona Xepa", da qual a seleção foi de Guerra Peixe Filho, com algumas faixas muito significativas, como "Pela Luz dos Olhos Teus", com Miucha e Tom (do [aguardado] lp de Miucha, RCA Victor), Maria Creuza ("Dom de Iludir"), Elizabeth Cardoso ("Dona Xepa"), Marcia ("Chorei"), ao lado de [freqüentadores] habituais das paradas, como Antonio Carlos e Jocafi ("Opus Dois"), Ricardo ("Eu Gosto de Você") e Martinho da Vila ("Tudo Menos Amor").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
32
10/07/1977

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