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Aramis

De como e porque nasce um histórico concerto

Hoje à noite (21h30 min., ingressos a partir de Cr$ 70,00), quando o público assistir um dos eventos musicais mais importantes do ano - a estréia de << Vivaldi & Pixinguinha >>, aplaudindo a Camerata Carioca e aquele que é, sem exagero. Uma das personalidades mais notáveis de nossa vida artística, o pianista, maestro e arranjador Radamés Gnatalli, não imaginará que apesar do talento dos integrantes do conjunto e mais de 50 anos de vida musical de Gnatalli, o recital exigiu mais de 6 meses de preparação - e por isso mesmo é que atinge a perfeição que, por certo, fará com que o público aplauda em pé, ao final, e que poderá ter um número extra - talvez << Noites Cariocas >> (Jacob do bandolim), talvez até com a participação de chorões locais, entre os músicos que Hermínio Bello de carvalho, idealizador e diretor do espetáculo, convidou para assistirem o recital. Desde 11 de agosto do ano passado, quando após a estréia nacional de << Tributo a Jacob do bandolim >>, também no Teatro Guaíra (só que então no Guairinha), Hermínio, Radamés, Joel do Nascimento, João Pedro Borges e outros responsáveis pelo evento, mostravam grande emoção, durante um jantar na Iguaçu-Emiliano (Maurício Carrilho, 22 anos então, emocionado, foi para o hotel a fim de descarregar a sua tensão, pelos momentos dos quais havia participado), nascia a idéia de um novo espetáculo, que não ficasse apenas em uma apresentação musical. A homenagem que Hermínio Bello de Carvalho havia idealizado ao seu amigo Jacob Pick Bittencourt (falecido a 13 de agosto de 1969, com 61 anos) não poderia ter conseguido um maior << clima >> - ou bom astral - como dizem os jovens. Agora, quando a WEA lança em Lp aquele recital (inicialmente deveria sair pela Odeon-EMI, mas problemas contratuais com Joel do Nascimento, fizeram com que o tape ficasse interditado até que a Warner, por sugestão de seu produtor Sérgio Cabral, adquirisse os direitos para editá-lo), ocorre em Curitiba um outro evento - que também será gravado, a apartir de evento - que também será gravado, a partir de amanhã, no Sir-Laboratório de Som & Imagem, para uma produção independente, selo MIS - PR/Rádio Estadual do Paraná, representando a soma de esforços das Secretarias da Cultura e Esporte e de Comunicação, para que fique um documento deste evento. Um registro que não é apenas da Camerata Carioca e Radamés Gnatalli, mas que será reflexos locais: no sábado, ao estúdio de gravação (que Hermínio, com sua experiência de 17 anos de produção fonográfica, classificou como um dos melhores do País), era ampliada a idéia de se fazer um gravação com instrumentistas locais, possivelmente do grupo Sambas & Serestas (que aos domingos, atua na Praça Garibaldi), para um compacto, ou mesmo futuro elepê. Ou seja, um disco em que os espontâneos chorões de nossa cidade, puros e autênticos em seu trabalho muitas vezes anônimo, terão a experiência, a honra de participações especiais de músicos como Joel do Bandolim. Radamés. Maurício Carrilho, Luiz Otávio Braga, João Pedro Borges e os irmãos Henrique (bandolim) e Humberto (percussão) Leal. Uma idéia recém-surgida, que ainda não foi detalhada, mas que se integra no espirito de Hermínio em que o importante é não apenas realizar um recital, mas plantar raízes, criar condições locais para que o trabalho frutifique. xxx Aos 74 anos, uma formação musical que percorre do clássico ao popular, num trabalho que o faz merecedor de ser incluído na galeria dos maiores talentos da música brasileira, Radamés Gnatalli mostra extraordinária juventude. Uma juventude que o fez se entusiasmar com os membros da Camerata Carioca e imaginar a transcrição para cordas de violões, bandolim e cavaquinho - e mais a percussão, dos jovens << Cameratos >> - e para os teclados de piano e o cravo, de peças de Bach e Vivaldi, além de uma << leitura >> de chorões, dobrados e mesmo valsas de compositores tão importantes, mas muitas vezes tão esquecidos. Some-se isto à visão perfeita que faz de HBC um dos produtores-diretores artísticos de maior consideração no panorama artístico nacional e temos a receita ideal para um evento musical único. Entre a primeira idéia de unir Antônio Vivaldi (1674-1741) a Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho, 1879-1973), num concerto onde o cravo convive com o cavaquinho, a estréia de hoje à noite, se passaram meses de ensaios, estudos, troca de idéia. Ainda no sábado, domingo, segunda-feira e mesmo hoje à tarde, numa das salas de ensaios da FTG, todos os responsáveis pelo evento << passaram >> todo o programa. João Pedro Borges, 33 anos, maranhense de São Luiz, formação erudita e popular (já tem um Lp-solo de temas de Bach e dois divididos com Turíbio Santos, de quem é o principal assistente), como diretor artístico da Camerata, busca o ajuste de todas as notas, repassando cada harmonia, trocando idéias, discutindo musicalmente com mestre Radamés - numa pesquisa para perfeição, que apenas comprova a seriedade com que todos se integram. Quando tantos nomes ditos consagrados costumam apresentar-se ao público sem sequer fazer um ensaio, é admirável que profissionais competentes - e experientes como maestro Gnatalli façam questão de avançar em seus ensaios, chegando à exaustão, para uma audição, cujos resultados poderão serem aplaudidos (e como devem!) hoje à noite, numa ocasião única. Após a gravação do Lp - cuja capa já está sendo criada por Cleto de Assis, artista plástico e apaixonado pelo boa música - o grupo retorna ao Rio, onde, no final do mês, no Teatro João Caetano, fará um concerto para lançar o Lp >.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
10/06/1980

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