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Aramis

Edla, Athayde & João

Depois de ter organizado uma antologia de contos de mulheres escritoras, Edla Van Steen, que passou sua juventude em Curitiba, onde fez jornalismo, teatro e mesmo cinema (atuando "Na Garganta do Diabo", 1959, de Walter Hugo Khouri, rodado em Foz de Iguaçu), acaba de organizar novo livro, "Papel do Amor", uma edição bilingüe com 3.000 exemplares em português, e 2.00 em inglês, produzido especialmente para as Indústrias de Papel Simão S/A, como brinde a seus clientes. O livro reúne 15 grandes autores brasileiros, selecionados por Edla, cada um escrevendo à sua maneira sobre o fascinante papel do amor. *** Vicente de Paula Athayde, professor da Universidade Católica do Paraná, está desde meados de março na "University of Minnesota", em Mineapolis, orientando um curso no "Departamento of Spanish and Portugueuse" e decidiu usar O ESTADO DO PARANÁ em suas aulas como leitura diária dos alunos. Explica, em carta, o próprio Athayde: "Um dos cursos do que vou ministrar é da língua portuguesa - composição e expressão. Os diretores do Departamento sugeriram a leitura regular de um jornal brasileiro. Aí me lembrei d`O ESTADO. O jornal ficará na sala dos estudantes - um setor especial que existe aqui no Departamento. Serão aproveitadas notícias, editoriais, propaganda etc, como tema de composição. Para domínio de língua farei leitura diárias de algumas matérias. Acho que através do jornal trarei aos alunos um pouco de vivência brasileira diária. Ao mesmo tempo, é bom que se diga, nada encontrei na Universidade ou na cidade que remetesse ao Brasil. Assim é preciso criar o ambiente". *** João Antônio, o consagrado autor de "Malagueta, Perus e Bacanaço", lançou novo livro, "O Copacabana!" (Editora Civilização Brasileira, dezembro/78), mas mostra-se preocupado com a crise no setor de livros no Rio de Janeiro. Em carta ao seu maior amigo em Curitiba, o jornalista e escritor Wilson Bueno diz: "Imagine que a maior rede distribuidora de livros, a Entrelivros, não compras mais nada desde 15 de dezembro passado. Assim, como e Entrelivros significa hoje mais de 60% do movimento livrerio do Rio, posso lhe garantir que o livro, principalmente o de autor nacional é um produto cultural morto, mortinho. Não circula, não é distribuído". Apesar dos pesares "O Copacabana!" chegou a lista dos mais vendidos da "Veja". Conta ainda João Antônio - que nos últimos meses vem dando cursos e palestras em Universidades (eis uma dica para as nossas instituições) está se dedicando este ano a leitura e releitura dos russos: "Os russos são bons de mais. Que literatura! É fora de dúvidas, a barra mais pesada que a literatura mundial já conheceu. Com os russos eu não só aprendo a escrever. Aprendo a olhar a vida e o homem na vida. Uma coisa é ler os russos aos vinte anos. Lê-los, nesta altura dos fatos, é outro pavilhão do sanatório, outro departamento, outra câmara de tortura. E de iluminação. Sabe porque eles foram e são grandes, eternos? Escrevem com as vísceras e com o coração. Escrevem sangrando. E mandam todas as regras formalistas ao diabo. Escrevem a vida e não literatura. Assim estou fazendo lastro, armazenando. Enquanto houver a mulher, haverá Turquiêniev. Enquanto houver o homem e a mulher, haverá Dostoiévaski. Enquanto houver o homem, a mulher e o amor, haverá Tchecov. Enquanto houver a paixão e o medo haverá Leonid Andeiev. Enquanto houver o amor desesperado e a esperança dentro da dor haverá máximo Gorki. E enquanto houver o diabo, haverá Nicolai Vassilievitch Gogol. Todos esses homens foram profetas, santos e bandidos, vagabundos e errantes, sujeitos a todas as tempestades de alma e de amor, envolvidos diretamente com o ciúme, a vingança, o crime, o perdão, o castigo e a impunidade. Melhor do que eles, talvez nem o Velho Testamento".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
15/04/1979

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