Estreantes vencem no Festival de Curitiba
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de outubro de 1989
Dois estreantes em longa-metragem, 35mm, acabaram sendo os principais vencedores do I Festival de Cinema Cidade de Curitiba: Alain Fresnot, 38 anos, com "Lua Cheia" e "Maria Letícia", 42, com "1º de Abril - Brasil" ganharam nas categorias principais: melhor filme e direção. E com isto viajarão - quando quiserem - para a República Federal da Alemanha, utilizando as passagens que a Lufthansa ofereceu como premiação principal.
Dentro da modéstia, improvisação e falta de experiência de seus realizadores, o evento cinematográfico que movimentou o Cine Ritz e as salas Brasílio Itiberê e Arnaldo Fontana (Cinemateca) na semana passada foi um embrião que poderá frutificar nos anos seguintes. Infelizmente, Curitiba tem uma triste tradição de edições únicas de promoções que poderiam dar certo se houvesse continuidade. Há 33 anos, quando prefeito de Curitiba, o então major Ney Braga, encarregou sua oficial de gabinete Edla Van Steen (hoje esposa do crítico Sábato Magaldi, ex-secretário da Cultura de São Paulo), de coordenar um festival realizado no antigo Cine Ópera, que premiou o então estreante Walter Hugo Khouri com seu já bergmaniano "Estranho Encontro". Khouri, hoje aos 60 anos, é ainda grato àquela premiação e só não veio integrar o júri Festival-89 devido a problemas familiares.
Mais festas cinematográficas do que festivais as 8 edições da Tribunascope que Júlio Neto organizou quando editava sua coluna de cinema da Tribuna do Paraná, movimentaram a bucólica capital dos anos 60. A Mostra do Cinema Latino-Americano ficou apenas na primeira e única edição há dois anos (3 a 10 de outubro/87), embora pudesse evoluir como um evento importante.
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Contando com uma generosa ajuda da Secretaria da Cultura, Alcy Ramalho Filho, colunista da "Gazeta do Povo", decidiu ampliar também para o cinema suas promoções que já incluem um salão de artes plásticas (e vídeo, a partir de 89) e concursos literários ("Gralha Azul"), este com financiamento do Banestado. Ágil em seus contatos comerciais, conseguiu o apoio da Texaco (em valores não definidos publicamente) e da Lufthansa para o festival que, mesmo com uma pequena estrutura operacional, poderá entrar no calendário nacional de eventos cinematográficos. Afinal, garra para dar continuidade às suas promoções - nos campos das artes plásticas e literatura - Alcy vem demonstrando e mesmo sofrendo oposições e críticas, acabou fortalecendo-as. Suficientemente habilidoso no relacionamento com o governo e patrocinadores, poderá obter aquilo que, quando fica apenas na esfera oficial, fracassa: continuidade. Portanto, neste aspecto o festival que promoveu entre os dias 25 a 30 de setembro alcançou seus objetivos.
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Temeroso da falta de filmes para competição, Alcy elaborou um regulamento que descartou a pré-seleção. Um grave erro que trouxe sérios problemas, especialmente na área dos curtas e médias-metragens, com mais de 70 inscrições - misturando amadorísticos a obras já premiadas em outros festivais. O Júri formado pelo cineasta Hugo Mengarelli, cinéfilo e cartunista Edson Cortiano e o exibidor Aleixo Zonari, sofreu o pão que o diabo amassou: foram cinco dias de exaustivo trabalho visual para selecionar o joio do trigo e conseguir um resultado harmonioso.
Já o júri dos longas - do qual fizeram parte Ricardo Cravo Albim (ex-diretor do MIS-RJ e do INC), Valkiria Barbosa (diretora do Rio Cine Festival) a crítica Pola Vartuck ("O Estado de São Paulo"), Francisco Alves dos Santos (responsável pelo setor de cinema da Secretaria Municipal da Cultura) e este colunista - teve melhor sorte. Apesar de dois trabalhos da mais absoluta mediocridade terem sido concorrentes - "Fugindo do Passado", de Adélia Sampaio e "Atração Satânica", de Fauzi Mansur - dos cinco outros longas em competição, foi possível (com um pouco de boa vontade, é claro), extrair os merecedores dos onze prêmios criados pelo escultor Luiz Gagliastri. Aliás, originalmente seriam apenas nove, mas com a aprovação de duas premiações especiais e criação da categoria de trilha sonora, por nossa sugestão, o escultor Gagliastri, terá que executar nesta semana mais estes troféus a serem encaminhados aos escolhidos.
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