Não é fácil consolidar um festival de cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de agosto de 1987
Os maiores e internacionais Festivais de Cinema são hoje os grandes show-rooms da indústria que um dia o russo Ilya Ehrenburgh definiu como "a usina dos sonhos". Engana-se quem pensa que os festivais são artísticos em sua concepção. Quanto maior torna-se um festival, maiores os interesses dos produtores de filmes nele exibidos. No Brasil, ainda não chegamos a esta era fria e implacável - e eventos como o de Gramado e Brasília, os mais famosos do cinema brasileiro, possuem ainda aquela estrutura artesanal. Em Gramado, especialmente, o festival é algo feito com amor pela comunidade. Já em Brasília, a Fundação Cultural do Distrito Federal, hoje presidida por Reynaldo Jardim, é quem coordena o evento devido a problemas políticos.
O Festival de Caxambú, que foi realizado quando José Aparecido era secretário da Cultura do governo de Minas Gerais, não resistiu a sua saída e acabou morrendo - mal que atingiu mais de 30 outros festivais, espalhados em cidades de todo o País e que não passaram de duas, no máximo três edições. Apaixonado por cinema (seu pai foi exibidor na Lapa), uma das primeiras ações culturais de Ney Braga, quando prefeito eleito de Curitiba, em 1975, foi aqui promover o I Festival do Cinema Brasileiro, no saudoso Cine Ópera, e que deu ao hoje consagrado Walter Hugo Khouri as suas primeiras premiações: melhor diretor por "Estranho Encontro", considerado o melhor filme e que valeu ainda os prêmios de melhor ator (Luigi Picchi, já falecido) e atriz (Andréa Bayard, que desapareceu das telas). Roberto Santos, falecido dia 3 de maio, em São Paulo, aos 59 anos, devido a frustração de ver seu filme mal recebido em Gramado ("Quincas Borba"), foi premiado no Festival de Curitiba como melhor argumento por "O Grande Momento", seu primeiro longa-metragem - e até hoje um clássico do Cinema Novo. O melhor fotógrafo daquele festival foi Rodolfo Icsey, por "Cara de Fogo".
Apesar do sucesso do Festival, o mesmo ficou apenas numa primeira edição. Posteriormente, a partir de 1960, Júlio Neto, colunista de cinema da "Tribuna do Paraná", promoveu 8 edições da festa do "Tribunascope de Ouro", que não se constituía num Festival. Numa noite festiva, com uma pré-estréia (geralmente um filme americano), artistas nacionais e estrangeiros em trajes de gala, subiam ao palco do antigo Cine Vitória (hoje fechado, destinado a se transformar no Centro de Convenções) e recebiam troféus para si ou representando colegas. Mas a promoção "Tribunascope" movimentava Curitiba e chegou a trazer artistas que provocaram tumultos de fãs nas ruas - como Janet Leigh, Tony Curtis, Karl Malden, Satatis Ghianellis (do filme "Terra do Sonho Distante"), entre outros.
Em Fortaleza, ocorre agora a segunda edição de um Festival (a primeira foi em 1985), que tem como diretor o cineasta Pedro Jorge de Castro, diretor de "Tigipió" (premiado em Brasília e no FestRio, ainda inédito em Curitiba). Este Festival - o primeiro do Nordeste - reuniu neste ano, pelos menos quatro dos mais importantes filmes da temporada, que não puderam ir a Gramado: "Um Trem Para as Estrelas", de Cacá Diegues (representante do Brasil em Cannes); "Ele, o Boto", de Walter Lima Jr.; "Sonho de Valsa", de Ana Carolina e "O País dos Tenentes", de João Batista de Andrade. Só com estes participantes, o Festival de Fortaleza ganhou o maior destaque nacional.
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