Os bons resultados do Festival de Brasília
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de outubro de 1987
Brasília
A vigésima edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro encerrou na madrugada de quarta-feira, 21, com a distribuição de Cz$ 5 milhões em prêmios e a exibição de uma seleção de curtas metragens, mas a festa cinematográfica continua. Na tarde de quarta-feira, muitos dos jornalistas, realizadores e artistas aqui presentes já embarcavam para o Rio Grande do Norte, onde o I Festival do Cinema de natal, iniciou na segunda-feira, dia 19, prosseguindo até domingo, 25. Promoção do Governo do Estado, por decisão oficial do governador Geraldo Melo, a competição potiguar foi organizada pelo jornalista Valério Andrade, crítico da revista "Manchete" e nascido no Rio Grande do Norte.
Três dos filmes que concorreram, em Brasília estarão também disputando o troféu "Estrela do Mar", em Natal: "A Fonte da Saudade", de Marco Altberg: "Leila Diniz", de Luís Carlos Lacerda e o documentário "A Guerra do Brasil". Concorrem também "Deu no New York Times", do cartunista Henfil (Prêmio do júri popular do último FestRio), e "Boi de Prata", produção rodada no Rio Grande do Norte, direção de Augusto Ribeiro Júnior, também estarão concorrendo.
Para presidir o júri em Natal, Valério Andrade conseguiu arrancar de sua casa, no Rio de Janeiro, um dos mais veteranos críticos de cinema do Brasil, Antônio Moniz Viana, que durante anos escreveu no extinto "Correio de Notícias". Amigo pessoal de outro veterano do cinema, o diretor argentino-brasileiro Carlos Hugo Christsen, Valério levou para a mostra não competitiva dois dos mais bonitos filmes deste diretor: "Meus Amores no Rio" e "A Intrusa". Também estão sendo exibidos em Natal, HORS CONCOURS, "Um Trem para as Estrelas", de Cacá Diegues; "Eles não Usam Black Tie", de Leon Hirzman; "Nem Tudo é Verdade", de Rogério Sganzerla e "Pedro Mico", que Ipojuca Pontes adaptou da peça de Antônio Callado e que há mais de três anos continua inédito comercialmente.
O bom saldo
Embora seja impossível comentar os resultados finais do 20º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro no momento em que enviamos este texto - já que o mesmo é preparado antes do anúncio dos resultados oficiais, mantidos em sigilo até a noite de quarta-feira - o fato é que mais uma vez o Festival de Brasília conseguiu bons resultados.
Se Gramado é o festival mais atraente em termos de turismo, por se localizar numa região paradisíaca do Sul, e os novos festivais que começam a surgir no nordeste - como o de Fortaleza e natal, tem o belíssimo litoral como atrativo - o Festival de Brasília tem a marca da resistência cultural. Nascido como mostra competitiva, idealizada pelo sempre saudoso e respeitado Paulo Emílio Salles Gomes quando este aqui coordenava o curso de cinema da UNB (e pelo qual passaram muitos jovens que hoje são cineastas realizados, como Tizuka Yamazaki), o Festival de Brasília sofreu interrupção por três anos (72/74), devido a ditadura militar, à qual o clima de rebeldia e contestação do evento incomodava. Nas 19 edições realizadas a partir de 1965 - quando foi consagrado "A Hora e a Vez de Augusto Maltraga", de Roberto Santos (homenageado agora, com a projeção de seu primeiro filme, "O Grande Momento", 1958) - muitos cineastas tiveram neste festival a chance de ganhar projeção nacional. Assim, Marco Antônio Guimarães, da Fundação Cultural do Distrito Federal, pode orgulhar-se de seu trabalho, pois a ele se deve tanto a fase de implantação de evento como, após seu retorno à sua coordenação, o reerguimento do festival. A competência de Marco Antônio e sua equipe, a começar pelo baiano José da Matta, é tamanha que mesmo problemas político-burocráticos - como a substituição de Reynaldo Jardim na Direção Executiva da Fundação pelo compositor Marlos Nobre (que se encontra em Paris, para onde viajou após tomar posse numa discreta solenidade) e o corte do orçamento do festival pela metade (apenas Cz$ 10.000,00 dos Cz$ 20.000,00 previstos), não impediram que o evento conseguisse atingir seus objetivos, trazendo filmes importantes, dando uma amostragem da nova geração de realizadores através dos curta-metragens, promovendo debates e trazendo também a seção informativa na qual, por exemplo, pode-se assistir, em excelente cópia, "Martin Fierro", que o argentino Torre-Nielsin realizou há 18 anos, vencedor do I Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, mas que nunca teve lançamento no Brasil - permanecendo como misterioso Cultmovie e cuja única cópia existente no arquivo da cinemateca do MAM foi trazida pelo seu conservador, Cosme Alves, como homenagem aos 20 anos do Festival de Brasília.
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