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Aramis

Erasto, o prefeito que oficializou o Carnaval

Faltou informação aos dirigentes da Escola de Samba Acadêmicos do Samba para sugerir um tema do enredo que apresentaram neste ano, na busca, pela 37ª vez (em seus 42 anos de existência) do título de campeão do Carnaval curitibano. É que poderiam ter prestado uma bela homenagem ao prefeito que instituiu o Carnaval de rua em Curitiba, estabelecendo os desfiles competitivos que, a partir de 1952, vieram dar um sentido de maior entusiasmo a nossa festa popular: Erasto Gaertner. Justamente neste ano em que se comemora o 90º aniversário de nascimento de Erasto Gaertner - em data de hoje - a lembrança do prefeito que teve entre 3 de outubro de 1951 a 19 de maio de 1953 uma das melhores gestões, não deve ficar apenas em suas obras urbanas, na preocupação social que caracterizava-o como médico e político, mas também o do homem alegre, espírito carnavalesco (na juventude, formava ao lado de sua esposa, dona Anita, um dos mais animados casais em bailes da cidade) e que, como prefeito, entendeu a importância do Carnaval ter o apoio oficial. xxx Nesta manhã, quando, num ato de justiça, o arquiteto Jaime Lerner - que sempre reconheceu a importância de Gaertner como prefeito de Curitiba - estava na solenidade de recolocação da placa com o seu nome, no obelisco (há anos abandonado) na avenida que leva o seu nome, próxima ao Country Clube, é importante lembrar mais alguns aspectos de Erasto Gaertner, que em apenas 17 meses de administração - vindo da Secretaria da Fazenda e após ter sido deputado federal (foi um dos Constituintes da carta de 1947), realizou uma gestão marcante. Ao mesmo tempo que se preocupou em que fosse implantado o primeiro cadastro técnico e fiscal do município - trazendo maior justiça e equilíbrio na cobrança de impostos - Gaertner criou uma granja municipal, e estimulou a então Companhia Telefônica Nacional a instalar telefones públicos, criou restaurantes populares e, em 7 de maio de 1952, assinava a Lei 476 que viria disciplinar, atualizar e uniformizar os serviços de transportes coletivos - até então sem uma intervenção mais rígida do Executivo Municipal. xxx Antenado com a importância da comunicação, Erasto Gaertner já em 1852 pensava na necessidade do município possuir uma emissora cultural - numa época em que apenas as rádios Clube Paranaense (desde 1927), Marumby (a partir de 1946) e a Guairacá (1948) disputavam um mercado vigoroso na radiofonia em seus anos de ouro. Em 1º de julho de 1952, foi sancionada a Lei 515, aprovada pela Câmara, que autorizava o município instalar a Rádio Centenário, "como rádio de cultura municipal". Infelizmente, com a sua morte, o prefixo nem chegou a ser implantado. Em compensação, a primeira estrutura de um Departamento Municipal de Turismo e Propaganda nasceu de seu decreto 578, sancionado em 12 de novembro de 1952 - que, com algumas modificações, seria mantido por mais de 20 anos - e hoje, inclusive na área de turismo, está a espera da tão sonhada reforma administrativa. O setor de turismo nasceu com várias finalidades - entre as quais de fazer um levantamento de capacidade de hospedagem da Capital (que na época era reduzido, o que levaria, o sucessor de Gaertner, José Luiz Guerra Rego, a criar mecanismos para a construção de novos hotéis), programar recepções a visitantes ilustres e, especialmente, "programar festividades de Carnaval" - oficializando a festa que, até então, nunca tivera qualquer ajuda oficial. Na área de propaganda, estavam entre as finalidades "organizar a secção de filmagem e fotografia" (aonde ficaram os filmes e fotos porventura feitos naquela época?), organizar roteiros de programações e, semestralmente, editar um índice turístico de Curitiba, "incluindo em cada edição, as alterações ocorridas". Passados 38 anos, o arquiteto Walter Angel, que, como aqui noticiamos, está fazendo das tripas coração para estruturar um mínimo setor turístico municipal, vem se empenhando para editar um guia turístico de Curitiba - que, observem só, por lei, o município deveria editar semestralmente desde 1952... xxx São apenas algumas lembranças da administração Erasto Gaertner - cuja vida e obra como prefeito deverão merecer um dos próximos volumes da série "Memória Urbana", do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba, que vale a pena lembrar nesta terça-feira, data de seu 90º aniversário de nascimento, tendo falecido no cargo de Prefeito, a morte de Gaertner foi das mais sentidas pela população - que em sua administração aprendeu a vê-lo como um dos melhores administradores que a cidade teve.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/04/1990

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