Médico, político, prefeito e humanista: um homem estimado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de abril de 1990
Para entender a importância de Erasto Gaertner como prefeito de Curitiba, nomeado por seu amigo e correligionário Bento Munhoz da Rocha Neto, tomando posse em 3 de outubro de 1951, é preciso viajar à cidade de quatro décadas passadas.
No limiar de um profundo processo de transformação urbana - que o boom do café traria ao Paraná, com naturais reflexos na Capital, e, principalmente, às vésperas das comemorações do centenário de emancipação política, que o governador Bento Munhoz desejava marcar - como conseguiu - de uma forma intensa, através de um conjunto de obras definitivas (Centro Cívico, Teatro Guaíra, Biblioteca Pública, etc.), a cidade precisava de um administrador capaz de somar a competência executiva, com uma visão social e o necessário equilíbrio político. Erasto Gaertner, de raízes humildes mas que se projetou em sua vida política e profissional de forma brilhante, em prejuízo das atividades médicas, professor de Clínica Urológica da Faculdade de Medicina da UFP a partir de 1931; formado em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina em 1925; cursos de especialização em Paris, Berlim, Munique e Praga, revelou-se sempre um bom administrador. Passando por funções no Departamento de Medicina Legal e Leprosário São Roque, foi quem construiu, com suados esforços, o Instituto de Medicina e Cirurgia do Paraná - e, pioneiro na fundação da Liga Paranaense de Combate ao Câncer, sonhava na implantação de um hospital especializado - o que só aconteceria três anos após a sua morte, graças ao empenho e dedicação de sua esposa, dona Anita Mehry Gaetner (1905-1985).
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O médico humano e competente, com uma profunda visão social, se refletiria no político, elegendo-se deputado estadual em 1934 e, 12 anos depois, com a volta da Democracia, integrando a bancada da União Democrática Nacional na Constituinte, como deputado federal. Desta vivência política, se aprofundaria sua amizade com Bento Munhoz da Rocha Neto que, eleito governador, o convocou para a Secretaria da Fazenda. Foi um período curto mas importantíssimo, no qual, demonstrando uma energia germânica, fez com que se estruturassem as finanças para possibilitar o deslanche de grandes obras prevista no governo Munhoz da Rocha.
Mesmo sendo importantíssimo na Secretaria da Fazenda, Bento Munhoz da Rocha Neto o entendeu como o homem certo para ter uma continuidade na Prefeitura. Na época, devido a contingências políticas-administrativas, muitos homens se sucediam na administração municipal, prejudicando e retardando que o primeiro plano de desenvolvimento e planejamento urbano de Curitiba - elaborado em 1949 pelo urbanista francês Alfred Agache - tivesse a implantação necessária.
Erasto Gaertner, assim, assumiu a prefeitura num momento muito especial. A cidade começava a se expandir para os bairros, obrigando a extensão de serviços públicos, o transporte coletivo começava a exigir maior disciplina e interferência municipal - era a época dos lotações, das primeiras disputadas concessões de linhas de maior movimentação e, com o crescimento da cidade na direção Leste-Oeste, avenidas que embora abertas em administrações anteriores ligavam os bairros como Bacacheri e Portão, apresentavam-se em lamentáveis condições - sem pavimentação, abandonadas em muitos trechos.
Para o asfaltamento das vias de ligação, a Prefeitura implantou a primeira usina de asfalto, instalada no antigo paiol de pólvora (que 29 anos depois viria a se transformar no Teatro do Paiol). Da Alemanha, foram importadas máquinas, equipamentos e até luvas protetoras para os operários, pois Erasto não aceitava o simples progresso sem a dignificação do homem. Assim, recordam os que os conheceram em seus tempos de prefeito, era comum, o próprio Erasto, nas primeiras horas do dia, acompanhar os homens trabalhando na pavimentação das ruas, subindo nas máquinas de concreto usinado - "uma novidade para a época", como diz o arquiteto Gustavo Gama Monteiro, 65 anos, carioca que veio para Curitiba para assessorá-lo na área de planejamento e construção.
Em apenas 17 meses de administração, Gaertner conseguiu entregar asfaltadas as avenidas República Argentina, Mateus Leme, do Cajuru (hoje Presidente Afonso Camargo) e N. S. Da Luz - esta unindo o bairro do Bacacheri, ironicamente, inaugurada na manhã do dia 19 de maio de 1953, poucas horas antes de sua morte.
A emoção e a tristeza por sua prematura morte, levaria que, numa iniciativa especial, a Câmara aprovasse, em tempo recorde, o seu nome para aquela avenida - o que ocorreu pela Lei 680, de 24 de junho de 1953. Foi quando, num pedestal de cimento, se fixaram duas placas alusivas - e que, há muitos anos, foram roubadas.
Terça-feira, dia em que Erasto completaria 90 anos, pela manhã, as placas, agora em mármore, voltarão ao local. Uma forma simpática do prefeito Jaime Lerner em reverenciar o seu antecessor - cuja administração deve ser revista e revalorizada dentro da importância que teve.
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