Espetinho ainda é o que mais fatura
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de outubro de 1986
Com toda sofisticação de ambientes das lanchonetes e drives que se espalham pela cidade, quem mais fatura são os humildes espetinhos da Rua Cruz Machado e adjacências.
A constatação é de João Paulo de Oliveira Mello, que com a experiência de quem, entre 1968/75, chegou a possuir quase 40 lojas da cadeia Tipiti, estima que só os espetinhos do centro da cidade - por sinal, na área mais pesada da madrugada - vendem cerca de 15 mil unidades por dia.
- Somando-se todo o movimento das lanchonetes, drives, etc. da cidade este número não é atingido!
Modestíssimos em suas instalações, sem qualquer esquema especial de higiene, mas com movimentos impressionantes, os espetinhos da Rua Cruz Machado, Ermelino de Leão e outras áreas têm um público fiel - e de grande rotatividade.
Na Curitiba do final dos anos 50, quando apareciam os primeiros vendedores de espetinhos na madrugada, havia quem não acreditasse na aceitação deste tipo de alimentação. O fato é que os que permaneceram na área - como o hoje folclórico Gaúcho, que passou por diferentes endereços antes de se transferir para Santos - foi um dos que mais faturou na cidade, reunindo recursos que lhe garantiram uma tranqüila aposentadoria.
Preocupado em criar uma associação que reúna os vendedores de comidas preparadas - já que o Sindicato dos Hotéis e Similares, oficialmente o representante da classe não comporta mais um comércio tão diversificado - João Paulo de Oliveira Mello, com sua experiência de pioneiro na área de cachorro-quente, vê o mercado crescer cada vez mais. Afora os pioneiros Amatuzzi e Rudi Blum, com seus estabelecimentos na Rua XV de Novembro, a primeira inovação que se trouxe na alimentação rápida na noite curitibana (excluindo-se naturalmente, os bares que sempre serviram sanduíches tradicionais) foi do boêmio Gebren, que no início dos anos 60 instalou uma pequena loja na Alameda Cabral, entre os night clubes Luigi's e Graceful, que mostrando apetitosos cachorros-quentes num assador importado dos Estados Unidos, fez sensação na época.
Em 1968, João Paulo de Oliveira Mello partiu de uma primeira loja Tipiti, na Rua Comendador Araújo, para uma cadeia que se espalhou por toda a cidade e na qual introduziu várias novidades. Afastando-se do ramo em 1975 - após um grupo de vândalos ter destruído a mais sofisticada de suas lojas - Oliveira Mello permaneceu dez anos em São Paulo, dedicando-se ao setor imobiliário. Retornou agora para com uma nova filosofia de marketing fazer da Juriti do Bico Amarelo uma nova rede de alimentação do curitibano.
Há 10 anos, Oliveira Mello também tentou introduzir um serviço de atendimento domiciliar - o Disque-tenha - que fracassou pela falta de infra-estrutura de fornecedores. Hoje, com duas dezenas de pizzarias disputando o fornecimento a domicílio, a cadeia Juriti do Bico Amarelo vai voltar também a este serviço, mas igualmente em métodos diferentes.
Num mercado de grande mobilidade, com um público que sendo jovem reflete novos padrões de comportamento, João Paulo lamenta que devido ao puritanismo e intolerância do Sr. Douglas Haquim, delegado de costumes nos anos 70, o seu projeto de instalar um cine-drive-in na Avenida 7 de Setembro tivesse sido vetado. Agora, com novos e liberais tempos - mesmo considerando a instabilidade atmosférica da cidade - prepara-se para um projeto semelhante, mas adaptado às novas tecnologias: um vídeo-drive, com aparelhos de televisão que atenderão individualmente cada veículo que estacionar - com o filme que o freguês desejar.
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