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Rosa Maria e Marina racham o mais antigo Rotary da cidade

Duas líderes femininas provocaram, sem pretender, uma grande rachadura numa das mais tradicionais instituições masculinas do mundo. Ao serem admitidas como sócias do Rotary Clube de Curitiba - fundado em 20 de março de 1933 e o mais antigo do Paraná (e entre os pioneiros do Brasil), a vereadora Rosa Maria Chiamulera e a empresária Marina Taniguchi desequilibraram a hegemonia machista da instituição e motivaram uma crise interna. Até agora, ao menos 20 dos 100 associados do clube formalizaram seu afastamento, em caráter definitivo, sendo possível que este número aumente nas próximas semanas. O grupo dissidente pensa em criar um novo clube, já que a decisão da diretoria em manter as colegas rotarianas é irreversível. xxx Há muitos anos a médica Rosa Maria Chiamulera sonhava em ser admitida como associada do Rotary, uma instituição fundada em 23 de março de 1905 por Paul Harris, em Chicago. Por duas vezes, Rosa Maria teve seu nome vetado, mas com seu espírito persistente - afinal não é sem razão que conseguiu sua reeleição a Câmara Municipal - insistiu e, no ano passado, conseguiu aprovação. Junto, levou a candidatura da Sra. Marina Taniguchi, outro exemplo de mulher perseverante, independente e corajosa. Proprietária de uma das mais modernas gráficas do Paraná - Executive - esposa do engenheiro Cassio Taniguchi, presidente do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba, Marina vem se destacando no empresariado paranaense. Foi a primeira mulher a fazer parte da diretoria da Associação Comercial do Paraná, e atualmente preside o Sindicato das Indústrias Gráficas. xxx O Presidente do Rotary Clube de Curitiba, advogado Fernando Vital Pereira de Oliveira, nome dos mais conhecidos no meio jurídico, dentro dos princípios de modernidade, entendeu que a entidade não pode continuar bloqueada ao sexo feminino. Embora tenha sido fundada por Paul Harris e seus companheiros de Chicago como "uma organização de homens de negócios e profissionais, unidos no mundo inteiro, que prestam serviço humanitário, fomentam um elevado padrão de ética em todas as profissões e ajudam a estabelecer a boa vontade e a paz no mundo", as coisas mudaram. Hoje, 85 anos após a fundação, as mulheres também assumiram negócios e profissões liberais, tendo, assim, o legítimo direito de aspirar assento neste clube de serviço que se espalha por todo o mundo. A luta para isto não tem sido fácil. Foi o clube de uma pequena elite americana, Duarte, o primeiro que teve a "ousadia" de admitir, em 1983, duas mulheres. Em represália, aquele clube foi excluído da comunidade rotariana internacional. Recorreu à Justiça e obteve não só a reintegração, como as duas pioneiras associadas tiveram confirmadas as suas admissões - abrindo caminho para que casos semelhantes tivessem lugar em outras partes do mundo. xxx Em Curitiba, em 21 de março do ano passado, um grupo de senhoras, muitas delas esposas de rotarianos (mas que não desejam mais permanecer à sombra de seus maridos já que têm suas próprias carreiras), decidiram fundar um clube aberto especialmente ao sexo feminino, com admissão de profissionais de diferentes áreas - conforme prevê os estatutos internacionais. Assim, o Rotary Clube Gralha Azul, que se reúne às segundas-feiras, à noite, no Hotel Del Rey, tem hoje 32 associados sob a presidência da comerciante Wilma Kuster, proprietária da boutique Karim Modas. Generosamente - ao contrário dos colegas rotarianos - as senhoras decidiram abrir as portas aos homens e como fundadores foram aprovados o médico Roberto Hiram, oftalmologista e o técnico de marketing Hamilton Kuster. Recentemente foi admitido um terceiro associado, o publicitário Enio Pernolta. xxx O Rotary Clube de Curitiba, que fundado há 58 anos, já viu passar por seus jantares-reuniões quase mil associados, reúne-se hoje às quintas-feiras na sede da União Rotariana no Bairro do Ahu. Sua tradição é tão grande que foi criado o "Curitiba Cinqüentenário", justamente para abrigar os filhos dos sócios veteranos. O crescimento da família rotariana não permitia mais uma expansão com filhos dos associados de forma que a solução foi criar este novo clube que se soma a dezenas de outros que já funcionam no Distrito 473. Só que, no entendimento de alguns de seus membros, o ingresso de mulheres desestabilizaria a instituição, razão pela qual a partir do momento em que Rosa Maria e Marina passaram a ter assento em seus jantares-reuniões, muitos começaram a se sentir desconfortáveis - não tendo outra opção do que solicitar suas demissões. Comenta-se, extra-oficialmente, que pelo espírito de liderança de Rosa Maria (que não esconde seus sonhos de vôos maiores na política) e Marina (lembrada várias vezes como candidata ideal das classes empresariais à Câmara ou Assembléia) não será surpresa se, antes do ano 2000, uma delas chegar à presidente do clube e dali tentar repetir o feito que o brasileiro Paulo Viriato Correia da Costa já conseguiu: presidir o Rotary em nível mundial, com o lema "Valorizar o RC com fé e entusiasmo".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17/04/1991

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