Este jovem Guarnieri
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de setembro de 1987
Foi emocionante. Nas noites de sexta-feira (Teatro do SESI) e sábado (Auditório da Reitoria), o maestro Norton Morozowicz, 39 anos, antes de apresentar a estréia mundial de "Improvisos", chamou ao palco o seu autor, Camargo Guarnieri, 80 anos, e lhe entregou a batuta para reger a Orquestra de Câmara de Blumenau. Norton, com sua flauta dourada, foi o solista da peça que Guarnieri lhe dedicou e que constituiu o ponto alto do concerto comemorativo ao lançamento do álbum duplo "Viva Villa", o sétimo que a Orquestra de Câmara de Blumenau grava em apenas seis anos de existência.
Esbanjando vitalidade, bom humor e ironia, o maestro Guarnieri passou quatro dias em Curitiba. Se na entrevista coletiva, mostrou-se um tanto amargo - como tão bem a jornalista Adelia Maria Lopes transmitiu em seu texto publicado do "Almanaque", de domingo passado, posteriormente, na recepção a que se seguiu o concerto da Orquestra, na noite de sexta-feira, 25, Guarnieri esbanjou simpatia. Contou piadas, lembrou fatos curiosos de sua vida e falou do assunto que mais aprecia depois da música: a mulher. Concordou, quando repetimos a frase de Art Blakey - por sinal inspirado no normalmente hostil Miles Davis: "Fazer música é a melhor coisa para se fazer... vestido".
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Guarnieri é o último remanescente de uma geração de artistas brasileiros que conviveram com as grandes personalidades culturais deste século. Amigo fraterno de Mário de Andrade, "de 1928 até sua morte (1954)", Camargo aprendeu a ser franco e a dizer o que pensa..
O que faz um depoente precioso para a história, sem meias palavras, dando nome aos bois e ajudando a se conhecer o outro lado da vida artística, aquela "não" oficial, que por timidez e medo dos que dela participaram, acaba sendo esquecida. Elegante, entretanto, omite qualquer crítica pessoal - fazendo, isto sim, reparos as obras e carreiras artísticas de muitos nomes sagrados - Milton Nascimento ("tem talento mas hoje só pensa em ganhar em dólares") ou ao próprio Villa-Lobos, com quem sempre conviveu muito bem, porque aceitava que ele dissesse: "Você está seguindo minhas instruções". - "Na verdade, minha música sempre foi própria - nunca teve nada com a de Villa".
Ricardo Botelho, diretor de promoções culturais da BASF, só lamentou uma coisa: os discos não ficaram prontos a tempo e assim só no final desta semana o álbum "Villa-Lobos" terá seus primeiros exemplares distribuídos.
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