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Aramis

Eulalia ou um poema ao andarilho do Universo

A presença de João Paulo II no Brasil - e sua chegada amanhã a Curitiba - não deixa de atingir a todas as pessoas, independente de fé, posição social ou mesmo ideologia. Assim, cada um reage de uma forma frente à presença do Sumo Pontífice, em sua visita pastoral em 13 cidade, trazendo uma mensagem de paz e esperança. Os poetas não se poderiam cair. E uma bela e sensível poetisa, Eulalia Maria Radtke, 31anos, catarinense de Gaspar, mas radicada atualmente em Curitiba, também endereça a sua mensagem ao Papa. E o faz através de uma simpática mensagem que envia por nosso intermédio, com uma carta que, em sí, já uma pré-poesia, que merece acolhida e admiração. *** << Há uma nuvem baixa sobre a cidade. Em algum lar uma solidão atravessando a porta. Um coração que ri ou um coração entristecido. E há entre tudo isso, uma quietude estranha que traz o meu universo alguma coisa de divino, alguma coisa de sagrado. Tudo isso me lembra Deus. E Deus, a chegada de seu enviado, João Paulo II. Um poema nasce em meu reduto de inquietações. E este poema eu lhe entrego, para levar através da sua coluna uma mensagem aos seus leitores no dia em que ele estará pisando esta terra paranaense. Eu creio na sua sensibilidade e na sua aceitação deste meu poema que me é muito importante. O mais, é a continuação da vida e o coração aberto em direção da luz. Abraço bom >>> -I- Houve uma primavera/velando um riso morto, (João Paulo I - 29/9/1978) e um silêncio do tamanho/ do mundo/ aguardava dentre os << Chapéus Vermelhos >>/um riso novo com uma esperança do tamanho/ do silêncio Hoje, em meus monólogos/ não tento mais decifrar/ a solidão de Deus Hoje, teu nome, João Paulo II/ Surge e ressurge/ no fluxo e refluxo/ das marés do meu peito. Hoje, meu País te aguarda e tamanha multidão de gestos/ se avizinha dos teus sonhos/ e apelos de querer um mundo desarmado e amado em nome de Seus. -II- Sopra, oh sinos/ metal do sonho/da alegria do amor e da angústia Sei que todas as avenidas desembocam no mundo. Sei, África-da-morte é punhal, ferindo meus olhos/ e dor - é silêncio brasileiro. -III- Padre, não sei se os teus/ gestos limpos aceitarão um altar de milhões Erga as tuas mãos (eu te chamo), edifique uma ponte de socorro, - as chuvas de junho não cairam no Nordeste e existe secura nos olhos/ existe sim. Padre, não sei os que governantes colherão da ponte iluminada/ dos teus olhos erga as tuas mãos (eu te chamo), edifique um sol de claridade, - deste o nó da necessidade que pousa sobre o povo /da Favela do Vidigal. (Sei que em tua garganta carregas um eco de coisas sagradas) Sempre há recompensa em ficar à espera dos frutos. Vem, Padre, meu chamado tem fome de urgência de verdade de eterno. desvenda a fonte da luz em meu País. E saberei que Deus não estará mais tão quieto aqui neste lugar. VEM, ESTA LUZ NÃO FICARÁ SÓ COMIGO. *** Quem é Aulália Maria Radtke? Não a conhecemos pessoalmente, mas o seu lirismo e sensibilidade nos fazem admirá-la. Sua poesia é ampla e suave e num encarte da revista << Engenho >>, da Associação Catarinense de Escritores, estão três outros poemas desta mulher que se volta ao espírito e a fé - com amor e emoção. Num deles - << Minha Conversa com Deus em Lugar Qualquer >>, indaga: Por que somos tão poucos na terra? Eu pergunto tantas vezes Deus/ e tua resposta é o silêncio misturando-se ao meu. E tua resposta é mais que silêncio - vôo rasante em minha face e mesmo assim sempre hei de perguntar-te em que canto da existência mora a minha viagem. Sempre hei de chamar-te na hora física E gritarei teu nome na hora da cor-coração porque esta é a morte maior. *** Eulália Maria, diz uma minibiografia do encarte com seus << três poemas >>, << Lavrou a terra por muitos anos na infância e no adolescência. Na indústria TEKA exerce durante oito anos a profissão de fiandeira. Depois disso, trabalhou em galeria de arte, teatro, jornal e na Biblioteca Central da Fundação Universidade Regional de Blumenau. Com poesias publicadas em inúmeras antologias de Santa Catarina e no Brasil, Eulália já conquistou os seguintes prêmios: menção honrosa no II Festival do Inverno de Itajai (1974): Prêmios Ferreira Gullar, no concurso nacional de poesia. Paraná (1978) e 1.º prêmio no concurso de poesia << Luiz Delfino >>, da Fundação Catarinense de Cultura (1979). À propósito, de seu primeiro livro, << Espiral >>, disso o poeta Lindolfo Bell: << Em Aulália Maria Radtke a dificuldade do mundo transforma-se em desafio. E fio de força, para encontrar-se através de seu silencioso grito poético. Os desencontros, as impossibilidades, matéria-prima do poema. A dura aparência do universo social, o outro lado do espelho, a face transfigurada da poesia. A exacerbada sensibilidade e o exercício da solidão, a experiência misteriosa da revelação do eu interior, numa linguagem que é asa vôo e campo de pouso ao mesmo tempo para o poeta >>. *** Em sua linguagem, Aulália traça seu auto-retrato (<< Minha Conversa com Deus Em Lugar Qualquer-III) Nasci num dia seis de maio/ Cheguei com um rosto de sol/maduro - pensava dominar a terra - hoje em transformo em coisas e meu idioma tem regras de silêncio Vem/ que minhas loucuras já se banham nas águas/ da Divindade Salva-me/ antes que a noite venha sobrevoar /a claridade *** Por momentos/ desertei de tua presença Deus num vôo irreverencioso sobre o Vôo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
04/07/1980

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