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Aramis

Com as imagens de Helmut a nossa bela Serra do Mar

Há muito que a fotografia deixou de ser apenas um hobbie ou uma profissão. Incluída, com razão, entre as artes visuais a fotografia chegou as galerias, aos museus e aos livros. No Paraná, várias mostras confirmaram o alto nível dos profissionais (e amadores) das objetivas e um deles, Orlando Azevedo, ex-baterista ("A Chave", anos 60/70 chegou a planejar uma galeria exclusivamente para mostrar a arte fotográfica. Em termos de publicação, afora catálogos e algumas iniciativas jornalísticas (como o tablóide, editado pelo Casa Romário Martins com fotos de vários profissionais sobre a visita de João Paulo II, a Curitiba, em junho/80) nada até agora havia sido publicado. Afinal, álbuns- livros de fotografias exigem investimentos elevados, com papel da melhor qualidade, fotolitos perfeitos e, naturalmente, um tamanho razoável. Por isto, adquire especial significado o lançamento de "Serra do Mar no Estado do Paraná" (Secretaria da Cultura e do Esporte, 82 páginas, dezembro de 1981, Cr$8 mil cada). xxx Em formato 30 X 40 centímetros, encadernado em pan, capa protetora, com programação visual de Elisa Vilela Pedras, textos em português e em inglês, realizado tecnicamente com composição da Digital/Gravartex e fotolitos do Estúdio Gráfico Fotolito, impressão final na Burti, em São Paulo, trata-se, sem dúvida, da mais luxuosa obra lançada até agora pela Secretária da Cultura e dos Esportes, em seu excelente programa editorial dirigido pela professora Cassiana Licia Lacerda Carolo. A Fundação Roberto Marinho deu um substancial apoio e a obra, com apenas 2 mil exemplares, numerados e assinados pelo seu autor – o fotógrafo Helmut Erich Wagner, teve, inicialmente, apenas 300 unidades colocadas a venda. Uma grande quota será destinada ao próprio Palácio Iguaçu, para entrega a personalidades que visitam o governados. Até hoje, os brindes dados pelo Cerimonial beiravam o ridículo, de forma que só pelo fato de se dispor agora, de uma bela e documental obra, se justifica esta edição – sem dúvida fora de série. xxx Em termos de Paraná, o álbum- livro é um belíssimo documentário da Serra do Mar valorizando o trabalho de um dos mais sensíveis e competentes fotógrafos de nosso Estado e por que não? – do Brasil, ao mesmo tempo que representa a integração do governo via sua Secretária da Cultura numa posição preservacionista e, como diz o secretário Luís Roberto Soares na apresentação da obra, "convocando a todos para a defesa do patrimônio natural, , especialmente da Serra do Mar. Esta convocação funda-se na razoável esperança de que o homem entendeu que seu destino será o mesmo que der à natureza". Helmut Erich Wagner, 54 anos, catarinense de Canoinhas, mas há mais de 30 anos no Paraná. Pai de quatro jovens que vem colecionando prêmios com seus filmes de animação, faz fotografias desde os 17 anos, quando já tirava fotos com uma máquina caixão dignas de uma Hasselblad. Na descrição do jornalista Adherbal Forts de Sá Júnior, autor dos cristalinos textos do livro, Helmut é "magro, baixo, tem olhar agudo e gesto exato". Já fez jornalismo e nos últimos 20 anos se firmou como um dos mais requisitados fotógrafos publicitários. O que, entretanto, não lhe tirou o amor [à] natureza, a visão do flagrante jornalístico e , especialmente uma grande sensibilidade. Assim, este álbum representa o resultado de dois anos de trabalho na Serra do Mar. Escaladas ao Monte Olimpo ou ao Pico Paraná ao lado de companheiros do Círculo de Marumbinistas, do qual foi diretor durante anos. Ou vôos no monomotor Cherokee de Sérgio Maldonado, um piloto também exasperadamente apaixonado pela beleza das matas e montes que separam a planície litorânea do planalto de Curitiba". xxx O texto de álbum traduzido para o inglês por Joyce Small de Albuquerque Filizola não ocupa mais do que cinco páginas, mas é enxuto e objetivo, situando a Serra do Mar dentro da geografia brasileira e, basicamente, mostrando a identificação [integrada] das fotos de Helmuth com a preservação desta imensa área – hoje dentro do Parque do Marumbi, que ao lado do Parque Nacional do Iguaçu, representa a grande reserva florestal que restava a um Estado outrora coberto de árvores em quase 90% de seu território. Aqui e o derradeiro refúgio de micos e bugios, mãos peladas, quatis, iraras, lontras e furões. E também de ouriços, pacas, cutias, preas, tatus e preguiças. No Parque do Morumbi ainda voam em quase total segurança (o "quase" fica por conta de incursões clandestinas de caçadores que a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente ainda registra de quando em quando" macucos, jacus, uries, jandaias. Este é também o habitat de araras e papagaios, pombas, jurutis, os vários tucanos, sabiás, curruiras e pica-paus. Assim, como acentua o texto de Adherbal Fortes (não assinado no livro), "a verdade é que a convivência entre o homem, a fauna e a flora é difícil, mas não impossível. Helmut Erich Wagner e os que o acompanham nas incursões a serra descobriram isso. Campanhas encarregam se de fortalecer esta idéia em visitantes ocasionais, preocupados em trazer "lembranças" e despreocupados com o destino do farto lixo que produzem. E a Delegacia do Meio Ambiente tem poderes para dissuadir os que fazem da atividade predatória um meio de vida. O futuro está simbolizado numa das fotos que compõe o álbum. Em primeiro plano, uma flor. No segundo plano, fora de foco, embora nítidos, os contornos de um dos túneis da ferrovia. Se é possível ao trem conviver com a flor, então tudo o mais pode ser alcançado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
09/01/1982

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