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Aramis

Ficção científica e jornalismo nas estréias

Finalmente temos as estréias! Após quase 45 dias de poucas atrações cinematográficas, começam a chegar os novos filmes, embora o melhor ainda esteja reservado para março/abril, especialmente após a festa do Oscar, quando as distribuidoras americanas lançarão os filmes que concorrem na festa maior do cinema. "Rocky IV", de Sylvester Stallone - na mesma linha dos três filmes anteriores, e com o mesmo sucesso - está lotando o cine Condor, onde permanecerá, por certo, mais de um mês em exibição. Sylvester Stallone é o diretor-ator roteirista e a trilha sonora, com muitos hits curtidos pela garotada, foi lançada em lp pela CBS. Com a estréia de "Rocky IV" - em horários especiais, para atender melhor o público - a UIP também reprisa o "Rocky III" (Lido I), enquanto que o primeiro filme da saga do pugilista que se torna campeão mundial - realizado em 1976 por John G. Avidsen (e premiado com vários Oscars) foi apresentado, na semana passada, na televisão. Em "Rocky IV", Stallone usa flash-backs com cenas dos três filmes anteriores, informando assim o público do que aconteceu anteriormente. Um filme que mais do que análises estético-artísticas deve ser visto como um fenômeno de comportamento do público, buscando a identificação com um herói de nossos tempos. Aliás, Stallone é também o astro de "Rambo" (terceira parte já em filmagens), outro herói destes nossos tristes dias. "De Volta para o Futuro", de Robert Zemeckis, está agora no Lido II, enquanto que o astro deste "Back to the Future" - o garotão Michael J. Fox - pode também ser visto em "Teen Wolf - o Garoto do Futuro", de Rod Daniel, há 3 semanas no cine Palace-Itália. Outro campeão de bilheteria - seguramente entre as maiores do ano - que continua em cartaz: "Comando para Matar", de Mark L. Lester, com o halterofilista ("Conan") Arnold Schwarzenegger, numa aventura na mesma linha de violência de Rambo" - e com tanta ação quanto "O Exterminador do Futuro", estrelado pelo mesmo Schwarzenegger. D.A.R.Y.L. não é "Daryl" - um nome próprio - mas a sigla de "Data Analysing Robot Yourth Lifeform". Ou seja, um projeto de desenvolvimento de um "experimento em inteligência artificial": um bebê criado em tubo de ensaio com cérebro que é um computador altamente sofisticado. Só isto já faz de D.A.R.Y.L. (cine Vitória) um filme fascinante. O lúcido crítico Rubens Ewald Filho, analisando este filme que marca a estréia nos EUA de mais um cineasta australiano - no caso Simon Wincer - disse: "Daryl tem um pouco de tecnologia de "Jogos de Guerra", as perseguições de "Os Heróis Não têm Idade - Clark and Dagger" e em linhas gerais e repete o mesmo esquema de roteiro de "E.T.". Mas o surpreendente é que apesar de tudo isso consegue ser um filme envolvente e agradável". Uma história movimentada, com elementos up to date: robôs, computadores, crianças, toques de humanismo e um final lembrando "E.T.". Ou seja, uma fórmula que nesta década vem sendo bastante explorada pelo cinema americano, numa saudável preocupação em (re)conquistar o público infanto-juvenil. Só que esse público está hoje acostumado a novas linguagens - computadores, vídeo-informática etc. - de forma que não aceita, simplesmente, desenhos ao estilo Walt Disney. No elenco de "D.A.R.Y.L." temos no personagem-título o talentoso garoto Barret Oliver, que apareceu em "História Sem Fim" e "Coccon". Josef Seommer - que foi vilão em "A Testemunha" (dirigido pelo também australiano Peter Weir), aqui é um personagem simpático, Stewart, que ajuda "D.A.R.Y.L." no final. Seus pais adotivos são intérpretes seguros: a mãe é Mary Beth Hurt (vista em "Interiores" e "O Mundo Segundo Garp") e o pai é Michael McKean (de "Jovens Médicos e Apaixonados"). Uma ficção-científica moderna, de nossa época, com muita ação. De visão obrigatória nesta semana. E que permaneça por mais duas semanas em cartaz. PERFEIÇÃO (cine Astor) tem muito para agradar: toques de sexo, um personagem envolvente - Adam (John Travolta), repórter da "Rolling Stones", e uma nova mania americana: as academias de beleza, Adam trabalha em três reportagens sinultaneamente: um artigo sobre o boom das academias de ginástica (o que o leva a se envolver afetivamente com a bela Jamie Lee Curtis), uma entrevista com um homem de negócios ligado ao tráfico de cocaína e um perfil de um escritor que mora no Norte da África. Enfim, mais uma vez, o personagem central é um jornalista - embora num campo de batalha bem menos perigoso do que o enfrentado por seus colegas em "Sob Fogo Cerrado", "Os Gritos do Silêncio" ou "O Ocaso de um Povo", que, nestes últimos anos, também colocaram repórteres como condutores de histórias dramáticas. James Bridges, diretor de altos ("A Síndrome da China") e baixos ("Cowboy do Asfalto", com o mesmo Travolta), é requintado em seus filmes. A boa trilha sonora de "Perfeição", montada por Ralph Burns, já foi editada no Brasil pela RCA. Um filme também de visão recomendável nesta semana. Só que repetimos: se tivesse havido um lançamento mais apropriado, com pré-promoção junto às academias de ginástica de Curitiba, seu êxito poderia ser maior. LOULOU, policial francês, chegou ao Brasil graças à aceitação que "Aos Nossos Amores" do mesmo diretor Maurice Pialat obteve no ano passado. Premiado com o troféu "Jean Vigo" por seu primeiro longa-metragem ("L'enfance Nue") e, há 3 anos, consagrado por "Aos Nossos Amores". A Gaumont/Alvorada importou "Aos Nossos Amores" e este Loulou", que conta a história de um marginal, Loulou (Gerard Depardieu) com uma burguesa, triste e sem fantasias (Isabelle Huppert). Uma história simples, mas desenvolvida com interesse por Pialat. De certa forma, uma história que lembra a de outros filmes - inclusive do último filme de Bruno Barreto, ainda inédito em Curitiba. Uma mulher que decide trocar a segurança, o conforto e a monotonia de uma vida conjugal pelo encontro com um tipo estranho, marginal, mas que a fascina. Pialat, falando sobre o personagem interpretado por Gerard Depardieu (hoje um dos atores franceses em maior evidência) diz: - "Loulou" não é mau caráter. Ele tem um lado adolescente mesmo sendo muito homem. Não é vigarista, apesar de ter sido detido por infrações menores. Vem de uma família modesta que vive normalmente. Viver com Nelly, que trabalha, cai-lhe como uma luva. E como ele desconhece a moral tradicional, essa situação lhe parece normalíssima." O crítico de "Le Figaro" escreveu a respeito de "Loulou": "Contando os amores coloridos bestiais e infantis de um pequeno delinqüente parisiense e de uma burguesa em conflito de estima, Pialat tira na realidade uma espécie de traço exaltado sobre dois séculos de sentimentalismo literário e se limita a descrever os homens e mulheres tais como o são fundamentalmente: animais um pouco mais complicados que os outros." Por último, uma estréia curiosa: "A Coisa Certa" (The Sure Thing), de Rob Reiner, com trilha sonora do excelente jazzista Tom Scott. A ação se passa no meio universitário e no elenco uma veterana atriz - Viveca Lindfors - ao lado de intérpretes jovens: John Cusack, Daphne Zuniga e Nicolete Sherindan. No cine Itália.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
25
16/02/1986

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