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Aramis

"Toda Uma Vida", o melhor programa

A reprise de um filme de 1974, já visto em diferentes ocasiões em várias salas, se constitui na mais interessante programação desta semana sem estréias importantes. "Toda Uma Vida", que Claude Lelouch realizou há 12 anos passados foi, de certa forma, o ponto de partida para uma nova fase em sua carreira: um cinema panorâmico, com ações múltiplas desenvolvidas ao longo de várias décadas. Uma fórmula que Lelouch desenvolveria ainda mais em "Retratos da Vida" (Les Uns et Les Autres), de 1980 - seu maior êxito de bilheteria - e que só em Curitiba ficou seis meses em cartaz no Cinema I. O GRANDE PAINEL - Há muitos que classificam "Tout Une Vie" como superior a "Les Uns et Les Autres". Questão de gosto! O fato é que ambos são filmes com ambições idênticas: misturam personagens, conflitos raciais, guerras, violências ao longo de muitos anos. "Retratos da Vida" teve ingredientes de apelo imediato ao grande público - guerra, mães abandonando filhos, balé, big-bands, e um final apoteótico e realmente sensacional. "Toda Uma Vida" é um filme de amor. Um amor que começa no início do século e que pretende se encerrar no final o milênio. Muitas coisas acontecem até que os personagens interpretados por Marthe Keller e Andre Dussolier consigam ter um happy end. O filme é um pouco comédia musicada, um pouco trailer, tem pitadas eróticas e, sobretudo uma linguagem extremamente descontraída. Lelouch, 49 anos, que começou seu aprendizado na televisão e fazendo filmes publicitários e curtas-metragens, há 20 anos passados era o grande premiado em Cannes, com "Um Homem, Uma Mulher" (para o qual, aliás, faz agora uma seqüência, retomando os personagens interpretados por Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant duas décadas depois). A técnica desenvolvida em seus anos de fotógrafo, uma visão requintada que os filmes publicitários lhe ensinaram e, sobretudo, a imaginação para criar personagens e histórias extremamente comunicativas, falando de temas e assuntos com empatia universal o transformaram num dos mais bem sucedidos cineastas europeus. Após "Um Homem, Uma Mulher", acumulou outros êxitos: "Viver Por Viver" (1967), "A Vida, o Amor e a Morte" (1969), "O Homem Que Eu Amo" (1969), "Um Homem Como Poucos" (1970), "A Aventura É Uma Aventura" (1972), entre documentários marcantes - como "Vivre Treize Jours en France" ou um episódio do "Visions of Eight" sobre a guerra do Vietnã. Há dois anos, Lelouch realizou um longa-metragem sobre a cantora Edith Piaf (1918-1963), que mesmo tendo condições de se transformar em novo êxito de bilheteria no Brasil até hoje não chegou até nós. Em compensação, a Columbia continua a exibir, em cópias novas, "Retratos da Vida" e agora, em boa hora. Francisco Alves dos Santos conseguiu uma boa cópia de "Toda Uma Vida", para o cine Groff - onde poderá permanecer várias semanas. No elenco, além de Marthe Keller e Andre Dussolier, estão o cantor-ator Gilbert Becaud, Charles Denner, Carla Gravina, Charles Gerard e Andre Falcon. Um filme agradável, suave e que se (re)vê com imenso prazer. PERSPECTIVAS - Como quase todos os cinemas mantêm as programações de semanas passadas - numa prova de que o público está gostando dos filmes que foram lançados neste início de ano - o melhor é aguardar as próximas estréias. Por exemplo, tão logo "Os Goonies" passe para o Bristol (por enquanto eles continuam faturando bem no Astor) deve estrear o aguardado "Perfeição", de James Bridges - o mesmo diretor de "A Síndrome da China" e "Cowboy do Asfalto". O tema de "Perfeição" é o jornalismo - assunto que tem motivado filmes como os vigorosos "Sob Fogo Cerrado", "Os Gritos do Silêncio", "O Ocaso de Um Povo", de forma séria e profunda ou, de uma maneira apenas apelativa, em thrillers ingênuos como "Temporada Sangrenta". Desta vez, o repórter (interpretado por John Travolta) não está no campo de batalha da Ásia ou América Latina. Elegante, tranqüilo, com muitas transas sexuais, ele é repórter da "Rolling Stones" e desenvolve duas ou três reportagens diferentes - uma delas sobre o boom das academias de ginástica. O filme discute problemas da ética jornalística (no final, acaba na cadeia para manter sua integridade profissional) e este filme deveria ter um lançamento em março, com muita badalação junto às academias de ginástica da cidade. Isso garantiria maior público e repercussão a um filme com intérpretes bonitos - (a filha de Tony Curtis e Janet Leigh, Jamie Lee Curtis é a atriz principal) - e a movimentada trilha sonora (lançada no Brasil pela RCA), que traz Jermaine Jackson ("Closest Thing to Perfection"), Lou Reed ("Hot Hips"), Pointer Sisters ("All Systems Go") e Jermaine Stewart ("Wear Out the Grooves"). Aliás, aqui fica a sugestão para o Aleixo Zonari: deixe para lançar "Perfeição" em março, com boa badalação, que o filme pode ser um grande êxtio. Agora, corre o risco de fracassar. "Carmen, a Ópera", o belo filme de Francesco Rossi, com Placido Domingo e a inglesa Júlia Migenes Johnson continua no Ritz, mas dificilmente emplacará uma terceira semana. Assim, Francisco Santos já está com acópia de "Loulou", de Maurice Pialat, para estrear na próxima quinta-feira, 6 (ontem, à meia-noite, houve a pré-estréia). Dirigida por um dos cineastas franceses mais badalados da França - mas que só agora chega ao Brasil - "Loulou" tem dois excelentes intérpretes: o grandalhão Gerard Depardieu e a bela Isabelle Huppert. De Pialat, o público já viu, há dois meses, "Aos Nossos Amores". OS QUE CONTINUAM - "De Volta para o Futuro", de Robert Zemeckis, com toda sua bela fantasia, continuará tranqüilamente por mais um mês no Condor, tal as boas rendas que está obtendo. Igualmente, segura a permanência em cartaz de "Teen Wolf - O Garoto do Futuro", com o mesmo ator - Michael J. Fox - mas realizado anteriormente, na Inglaterra, em exibição no Palace-Itália. A violência de "Comando para Matar", de Mark Lester, com o halterofilista Arnold Schwarzenegger como o furioso coronel John Matrix, também garante casas lotadas no Plaza - e a permanência em cartaz por mais um mês. Em compensação, a ingenuidade de"Os Trapalhões no Rabo do Cometa", quase um desenho de longa-metragem de Maurício de Souza, faz esta nova produção de Renato Aragão, ter rendas inferiores às comédias de anos anteriores - e se manter apenas nos programas vespertinos do São João (onde à noite, voltou a ser apresentada "As Aventuras de Gwendoline na Cidade Perdida", de Just Jaecken, uma espécie de filha de "Modesty Blaise" com "Indiana Jones") e no cine Itália (onde à noite, continua o vigoroso e belo "Blade Runner", de Riddley Scott). Em tempo: hoje, domingo, às 10 horas, quem acordar cedo pode assistir um interessante documentário no Groff: "Raoni", 1979, de Jean Pierre Dutileux e Luís Carlos Saldanha. Filmado no Parque Nacional do Xingu, focalizando o cacique Raoni, a revisão deste belo filme - premiado em Gramado (e que deu também um Kikito a Egberto Gismonti por sua trilha sonora) em 1979, torna-se atualíssima, já que Raoni foi convocado como última esperança para salvar a vida do cientista Ruschi.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
27
02/02/1986

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