Um complemento a comentário aqui publicado, sobre a Escola de Música e Belas Artes do Paraná: cabe ao professor Ascêndio Garcia Lopes, da Secretaria Extraordinária de Ensino Superior, Ciências e Tecnologias - e não mais Belmiro Valverde Jobim Castor, da Educação - a solução da crise - tanto física como de direção da EMBAP. Só que como a criação desta nova pasta é recente e sua ação não se fez ainda sentir, muita gente - incluindo até professores da Escola - estão cobrando, injustamente, frize-se, de Belmiro, o absurdo de um governo democrático, manter como interventora, há mais de dois anos, uma advogada - numa escola superior que justamente forma músicos e artistas plásticos. Designada interventora da EMBAP pela ex-secretária Gilda Poli, a advogada Liliam Schell - que veio de Londrina - parece ter gostado do cargo e ali foi ficando. Por timidez, excesso de educação ou mesmo uma certa covardia, o corpo docente da Escola não fez o que deveria ter feito: protestar contra a entrega da direção da Escola a uma pessoa estranha a comunidade. Afinal, não é possível que entre mais de 100 mestres da Escola fundada há 39 anos - entre os quais nomes do maior prestígio em nosso meio intelectual - não haja dois, com merecimento para ocupar a direção e vice-direção. Tradicionalmente, sempre foram elaboradas listas tríplices, da qual era escolhido o diretor. Só depois da intervenção que a professora Gilda Poli fez na EMBAP, os professores da mesma movimentaram-se pra criar uma entidade capaz de falar pela classe, nascendo então a Associação dos Docentes, que tem agora na presidência a professora Marisa Mendes Sampaio. A Associação dos Docentes da EMBAP espera ( e vai cobrar) que o governo Álvaro Dias realize aquilo que seus antecessores não fizeram: dar a EMBAP uma sede condigna. O prédio em que a Escola funciona há mais de três décadas está em péssimo estado e localiza-se numa das áreas (Rua Emiliano Perneta, entre Voluntários da Pátria/Visconde de Nacar), de maior índice de poluição sonora da cidade. Só mesmo o idealismo dos professores - e grande interesse dos alunos - faz com que a Escola sobreviva, pois, tecnicamente, as condições físicas em que se encontram a condenariam frente a qualquer investigação sumária. Planos e promessas surgiram, nos últimos [...], visando a transferência da EMBAP para outra sede - ou então uma reforma geral do atual prédio. Infelizmente, tudo ficou no blá- blá... A infeliz proposta de transferí-la para o bairro do Boqueirão, junto ao Centro de Treinamento do Magistério, revoltou os corpos discentes e docentes. Há nove anos, quando o arquiteto Jaime Lerner voltou a Prefeitura, uma de suas primeiras propostas foi a de que a Escola ocupasse a antiga fábrica Stearina, no Centro Cívico - que seria restaurada, abrigando também um teatro para espetáculos infantis. Infelizmente, o então todo poderoso Secretário de Planejamento, Vespero Mendes, insensível e inimigo das artes, vetou o projeto, sob a ridícula alegação de que seria "perigoso" a concentração de "grande número de estudantes" (sic), próximo a sede do governo. Jaime Lerner tentou contra argumentar e mesmo sendo o governador Ney Braga um homem que sempre apreciou realmente as artes, foi inútil. Ao invés da Escola, a Stearina transformou-se numa garagem para a frota de veículos oficiais do Estado. E assim, a Escola de Música e Belas Artes do Paraná, às vésperas de seu 40º aniversário, continua, como outras unidades culturais - a Rádio Estadual, auditório do Colégio Estadual, a Faculdade de Educação Musical etc. - com problemas estruturais e necessitando de maior atenção dos donos do poder.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 17

Data: 14/05/1987

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