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Aramis

Flora Purim e Airto, emoções

Pura emoção foi o que passou para a platéia o show de Airto Moreira e Flora Purim, terça-feira no Guairão. Mas algumas emoções foram reservadas também nos bastidores. O repórter José Carlos (Zeca) Correa Leite ainda estava bastante emocionado quando relatou o que se segue: "Quando tocou o telefone e uma amiga atendeu, a recepcionista mandou apenas um recado: 'Diga pro Zeca que uma tal de Flora Purim ligou pra ele'. Era de manhã e eu estava trabalhando numa assessoria de imprensa. Foi desse jeito que soube que a cantora Flora Purim marcara um horário para eu entrevistá-la na suite do hotel onde estava hospedada. Seria entre 4 e 5 da tarde, momentos antes dela entrar no palco para o esperado show com o marido Airto Moreira. Foi uma festa e um susto. Tudo teve início quando ficou decidido que Flora não daria entrevista à imprensa, pois não conseguira acordar para participar da coletiva, junto de Airto, no dia anterior. Ela estava exausta e aquele sono profundo era o resultado de shows, assédio de admiradores, sem contar a emoção da volta ao País, 20 anos depois. Como o jornal em que trabalho ("Folha de Londrina") queria uma reportagem com os dois, escrevi uma cartinha endereçada a Flora, contando isso. Carta simples, sem nada demais. Dizia apenas que entendia seu cansaço, que não queria atrapalhar seu sono, mas, numa hora que pudesse, gostaria de bater um papo rápido. Só para fazer meu texto. E mais: eu ligaria a ela depois das 11 da manhã, mas se ela acordasse antes disso e se fosse possível, então que me ligasse. Deixei meu telefone. Depois de tudo feito (escrevi na redação, numa lauda de jornal) achei que era muito topete da minha parte querer que uma artista de renome internacional me procurasse. Pensei em jogar a carta fora. Mas, pensando bem, vi que aquelas linhas tinham sido escritas com tanta sinceridade, tão sem maldade, que deveria haver uma coerência de gestos. Então peguei a carta e deixei-a na portaria do hotel. Dia seguinte, de tarde, encontrei o Airto no teatro, pois me desencontrara de Flora. 'Ela acabou de subir para o quarto. Vá lá que ela está te esperando porque gostou muito da tua carta.' Assustei-me com isso (um bom susto) e fomos, eu e o fotógrafo Arnaldo Alves. Quase cinco da tarde. Flora nos recebeu com muito carinho, falando muito, colocando emoções em todas as palavras. Chorou algumas vezes. Mágico encontro com o Brasil, sua gente, sua história. Foi uma conversa boa, quebrada por telefonemas, visitas, funcionários do hotel levando roupa passada. Enquanto isso, Flora ia se metamorfoseando para o palco, colocando a peruca vermelha. Quando ela chorou, chorei junto e nisso tudo dizer o quê? Queria pedir perdão a Flora. Foi tão lindo seu gesto, seu afeto, que as palavras empalideceram. Emudeceram. E estão mudas até agora. Só ficou isto em mim: o carinho que não sei explicar."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
O show da semana
5
31/08/1986

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