No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de agosto de 1986
O bom humor também existe entre os que exploram motéis. Enquanto uma rica senhora de toledo, desquitada de um bilionário daquela região, aplicou alguns bilhões num sofisticado motel de decoração oriental, na BR - 116, outra senhora, esta uma ex-religiosa, adquiriu o antigo Ely Drinques, na Rua das Carmelitas, no Boqueirão, transformou-o num motel e deu o prosaico nome de "Disneylândia". Só que as cenas que ali acontecem não tem nada em comum com as criações de Walt Disney.
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Na mesma Rua das Carmelitas, poucos metros adiante, há um outro motel de nome que buscou aproveitar um modismo-86: "Halley". Dizem que a cobrança da diária também é meteórica, com o taxi-amor funcionando na base de duas em duas horas para registrar uma nova diária.
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Na reunião do Movimento Tradicionalista Gaúcho No Paraná, realizada no último fim de semana, em Santa Isabel do Ivaí, foi proposta a expulsão do "patrão" Jaime João Argenta, presidente do CTG Gaudérios do Oeste, de Cascavel. Razão: o fato de ter ocorrido naquele CTG, há um mês a apresentação de um grupo de rock da pesada chamado Dragões do Heavy Metal, cujo líder, o adolescente Fábio Ramos, 17 anos, matou no palco uma galinha, bebendo o seu sangue.
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A grosseira e vulgar imitação que este subgrupo de rock fez do que de pior acontecia nos anos 70, nos shows do Black Sabbath e outros conjuntos heavy, na Inglaterra e Estados Unidos, é injustificável de acontecer em qualquer ambiente civilizado. E o presidente do CTG Gaudérios do Oeste não tem argumentos para explicar por que a sede de uma entidade destinada a preservar e valorizar a música nativista patrocina bailes com grupos de rock.
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O fato ocorrido em Cascavel teve repercussão nacional e revoltou os tradicionalistas, especialmente no Rio Grande do Sul.
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Luís Carlos de Andrade Lima, 53 anos, um dos mais fiéis discípulos do grande mestre Guido Viaro, inaugura sua 16ª individual - em 28 anos de atividades profissionais - no próximo dia 3, no Museu Guido Viaro. Discreto, afastado das "panelas" badalativas dos meios plásticos, Luís Carlos é um artista com uma obra sólida, que, como diz seu amigo Jair Mendes, coordenador do Museu Guido Viaro (e que foi grande companheiro de Andrade Lima, em seus tempos de "etílica boêmia"), "é um artista coerente com seus conceitos e que faz da figura humana o centro irradiador de toda sua obra, dignificando-a com a presença sublime do espírito. A força de suas inquietações contrabalança-se com a presença dos ensinamentos cristãos e transfigura-se em seus personagens que transmitem as sensações do momento".
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A Bienal Internacional do Livro, que se realiza em São Paulo, estimulou dezenas de editoras a fazerem lançamentos maciços. A Rocco, uma das que tem feito as melhores edições, colocu agora na praça um excelente pacote de obras de Gore Vidal ("Lincoln", 832 páginas, Cz$ 332,00), Patrick Mediano ("Uma Rua de Roma", 136 páginas, Cz$ 54,20), Adolfo Bioy Casares ("A Invenção de Morel", 128 páginas, Cz$ 41, 20), Bertold Brecht ("Os Negócios do Sr. Júlio Cesar", 196 páginas, Cz$ 78,40) , James Baldwin ("Giovanni", 176 páginas, Cz$ 70,40) e até a lavagem de roupa-suja da ex-mulher de Elvis Presley, Priscila, escrita por Sandra Harmon, sobre sua vida com o rei do rock (228 páginas, Cz$ 91,20).
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Há também obra de brasileiros no pacote da Rocco: a coletânea de artigos do antropólogo Roberto da Matta ("Explorações", 148 páginas, Cz$ 59, 20), e o volume de crônicas de Affonso Romano de Sant'Anna ("A Mulher Madura", 176 páginas, Cz$ 70).
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Os diretores da Casablanca, firma especializada em organizar eventos e fornecer manequins, decidiram fazer uma promoção para mostrar seus "produtos" - no caso as modelos fotográficas - aos eventuais clientes, mas de uma forma pouco usual: um jantar-desfile, cobrando Cz$ 80,00 por pessoa. Ou seja, ao invés de obsequiar possíveis clientes, a Casablanca quis, antecipadamente, zerar as despesas da promoção.
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Graças ao sempre atuante Gunter Schott, da Musas, os cem anos de nascimento do maestro Wilhelm Furtwangler (1886-1954) não estão passando em brancas nuvens. Gunther motivou ao maestro Osvaldo Colarusso a incluir peças em homenagem a Furtwangler no concerto que a Sinfônica do Paraná fez no dia 31 de agosto e, na Rádio Estadual, gravações com as orquestras dirigidas por Wilhelm Furtwangler estão sendo apresentadas em horários noturnos. A Polygram lançou quatro preciosos álbuns, edições originais da Deustch Grammophon, com Wilhelm Furtwangler, regendo a Berliner Philarmoniches Orchestre.
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Dentro do movimentado calendário artístico, uma exposição que deverá ter boa repercussão: a individual de Guida Soifer, na galeria do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, inaugurada na última terça-feira, 26.
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Com curso de desenho livre na Casa Alfredo Andersem, tendo frequentado o atelier de Lia Folch Costa e, em São Paulo, realizado curso com Hedva Megged, Guida vem expondo desde 1979. Só este ano, já fez três exposições: no Salão Curitiba Arte II (onde conseguiu menção honrosa), no Salão Brasil Acadêmico de Artes Plásticas, em São Paulo e, agora, a individual no Interior.
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