Paranaense Regina traduz as indicações de Cleo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de setembro de 1988
Embora residindo em Paris há alguns meses, Regina Abujamara Machado, paranaense de Jacarezinho, continua a ser requisitada para a tradução de livros. Um de seus últimos trabalhos é "Assoa o Nariz, Cleópatra", de Françoise Xenakis (Editora Rocco, 223 páginas, Cz$ 2.200,00).
A autora, Françoise Xenakis, começou a se tornar conhecida no Brasil com "Ih, Esqueceram Madame Freud". Agora, a escritora grega radicada na França, revela facetas no mínimo curiosas da personalidade da rainha do Egito, valendo-se de minuciosas pesquisas e, é claro, muita imaginação. O book-review Lauro Lisboa Garcia, de O Estado de São Paulo, observou com relação a este livro traduzido por Regina Machado: "Françoise confirma sua habilidade em cutucar os mitos com vara curta, como fizera em "Ih, Esqueceram Madame Freud", em que coloca em evidência as obscuras mulheres de Mhaler, Marx, Sócrates, Freud e Victor Hugo. Agora invade a intimidade de Cleo(patra) com um incrível senso de humor, mexendo novamente com detalhes que feriram os brios das mais vaidosas (Madame Freud era uma comilona e vivia engordando): flagra Cleópatra servindo um pêssego a César, então seu amante, com unhas quebradas e pretas de sujeira".
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Enquanto o novo romance de Jorge Amado só sairá em outubro - (os originais foram concluídos há poucas semanas e entregues ao editor Alfredo Machado na semana passada, durante sua badalada presença na Bienal do Livro, em São Paulo), o grande evento promocional da Record foi o lançamento do novo livro de memórias de Zélia Gattai, esposa de Jorge: "Jardim de Inverno" (230 páginas). Após "Anarquistas, Graças a Deus" (1979), adaptado inclusive para mini-série da Globo, "Um Chapéu para Viagem" (1982) e "A Senhora Dona do Baile" (1984), Zélia Gattai oferece mais um volume memorialístico, no qual mostra a simplicidade de quem se propõe a contar histórias, o que - como diz a própria editora, no material promocional - "traz a ausência de truques, e sinceridade e o humor que fizeram de Zélia uma das mais divertidas contadoras de histórias da nossa literatura".
O jardim de inverno a que o título se refere é o salão do Palais de L'Elysee, onde Jorge Amado recebeu do presidente François Miterrand, no outono de 1984, a Legião de Honra, no grau de comendador. "Naquele momento, o presidente Miterrand como que pedia desculpas em nome do povo francês pela perseguição imposta ao escritor e deputado cassado brasileiro Jorge Amado, que no fim da década de 40 fora proibido de permanecer no território francês. A lembrança de um dos momentos mais felizes do casal Jorge Amado e Zélia Gattai desencadeou uma torrente de outras lembranças de um passado mais distante - e infelizmente - mais frio. Apesar de terem sido anos duros, o regresso a esse período não é amargo. Através das narrativas de Zélia Gattai, as situações mais insólitas, os perigos, os meandros burocráticos dos países socialistas, o olhar de suspeita dos países do Ocidente, atenuados pelo tempo e entoados pela voz que já conhecemos, adquirem a doçura de um canto, talvez a mesma doçura das cantigas que ninaram João Jorge e Paloma, nascidos na época, sem perder o conteúdo histórico que faz dos livros de Zélia obras indispensáveis tanto para estudiosos quanto para quem procura entretenimento".
Otto Lara Rezende, apresentando "Jardim de Inverno", diz:
- "O contraste acentua o sabor das histórias de Zélia Gattai, leal escudeira de Jorge Amado, um Quixote que, sem deixar de ser fiel a si mesmo, jamais perdeu também a fidelidade aos valores de sua formação - voltada para a justiça com liberdade".
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Na época em que o departamento de Estado tinha generosos orçamentos para a USIS atuar no exterior, o escritório de Curitiba fazia a distribuição de livros relacionados a cultura americana. Hoje inexiste a presença americana no Paraná, em termos diplomáticos e culturais - e o Centro Cultural Brasil-Estados Unidos é, no máximo, um curso de línguas que busca a rentabilidade. Por isso, uma obra como "A Literatura Americana Pós 1945", de Robert Kiernan (Nórdica, 212 páginas) que, nos tempos em que Júlio Neto dirigia a USIS, teria ampla distribuição, fica restrita a quem se disponha a pagar Cz$ 1.590,00 para adquirí-la. Mas vale a pena! Trata-se de um livro de linguagem atraente, no qual Kiernan faz uma revisão das tendências e movimentos literários dos últimos 40 anos, focalizando não apenas os grandes nomes (Saul Below, Norman Mailer, Truman Capote, Joyce Carol Oates, James Baldwin, Tennessee Williams, Eugene O'Neil, Arthur Miller) mas também autores significativos mas menos populares. Robert Kiernan é autor de um estudo profundo sobre Gore Vidal e colabora com a "Enciclopedia of World Literature in the 20th Century".
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Roberto Menna Barreto tem livros curiosos ligados a comunicação como "Análise Transacional da Propaganda" ou "A Magia Transacional da Flauta Mágica" , no qual deu um novo enfoque à célebre obra e à personalidade de Mozart. Seu "Criatividade em Propaganda" se tornou um livro de cabeceira de tantos publicitários que já está na 6a. edição. Agora, traz um novo e curioso ensaio: "Berlim, Um Muro na Cara" (Summus Editorial, 144 páginas, Cz$ 1.390,00). Com o título de "Surrealismo e Contra-senso na Capital do Desencontro", Menna Barreto faz uma análise de Berlim, "uma cidade seccionada por um monstruoso out-door de concreto, cuja mensagem está escrita, nos dois lados, na linguagem do non-sense, do modo encoberto pelas razões do Estado, do humor com última instância, do pesadelo e da loucura", ou seja, de um lado e de outro, a vida se adapta alienadamente, a essa incongruente e cruel participação - cada metade usando seu próprio ferramental cultural e ideológico, cada qual pretendendo a insanidade suprema: a "inexistência" da outra. Roberto Menna Barreto, 53 anos, oferece neste livro uma visão diferente e, de certa forma, bem humorada, de uma cidade-problema que já tem ampla bibliografia - em todos seus aspectos. Mas a qual ganhou, agora, um enfoque novo de um analista brasileiro.
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Procurando diversificar cada vez mais seu catálogo, a Imago traz um novo romance de Lisa St. Aubin de Téran, 35 anos, de quem já havia publicado "Guardiões da Casa". Em "Trem Parador para Milão" (268 páginas, tradução de Alfredo Lemos) centra a ação de sua história sobre um quarteto que, numa viagem de trem, de férias entre Paris e Milão, envolve-se numa situação tensa e inesperada. Lisa Téran, a autora, viveu com o marido, um exilado venezuelano, na américa latina e hoje reside em Norfolk, na Inglaterra.
LEGENDA FOTO - Lisa Téran: segundo livro no Brasil
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