Cleto, em Brasília, traduz o grande poeta colombiano [venezuelano]
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de setembro de 1988
Cleto de Assis sempre foi um múltiplo e inquieto criador. Artista plástico, designer, animador cultural, editor, jornalista, jamais deixou de desenvolver projetos diversos - e como executivo fez marcantes trabalhos na Universidade Estadual de Londrina, na Secretaria de Comunicação Social (no segundo governo de Ney Braga) e também em Brasília, cidade na qual voltou a residir há quatro anos.
O lado editorial sempre atraiu Cleto que, ao lado de outra personalidade de alta voltagem criativa, Filomena Gebram, editou em Curitiba a melhor revista cultural já feita entre nós - a Forma, que, infelizmente, ficou em apenas dois históricos números.
Agora, em Brasília, atuando tanto na criação de jóias como em projetos de comunicação, Cleto retoma projetos editoriais. Apaixonado leitor de literatura latino-americana, casado com uma jornalista e intelectual colombiana, Maria Teresa, Cleto traduziu poesias de Vicente Gerbasi (Canoabo, Venezuela, 2 de junho de 1913), que apesar de ser um dos mais importantes autores daquele país permanecia desconhecido no Brasil.
Cleto não apenas fez uma cuidadosa tradução de "Os Espaços Cálidos", de Gerbasi, para uma edição bilíngüe com apêndice biobibliográfico e de referências sobre o autor e sua obra, como coordenou o planejamento e a programação visual da edição, volume 2 da coleção "NoSSAmérica" (Fundação Cultural Nossa América, caixa postal 7057, CEP 71600, Brasília), iniciada no ano passado com a edição de Antologia Poética de Eduardo Carranza. A importância poética de Gerbasi é destacada em texto introdutório de Sérgio Faraco, de Porto Alegre, que há anos estuda o autor venezuelano, autor de quase duas dezenas de obras, muitas traduzidas em vários idiomas, mas que até agora permaneciam desconhecidas no Brasil. Graças ao entusiasmo de Cleto de Assis, 46 anos, paranaense de Paranaguá, sua poesia passa agora a ser conhecida entre nós. Numa introdução aos poemas, Cleto expõe a importância da poesia de Gerbasi, que define como "o poeta dos sentidos".
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Paralelamente à tradução e editoriação de "Os Espaços Cálidos", Cleto também fez a capa e a supervisão gráfica de um livro com temática política: "Jânio, Jango & Cia.", do jornalista Luiz Adolfo Pinheiro (Eco Editora, 93 páginas).
Mineiro de Prados, 48 anos, Luiz Adolfo Pinheiro é jornalista dos mais conhecidos, com muitos amigos no Paraná. Atuou em vários veículos em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, onde reside desde 1970. Foi vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (1966-68) e superintendente da Empresa Brasileira de Notícias (1979-1982). Atualmente é redator do Correio Brasiliense, e tem três outros livros editados - "A Consciência Nacionalista" (1971), "A Política Demográfica Brasileira" (1977) e "Brasilíadas" (poemas, 1985). Além deste "Jânio, Jango & Cia." - agora lançado - escreveu "A Queda de Jango", programado pela mesma Eco Editora nos próximos meses.
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A reunião de artigos, revistos e ampliados, publicados no Correio Brasiliense e no Jornal de Brasília, entre 1976/1987, mereceram uma introdução do decano do jornalismo político no Brasil, Carlos Castelo Branco, que lembra o fato de que "sua análise é abrangente e não se limita aos acontecimentos superficiais. Ele tenta, por exemplo, demonstrar que a causa da renúncia de Jânio foi sua política externa, fato que desencadeou uma crise sob o signo da qual ainda vive a nação. Depois de valorizar a "bandeira do governo Jango", ele situa com objetividade as causas imediatas da sua deposição (comício do Rio, marcha da família, revolta dos marinheiros) e traça por antecipação os caminhos do regime militar".
Aparentemente distantes, os fatos abordados por Luiz Adolfo em seu livro são merecedores de revisão - e, especialmente, de conhecimento dos mais jovens, para entender melhor a nossa política. Afinal, Jânio vem aí, 28 anos depois, como candidato a Presidente da República.
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