Geléia Geral - Da volta de Taylor à dupla do Sudoeste
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de janeiro de 1986
Animado pelo sucesso que fez no Rock In Rio, há um ano, o suave baladista James Taylor, 38 anos, criador de muitos êxitos nos anos 60, voltou a um estúdio para fazer um novo LP. Reunindo desde uma revisão da balada "The Man Who Shot Liberty Valance" que Burt Bacharach e Hal David compuseram em 1962 para o clássico western "O Homem Que Matou O Fascínora" de John Ford, até uma (dispensável) homenagem ao Brasil ("Only a dream in Rio"), James prova que é um dos poucos e sólidos talentos que sobreviveu ao comercialismo do rock. James canta suave e bonito, busca temas interessantes e se preocupa com poesia em suas canções.
Nesta produção ("That's Why I'm Here", CBS), recorreu a bons músicos, incluindo nomes conhecidos como Grahm Nash (violino) e David Sanbon (sax) em "The man who shot..." ou aos brasileiros Eliane Elias (piano) e Airto Moreira (percussão) na homenagem carioca ("Only a dream in Rio"). Harmonioso e suave - com faixas como "Song for you far away", "Turn Away", "Limousine Driver", entre composições recentes, ou revisitando temas de outros autores - "Going Around One More Time" (Livingston Taylor, 1978) e "Everyday" (Norman Petty/Charles Hardin, 1957), James Taylor mostra estar em ótima forma e merece aplausos nesta segunda etapa de sua carreira.
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Em 1984, o crítico Zuza Homem de Mello, da Jovem Pan - cuja abertura musical vai do heavy metal ao samba tradicional, indicou Billy Idol como a revelação americana. E se em seu primeiro lp lançado no Brasil, Billy poderia chocar os ouvidos menos adeptos do som pop, agora, em um novo álbum ("Vital Idol" RCA), este compositor-intérprete traz um punhado de músicas mais suaves.
Chegando a devaneios instrumentais em alguns momentos, Billy é quase intimista ("Love Calling, "Dancing With Myself"), mas sem deixar de ter a energia ("Hot In the City", "White Wedding", em duas partes), que o aproxima seguramente do público jovem. "Dancing With Muyself", aliás, já era uma faixa conhecida do repertório de Billy Idol, agora remixada e com novo balanço.
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Bonita, sensual, famosa desde o estouro de "Physical" (1981) - um exemplo de rock em 33 orgasmos por minuto - a anglo-australiana Olivia Newton John se tornou a queridinha da América ao estrelar a versão para o cinema do musical "Grease" (1977, com John Travolta) e, voltando depois em "Xanadu", já como veterano Gene Kelly. Mas há 14 anos, Olivia já ganhava o seu primeiro Grammy (como vocalista country) e assim, sua carreira é extensa - com raízes na música de Bob Dylan, autor de "It's Not For You", a canção que a projetou internacionalmente. Agora, estreando na Mercury (no Brasil Polygram), em "Soul Kiss", Olivia teve uma cuidadosa produção de John Farrar, numa amostragem de canções novas e insinuantes, embaladas em ritmo pop: "Toughen Up", "Emotional Tangle", "Overnight Observation" e "You Were Great, How Was I?" (esta em dueto com Carl Wilson), entre os momentos mais interessantes. Na capa e contracapa, fotos mostrando que Olivia, aos 34 anos, continua a ser antes de tudo uma cantora de belíssimo visual.
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Só agora, ao chegar ao sexto lp, o Crush, ex-Orchestral Manouvres In The Dark, chega ao Brasil. Andrew Catlin, Malcolm Homes, Martin Cooper e os Highland Weir Brothers formam este conjunto de popularidade na Inglaterra, com lps bem vendidos nos EUA ("Dazzle Ships", Junk Culture"), mas que, salvo engano, só agora é testado em nosso mercado. Andrew Catlin, líder do grupo explica que o OMD/Crush buscou fazer músicas de grande presença, como "88 Seconds", que assim é historiada:
- "Uma verdadeira trilha sonora de um fato ocorrido em Gainsboro, EUA: uma manifestação de um grupo de negros contra a Ku Klux Klan, que acabou em muita violência."
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Moraes Moreira acredita ainda na música de Carnaval. Assim está na praça com um compacto simples, com um frevo superefervescente, "Cara de Robô", em parceria com Fausto Nilo. No outro lado, "República da Música", que arremata o clima deste Moraes Carnaval Moreira 86: um samba incrementadíssimo e que pode acontecer.
Outro compacto na praça: a Philips lançou "Condor", que Oswaldo Montenegro levou ao Festival dos Festivais. No outro lado, "Aos Filhos de Sagitário", extraída de seu lp zodiacal, lançado há 3 anos passados.
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Mais um grupo pop na praça: Front. Formado por Kudu (bateria), Ricardo (guitarra), Mani (guitarra) e Rodrigo (baixo e vocais), em produção de Leo Jaime, atacam com "Dengosa" e "Olhos de Gata". Produção da CBS.
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Edgar Bueno, 34 anos, é proprietário da maior loja de discos do Interior do Paraná: sua Discolândia, em Cascavel, vende milhões de discos especialmente da área nativista, considerando a influência gaúcha na região. Edgar - que preside a Associação Comercial e Industrial de Cascavel, pensa, inclusive, em patrocinar um festival nativista, já que o Fercapo, organizado pelo Tuiuti E.C., que caminha para a 16ª edição, tem uma preocupação urbana. Edgar também produz eventualmente discos com artistas regionais, com público que compensa o investimento.
No ano passado, através da Continental, lançou "Grito de Guerra", da dupla Renato e Rodrigo, de Assis Chateaubriand. A dupla teve numa balada, homenageando ao falecido presidente Tancredo Neves - e que dá título ao disco - a faxia forte deste lp de raízes simples e que só regionalmente já tem uma absorção que justifica a sua produção.
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