Olivia, a voz suave no Paiol
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de dezembro de 1984
Olivia Byington, cantora que se apresenta no Teatro do paiol, a partir de amanhã (21 horas) é uma cantora que tem dividido opiniões e críticas nos últimos meses. De um lado fez um show que em São Paulo mereceu alguns comentários azêdos, inclusive de Zuza Homem de Mello, da Jovem Pan e "O Estado de S. Paulo". Por outro lado, seu timbre especialíssimo de voz a fez ser incluída num dos mais originais concertos produzidos por Mário Aratanha neste ano - ao lado de Turíbio Santos, aliás, diz que a voz de Olivia está entre as mais perfeitas - e uma das raras cantoras no Brasil capaz de fazer um dueto com violão.
Jovem, bela, inteligente - com um sobrenome de origens fonográficas (afinal a família Byington está há mais de 50 anos ligada a Continental, ex-Colúmbia), Olivia ao surgir na vida musical - e lá se vão quase dez anos - o fez num disco avançadíssimo para a época. Seu aparecimento foi como uma espécie de mesa da Barca do Sol, grupo instrumental formado por jovens instrumentistas cariocas que participando do último Curso Internacional de Música realizado em Curitiba (janeiro de 1974), tiveram aulas com Egberto Gismonti e partiram para um trabalho vanguardista, registrado em três elepês. Hoje, os já adultos ex-integrantes da Barca do Sol estão espalhados em diferentes atuações. Olivia após sua estréia em "Corra o Risco" (1978), fez um segundo álbum, igualmente avançado para a época: "Anjo Vadio" (1980).
Há dois anos, bem mais amadurecida e entusiasmada com a música latino-americana, gravou seu elepê ("Identidade", 1982) em Cuba e, finalmente, este ano, o muito aguardado "Música". Por seus recursos vocais, reconhecido bom gosto e preocupada sempre em oferecer novas propostas sonoras, esperava-se muito deste novo trabalho - e o fato de ter feito umas abertura parra rock'n roll, gravando músicas de Cazuza ("Bilhetinho Azul" e "Todo Amor Que Houver Nessa Vida") trouxeram uma certa frustração aos que aguardavam algo mais consistente de quem tanto tem a oferecer. Prova do prestígio de Olivia é que foi uma das poucas intérpretes jovens convidadas por Antonio Carlos Jobim para participar da série de programas que fez para a TV, há poucas semanas.
Se aquela faixa de público mais amadurecida (e exigente) recebeu com restrições o "Música" da Olivia Byington-84, em compensação ela - como uma vocalista que ainda não chegou a casa dos 30 anos (muito pelo contrário) busca, saudavelmente, a platéia jovem. E este é o público que deverá ser atraído para os shows que fará a partir de amanhã no Paiol, onde mostrará um repertório diversificado, com músicas como "Ponta de Fio" de José Renato - ex-Boca Livre, hoje em carreira solo, e um artista de raízes curitibanas: aqui vivem seus pais, Simão e Marlene Moskolevich.
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