No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de fevereiro de 1988
Sexta-feira, 5, Zuza Homem de Mello despediu-se dos seus milhões de ouvintes pela Jovem Pan, em São Paulo. Depois de dez anos de liderança no horário da tarde, apresentando um dos mais movimentados programas do rádio brasileiro, Zuza decidiu partir para outros projetos a começar pela produção de uma super excursão de Milton Nascimento ao Japão, em maio, e a escrever um novo livro sobre MPB.
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Expert em jazz, ex-presidente da Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira, Zuza encontrou uma forma original para deixar o rádio: apresentou as "sete músicas preferidas". Que são, em seu entendimento, as seguintes: "Wave" (Tom Jobim); "Qu'rest t'ill de nous Amour" (Charles Trenet), "Stardust" (Carmichael); "Trocando em Miúdos" (Chico / Francis Hime); "Certas Canções" (Milton / Tunai); "A Day in the Life" (Lennon / McCartney) e, na área clássica, "La Habanera", da ópera "Carmem" (Bizet).
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Sábado, meio dia, Boca Maldita: PT, PDT, PCB e PC do B fazem um comício contra tudo e todos. Menos de 50 pessoas escutam os inflacionados e furiosos oradores. Numa banca de jornais, defronte o edifício Arthur Hauer, três estudantes comentam: "Mas qual é a deles, será que alguém tem paciência ainda para discursos?"
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Mais adiante, em outra banca, dois senhores na faixa dos 50 anos, comentam: "Quero ver na hora das eleições! Quando aparecer um candidato a vereador ou a deputado, vou perguntar o que foi que os atuais ocupantes do poder fizeram além de legislar para obter salários de Cz$ 500 mil!".
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A decepção é total! Será difícil aos partidos políticos conseguirem motivar o eleitorado, nas próximas eleições.
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Depois de publicar quatro livros de poemas, Gladys Gama França ataca agora de pintora: foi a segunda a se inscrever no próximo Salão de Arte Alcy Xavier. Gladys também está no comércio de jeans: inaugurou a loja da Ferrari (Rua 24 de Maio, 1938), griffe pertencente aos seus ricos irmãos da cidade de Campos, no Estado do Rio.
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Foi uma nova editora, a Busca Vida, de São Paulo, que teve a boa idéia de reunir as criações de Péricles para mostrar à nova geração a importância crítica do "Amigo da Onça" nos anos 50. O prefácio do livro é de Millor Fernandes, que foi colega de Péricles na redação da revista "O Cruzeiro".
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O público interessado em ópera está aumentando: além das edições fonográficas (a Polygram, por exemplo, acaba de lançar uma nova gravação de "Un Ballo in Maschera", de Verdi, com Pavarotti e Margaret Price), também livros-referências estão tendo boa aceitação: o referencial estudo crítico de Zito Batista Filho (Nova Fronteira) já esgotou a primeira edição e agora saiu o "Dicionário da Ópera", de Charles Osborne (com verbetes brasileiros a cargo de Marcos Góes, Editora Guanabara, 466 páginas, Cz$ 1.490,00).
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