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Aramis

The ladies sing the blues

Quando se fala em Blues, lembra-se de suas duas "mães". As duas maiores cantoras de blues Ma Rainey e Bessie Smith. A primeira nasceu Gertrude Malissa Pridget em 1886, em Columbus, Georgia, começou a cantar aos 12 anos e gravou pela primeira vez quando tinha 37 anos (ao todo fez 45 discos com 90 canções), chegando a ser acompanhada por jazzmen famosos como Coleman Hawkins, Fletcher Henderson e Louis Armstrong. Após a morte de sua mãe, em 1933, Ma Rainey se afastou da música e faleceria em 22 de dezembro de 1939. Bessie Smith (Elisabeth S. Smith, Chattanooga, Tennessee, 15/4/1894 - Clarksdale, Missouri, 26/9/1937) aos 9 anos já cantava nas esquinas de sua cidade natal. Como era bonita, tornou-se dançarina e, mais tarde, trabalhou com Ma Rainey. Em 1923, contratada pela Colúmbia, gravou "Downhearted Blues", composição de outra cantora, Alberta Hunter (1897-1984) - que vendeu mais de 780 mil cópias, um sucesso estrondoso para a época. De 1923 a 1933, Bessie gravou 180 canções para a Colúmbia (reeditadas nos anos 70 em 5 álbuns duplos) e se tornou uma estrela famosa. Bessie morreu num acidente de automóvel, durante uma excursão pelo Sul. Segundo a lenda, o hospital para onde a levaram não admitia pacientes de cor, mesmo em estado de emergência e ela teria sangrado até morrer. Seu biógrafo Chris Albertson contesta esta versão - mas que foi a que ficou. Ma Rainey e Bessie Smith foram, assim, as grandes cantoras de blues - praticamente fixadoras de um estilo, ao qual, dezenas de outras se voltariam. E de todas as que tiveram esta influência, nenhuma foi mais profunda, dramática e emotiva que Billie Holiday (Baltimore, 7/4/1915 - Nova Iorque, 17/7/1959). Uma vida intensamente dramática - relatada em livro ("The Lady Sings The Blues"), que traduzido no ano passado e editado pela Brasiliense, fez com que seu público aumentasse no Brasil. Há 10 anos, sua vida já havia sido levada ao cinema, num filme belíssimo que aqui se chamou "O Ocaso de Uma Estrela", no qual, a cantora Diana Ross no papel título, teve uma interpretação tão perfeita que mereceu indicação ao Oscar de melhor atriz (perdendo para Liza Minelli, em "Cabaret"). Violentada na infância, internada num reformatório, vítima de drogas, perseguida pela polícia, Blli Holiday morreu ainda jovem e em condições dramáticas. Deixou, entretanto, uma extensa discografia, que tem sido, há 27 anos - desde sua morte - reeditada, em álbuns-montagens das mais diversas formas. A Colúmbia lançou várias de suas gravações em duas caixas ("The Golden Years"), mas, infelizmente, no Brasil, a CBS não se animou em trazer este material. Mas Billie tem um público seguro entre nós, ainda mais agora, com o sucesso de sua autobiografia. Jonas Silva, da Imagem, através da Everest, tem editado alguns discos de Billie - o último dos quais saiu no final do ano passado ("Stormy Weather"). Gravado ao vivo, em duas sessões, entre 1957/58 - já, portanto, no final de sua vida, tem ainda uma força magnífica, com "Lady Day" interpretando clássicos como "Easy To Remember" (Rodgers/Hart), "Ghost of a Chance" (Ned Washington/Victor Young), a faixa que dá título ao disco "Stormy Weather" (Keehler/Arlen) e a sua própria composição, "Fine and Mellow". ARETHA SINGS THE BLUES - Aretha Franklin (Memphis, Tennessee, 1942) teve sua iniciação musical cantando gospel sob a orientação de seu pai, o reverendo C.L. Franklin. Assim, ainda adolescente, gravou música litúrgica para os Chess Records. Quando tinha 18 anos, em 1960, John Hammond contratou-a para a Colúmbia Records. E desta fase inicial na carreira - injustamente esquecida depois que Aretha se projetou como cantora de estilo mais moderno (chegando quase a arriscadas tentativas semipop), o produtor Joe McEwen extraiu o material para um LP maravilhoso, que aparece agora no Brasil, dentro da "Collector Jazz Series". O lado um do álbum foi registrado numa boate de Nova Iorque, em 10 de fevereiro de 1965, tendo o acompanhamento de apenas um quarteto. Aretha traz sob controle o tipo de paixão e intimidade que só voltariam a se manifestar em "Young, Gifted And Black", cinco anos depois, "Without In The One You Love" é magistral. Outros pontos altos incluem "Take a Look", a poderosa melodia de Clyde Otis (um subestimado autor de canções populares) encanta "de modo convincente e doido" diz McEwen, como também sua esmagadora versão de "Only The Lonely", que foi a música-título do melhor LP da carreira de Frank Sinatra. As canções que Aretha canta - sejam as das gravações ao vivo, em fevereiro/65, sejam as de outras sessões (julho/64, junho/63, fevereiro/64) não são hits conhecidos. Mas são intensamente belas, com a força da terra, dos sentimentos ("Laughing On The Outside", "Nobody Knows The Way I Feel This Morning"), fazendo deste um disco de primeiríssima ordem para quem curte o blues - não na forma primitiva (mas como era bonito!) de Ma Rainey ou Bessie Smith, mas já com os recursos tecnológicos, para gravações mais perfeitas, de nossa época.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
8
12/01/1986

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