Giavarina: um bom ano
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de janeiro de 1985
O deputado Valmor Giavarina tinha razões de sobra para abrir vários litros de Moet et Chandon, no sofisticado reveillon que ofereceu aos (muitos) amigos. Afinal, 1984 foi um ano positivo para esse parlamentar, que vem se destacando em Brasília, assim como já havia conseguido se projetar, como prefeito de Apucarana e deputado estadual, nos anos 60/70.
Vice-líder do PMDB na Câmara Federal, cabeça de fila do grupo Só-Diretas, atuante no plenário e nas comissões, Giavarina resistiu, bravamente, ao assédio dos malufistas e só tancredou quando as diretas caíram em exercício findo. Além disso, encerrou o ano com mais dois sucessos. Primeiro, completou um modesto (mas importante) trabalho acadêmico-político sobre a Constituição, que lhe rendeu uma carta elogiosa do dr. Tancredo Neves e que ele, esperto, anexou à publicação. O outro sucesso (pequeno ou grande, dependendo da forma que se interprete) foi sua eleição para a presidência do Clube do Congresso.
O clube reúne os funcionários das duas casas legislativas. Mandato de dois anos. Mas o interessante é que, na chapa de Valmor Giavarina, está também o brilhante e ascendente Fernando Henrique Cardoso, que ocupa a modesta 2ª vice-presidência.
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Um parentesis para Fernando Henrique (que há algum tempo este no Paiol, participando de uma "Parceria" com o chargista Zélio), candidato (forte) a candidato ao governo de São Paulo. Professor universitário, sociólogo, mais de dez livros publicados, é "um grande intelectual que não tortura a última flor do Lácio e que teve a coragem de recusar um convite para integrar o finíssimo e fechadíssimo Collége de France", explica outro intelectual brilhante, o iratiense Carlos Alberto Pessoa, amigo pessoal tanto de Giavarina, como de Fernando. Diz mais o sempre bem informado Pessoa:
"O College de France – que Fernando Henrique recusou – abriga o que há de melhor, a nata da nata da intelectualidade francesa, pessoas como os falecidos Aron, Barthes, Foucault, Merleuau Ponty e ainda vivos como o Lévi-Strauss".
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Um detalhe que é necessário lembrar: a criação do Clube do Congresso foi iniciativa de Mário Gomes, um militar que fez carreira política e que começou em Curitiba, onde viveu alguns anos. O mesmo Pessoa, historiador da boemia e da intelectualidade tupiniquim, recorda que Mário Gomes, "na década de 60, podia ser visto na última mesa, a grande, da saudosa Confeitaria Guairacá: tomava porres com um bando de puxa-sacos e uma figura que até hoje não consigo esquecer, o velho, elegante e excêntrico mister Davis, um inglês incrível que ensinava sua língua aos nativos e andava pelas ruas sempre de guarda-chuva e com um enorme lenço no bolsinho, além, é claro, do terno e gravata. Que fim levou mister Davis?"
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Em linguagem didática e objetiva (afinal foi um discurso pronunciado na Câmara, em 17 de setembro do ano passado), Giavarina começa nas origem e evolução do constitucionalismo, analisa as Assembléias Constituintes de 1823, 1891, 1934 e 1946, para enfocar o Poder Estadual, o Poder Constituinte e o Poder Político, terminando com alternativas para a reforma constitucional. Uma bibliografia com a citação de 14 autores mostra que o trabalho foi muito bem estruturado.
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Ah! Mais um detalhe: Giavarina é um dos políticos que mais gozam da simpatia do presidenciável Tancredo Neves. O que pode lhe garantir vôos de maior altura nos próximos meses.
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