Gillespie, antes de tudo o profissional
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de fevereiro de 1989
Dizzy Gillespie, 72 anos, o último dos grandes nomes do jazz ainda em atividade, foi um dos poucos dirigentes de bandas jazzísticas a apoiar Parker em suas horas mais difíceis. Numa cena de "Bird", na praia de Santa Mônica, Califórnia - na fracassada tentativa de levar o bebop à West Coast - ele fala da importância do músico ser responsável, principalmente quando negro ("pois é isto que eles querem: que mostremos ser irresponsáveis"). Gillespie, inimigos de drogas e do álcool, foi um dos sobreviventes da geração de maior voltagem do jazz justamente por sua organização e caretice. Seu espírito profissional pôde ser observado em Curitiba, na noite de 10/12/1979. Contratado por um empresário abilolado, o mineiro Willi Butika, dividindo um super show "Projeto Arco-Íris" com o grupo de Hermeto Paschoal, a temporada começou mal em Buenos Aires, piorou em Porto Alegre ao ponto de Paschoal abandonar a tournée. Mesmo sem receber, pagando as despesas do próprio bolso, Gillespie e seu grupo chegaram a Curitiba e aqui fizeram uma histórica apresentação no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. Furioso - mas nem por isto menos genial no palco - repetia nos bastidores:
- "A vigarice não pode nos derrubar. O público não tem culpa".
Apesar do golpe (voltou aos EUA sem levar nenhum dólar), não deixou de retornar ao Brasil outras vezes.
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