Graças, o hotel e não um cemitério
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de outubro de 1981
A imaginação popular é grande e curiosa: a placa nominando de "Parque das Graças" a duas grandes torres que há anos vêm sendo construídas na avenida Manoel Ribas, em área que oferece uma privilegiada visão de Curitiba, fez com que crescesse a notícia: ali estariam os dois primeiros edifícios-cemitérios da cidade.
Na verdade, as duas torres de 20 pavimentos cada um, um apartamento por andar, tem uma estória longa e até emocionante, mas o boato de que seriam destinadas a guardar os restos dos entes queridos é digna da imaginação de Evelyn Vaughm, autor de um clássico romance satírico a respeito, "The Loved One" - filmado em 1964 pelo inglês Tony Richardson.
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Há mais de 10 anos, o engenheiro-construtor Alberto Munhoz (1908-1972), procurou o arquiteto Elgson Ribeiro Romes, convidando-o para projetar um edifício numa área muito especial que havia adquirido: uma quadra de 2 mil e quinhentos metros quadrados, na avenida Manoel Ribas.
Munhoz, que era um dos fundadores da Guttierrez, Paula & Munhoz, empresa que a partir dos anos 40 construiu centenas de prédios em Curitiba, incluindo os primeiros grandes "arranha-céus" (Marumbi, Santa Júlia etc), fixou a Elgson que com esta obra pretendia se afastar da incorporação imobiliária. E por isso, fazia questão que fosse um edifício especial, considerando que a visão que o local proporciona, do ponto de alto da cidade, é realmente única. Elgson iniciou o projeto propondo duas torres ocupando apenas 20% da área - e reservando 2000 metros para piscina, quadras de tênis, etc. Após conseguir aprovação da Prefeitura - o que não foi fácil, aconteceu a morte de Alberto Munhoz e a posterior diluição da firma.
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Posteriormente, um dos filhos de outros dos diretores da Guttierrez, Paula & Munhoz, Carlos Eduardo Itiberê, uniu-se à HD Construções, de Carlos Rego Almeida, e decidiu retomar a obra. Para poder fazer um projeto com características especiais, decidiram utilizar recursos próprios e não vender antecipadamente os apartamentos. Assim, a obra vem sendo tocada lentamente, mas com muitos requintes. Agora, com as estruturas prontas e em condições de ser concluída a curto prazo, muitas idéias começam a surgirem em termos de seu aproveitamento. Com o nome genérico de Parque das Graças - que, pelo sentido espiritual, levou a sugestão de que ali existiria o primeiro cemitério horizontal do Paraná - as torres, entretanto, homenagearão os construtores de muitos edifícios da cidade: Ney Itiberê e Alberto Munhoz.
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Uma das propostas levantadas para o melhor aproveitamento das duas torres, com um total de 40 imensos apartamentos, é a sua transformação num hotel de luxo. Tranqüilamente, seria um estabelecimento de categoria especial - já que cinco estrelas o nivelaria, por baixo, tais os requintes que o mesmo comportaria. Afinal, seriam imensas suítes, área especial para recreação e todos os serviços necessários.
A idéia é ótima, só esbarra num problema prático: até agora, não foi encontrado nenhum grupo com cacife econômico suficiente para bancar tal projeto. Afinal, empreendimentos do porte que Henry Makssould fez em São Paulo, com um dos melhores hotéis do mundo, não acontecem todos os dias.
Outra idéia é vender os prédios para o Governo - talvez a Copel, mas por enquanto há apenas cogitações. O fato é que o Parque das Graças não será - pois nunca foi feito para isto - o cemitério-horizontal, a respeito do qual muitos falam. Aliás, um astuto corretor, que já estava de olho nas vendas, comentava dias atrás:
- É pena. Tinha até gente bolando o slogan "garanta ficar pelo menos um pouco mais perto do Céu".
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