"Gráfica", a arte de Miran para exportação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de janeiro de 1984
ERIKA WUCHERPFENNING é uma simpática senhora de origem alemã, que há anos ganha a vida representando no Paraná uma firma especializada na importação de revistas e livros. Tem uma clientela de alto poder aquisitivo, da qual os melhores compradores são os publicitários, sabidamente hoje entre os mais bem pagos profissionais do País. E nenhum homem de criação gráfica é um freguês tão fiel de dona Erika como Oswaldo Miranda, o Miran, 36 anos, parnanguara que em 20 anos de Curitiba se firmou como o diretor de arte da melhor criatividade e com maior número de premiações. Depois de passar pelas melhores agências e de ter feito estágios no Rio e uma tentativa de se fixar nos EUA (fustrada pela falta do difícil green-card), Mirandinha é hoje dono de um estúdio sofisticadíssimo, na galeria Schaffer, onde atende a clientes muitos selecionados - e que pagam aquilo que seu talento vale. Em suma, trabalho não lhe falta - e sempre em termos de remuneração a altura de sua arte.
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Embora bem sucedido profissionalmente, Mirandinha não se satisfaz apenas em criar graficamente. Nele sempre existiu o espírito do editor e ao longo de sua carreira tem feito várias experiências, desde um jornal do litoral, até o projeto mais audacioso que já tentou - a revista "Gráfica", lançada há poucas semanas.
Com "A Raposa", nascida nas páginas do extinto "Diário do Paraná" e transformado em tablóide autônomo com os recursos da Fundação Cultural de Curitiba, na época em que um dos maiores fãs de Miran, o também publicitário Sergio Mercer, a presidia, ele pôde dar continuidade a muitas idéias. Mas é agora, em "Gráfica" que Miran faz um teste definitivo se há ou não condição de sobrevivência no Brasil uma revista sofisticadíssima, de primeira qualidade e destinada a um público de elite.
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Apesar de sua timidez pessoa, Oswaldo Miranda é corajoso editorialmente. E a amizade e admiração de influentes publicitários - como Eloy Zanetti, ds Umuarama Propaganda - o homem que decide a programação dos milhões de verba publicitária do grupo Bamerindus - garantiu a Miran os quase Cr$ 8 milhões necessários para imprimir o número uma da "Gráfica", publicação que pretende ser trimestral e que com o primeiro número angariou algumas centenas de assinaturas (Cr$ 30 mil cada) entre os publicitários brasileiros. Em português e inglês, formato 26 x 27 centímetros, 100 páginas, papel da melhor qualidade e, sobretudo, uma confirmação internacional da qualidade técnica da indústria gráfica e de fotolitos paranaenses já que foi totalmente executada em Curitiba. Silenciosamente, como é de seu feitio, Mirandinha trabalhou para montar esta publicação, que lança sem falsa modestia, visando o mercado internacional. Relacionadíssimo - se não pessoalmente, ao menos profissional e epistolarmente - com monstros sagrados da comunicação visual de todo o mundo, há alguns anos, Miran vem realizando na Acaiaca, com patrocínio do Bamerindus, mostras internacionais de arte gráfica. Agora, trimestralmente, sua revista estará publicando os melhores trabalhos de nomes famosos e começa com José Zaragoza (o "Z", da mais badalada agência de publicidade de São Paulo), que criou a capa e ganhou as 7 primeiras páginas para sua arte; Michael David Brown, de Washington - Baltimore (nove páginas); Bjarne Norking, um dinamarquês há 23 anos no Brasil, com uma série de posters; o espanhol Francesco Guittar com quatro páginas para seu design - A proporção que se folheia o "Gráfica", outros notáveis criadores da comunicação visual vão aparecendo: o paulista Rampazzo, o californiano Michael Manwaring, o americano Tim S. Girvin (com seu caligrafismo), a arte tipográfica de Herb Lubalin e Tom Carnasé; as fotografias de J.R. Duran, espanhol da Catalunha que há 14 anos no Brasil vem fotografando as mais desejadas mulheres para a revista "Playboy"; o grafismo de Herbert Wenn, da Alemanha, e arte de Helga Miethke, publicitária, gráfica, desenhista e pintora de origem européia. Enfim, não faltam trabalhos magnifícos.
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Agora é torcer para que "Gráfica", que Miran produz e edita através de sua Art Shop, tenha longa vida. Uma revista de tanta categoria como esta, para circular mundialmente, precisa ser bem sucedida, para que não se continue a dizer que as iniciativas de gabarito, aparentemente elitizadas, não tem condições de sobreviver em nosso País. Bola pra frente, Miran, e continue a fazer gols certeiros.
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